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5.3 É UTÓPICA A ÉTICA DISCURSIVA?

No documento Weber e Habermas (páginas 81-83)

Habermas parece recusar-se a admitir que a ética discursiva é utópica, embora não sem incorrer em contradições (pelo menos aparentes)165. Entretanto, parece insustentável tal posição, pois “Por lo que se refiere al cargo de utopismo,

yo reconocería sin ambages (...) el carácter abiertamente utópico de toda ética comunicativa, e incluso el de toda ética sin más’’166. Com efeito, em argumentação

singela pode-se dizer que a ética trabalha com o dever-ser - em contraposição

164 "Tanto Apel como Habermas han ofrecido algunas de las razones de semejante reducción, que podrian resumirse en las siguintes: 1) una ética críf/co-universalista no puede ni quiere prejuzgar dogmaticamente la felícidad de los indivíduos, sino dejar la decisión en sus manos; 2) una ética oítico-universalista tampoco se conforma con el

relativismo al aceptar la pluralidad de formas de vida nacidas de los diferentes ideales de felicidad, porque admite y

potência las diversas ofertas de ‘vida buena’, pero no acepta diversos princípios de la justícia; en caso de conflicto entre distintas formas de vida, han de someterse a las restricciones ímpuestas por princípios universales, legitimadores de normas; 3) no son unicamente los filósofos quienes se piantean la pregunta por la vida feliz, sino también los psicoterapeutas, los teólogos, los literatos, los creadores de utopias imaginarias. Los modelos de felicidad no pueden, pues, universalizarse, ni exigirse y, por ello, trascienden el dominio de la ética" (CORTINA, ob. c/f., p. 285-286).

165 “De la incomodídad que el tema de la ‘utopia’ parece suscitar en Habermas podría dar idea el hecho de que en un mismo texto - aun si, lo reconozco, en diferentes contextos (...) nos encontremos con pronunciamientos tan aparentemente diversos como los que transcribo a continuación. 1o) ‘A buen seguro, el concepto de racionalidad comunicativa encienra una perspectiva utópica’; 2o) ‘El universalismo ético (que defiendo) posee un contenido utópico, pero no delinea una utopia'; 3o) ‘Nada me pone tan nervioso como la imputación (...) de que (...) la teoria de la acción comunicativa propone, o al menos sugiere, una sociedad utópica’. “ (MUGUERZA, ob. cit., p. 139).

166 Em livre tradução; “No que se refere ao traço de utopismo, eu reconheceria sem reservas ... o caráter abertamente utópico de toda ética comunicativa, e inclusive de toda ética em geral” (Idem, p. 126).

àquilo que é, ao ser - e como o dever-ser ainda não é, forçoso admitir o caráter utópico da ética discursiva, como bem salienta Cortina:

“Efectivamente, las éticas dialógico-transcendentales coinciden en proponer una ‘utopia’, que funciona como idea regulativa. Tal idea no es producto de una esperanza irracional, sino un concepto racional, necesario para comprender que los hombres se comprometan de hecho en una comunidad concreta de argumentación. La utopia, en este sentido, es, pues, un concepto que presta coherencia a la acción: es un concepto práctico. Se presenta como imposible a la razón teórica que, ligada a los sucesos espacio-temporales, es incapaz de trascender creativamente los limites de la experiencia: para la razón teórica lo utópico, lo no encuadrable en el espacio, es lo irracional. Pero la razón práctica no reconece la utopia porque es, por naturaleza, utópica. De ahí que provea cuantos conceptos sean necesarios para que no carezca de coherencia el obrar de los hombres. El descubrimiento dei carácter utópico de la razón práctica, incluso dei concepto práctico de una comunidad ideal, transcendentalmente necesaria, pertenece a Kant”167.

Há que se buscar um fundamento para conferir sentido à atividade ética, ou seja, esclarecer se efetivamente a ética é uma coisa desse mundo e dela pode-se extrair algum proveito, ou, ao contrário, trata-se de mera ocupação de sonhadores apaixonados, ante a impotência ética para fazer valer as suas normas. Com esse propósito, cabe enfatizar uma peculiaridade das ações morais, que ao contrário das ações estratégicas, não são medidas por sua utilidade ou por seu êxito. Veja- se o exemplo de Martin Luther King, cuja grandeza moral não decorre do sucesso

167 Em livre tradução: “Efetivamente, as éticas dialógico-transcendentais coincidem em propor uma ‘utopia’, que funciona como idéia regulativa. Tal idéia não é produto de uma esperança irracional, mas um conceito racional, necessário para compreender que os homens se comprometem de fato numa comunidade concreta de argumentação. A utopia, neste sentido, é, pois, um conceito que empresta coerência à ação: é um conceito prático. Apresenta-se como impossível à razão teórica que, ligada aos sucessos espaço-temporais, é incapaz de transcender criativamente os limites da experiência: para a razão teórica o utópico, o não enquadrável no espaço, é o irracional. Mas a razão prática não reconhece a utopia porque é, por sua natureza, utópica. Daí que proveja tantos conceitos quantos sejam necessários para que não careça de coerência o obrar dos homens. O descubrimento do caráter utópico da razão prática, inclusive do conceito prático de uma comunidade ideal, transcendentalmente necessária, pertence a Kant” (CORTINA,

político do princípio de não-violência adotado na luta pelo reconhecimento dos direitos civis dos negros168. 0 proveito que pode ser extraído da atividade ética é que ela “acicatea nuestra insatisfacción ante la situacíón actual de dicho mundo y

nos invita a no aceptar como incontrovertible su presente facticidad, la positividad de lo que el mundo es en este instante”169.

O acento utópico da racionalidade ético-discursiva não infirma por si só a validade da proposta, ante o caráter abertamente utópico da atividade ética, no

intuito de orientar o agir humano170

5 .4 - DOS CONDICIONAMENTOS SOCIAIS IMPRESCINDÍVEIS AO DISCURSO

No documento Weber e Habermas (páginas 81-83)