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Parte I: Prática de Ensino Supervisionada

Parte 2: Projeto de Ensino Artístico

1. Enquadramento teórico

1.4.1 Émile Jacques Dalcroze

“Dalcroze priorizava a integração da música e do gesto como algo indissociável e, para isso, enfatizava sempre a necessidade da fusão entre o corpo e a mente.” (Picchia, 2013)

Émile Jacques Dalcroze nasceu em Viena, em 1865, e faleceu em Genebra, em 1950. A sua vida musical começou logo desde infância onde desfrutou da atmosfera musical vienense até aos seus 10 anos, quando se mudou para Genebra, onde iniciou os seus estudos no Conservatório de Música de Genebra. Aos 19 anos, depois de ter estudado teatro e música, optou por seguir os estudos em música, em Paris. Durante aproximadamente 10 anos estudou e trabalhou com alguns músicos importantes, tais como Leo Délobes, Anton Bruckner e Gabriel Fauré e em 1892 regressou a Genebra como professor de Solfejo e Harmonia. Passou também pela Alemanha, onde continuou a desenvolver as suas ideias para o ensino da música, voltando para Genebra aquando da 1º Guerra Mundial. Em 1915 fundou o Instituto Jacques Dalcroze.

Segundo (Fernandes J. F., 2010) “o princípio básico do processo de educação musical de Dalcroze é sentir, viver, analisar e intelectualizar, tomando como ponto de partida a relação entre movimentação corporal e ritmo.”. Durante os primeiros anos do seu trabalho como professor, Dalcroze observou alguns comportamentos dos seus alunos e concluiu que “apesar de alguns alunos possuírem problemas musicais, eles eram capazes de caminhar ritmicamente. As dificuldades desses futuros musicistas levaram-no a efetuar várias investigações sobre a relação entre a música, o ritmo, os movimentos, a expressão” Madureira (2008) citado por Picchia (2013). Como o próprio afirma “a arritmia musical revelou-se como a consequência de uma arritmia geral, e sua cura pareceu-me dependente de uma educação especial a ser criada a partir do zero, visando ordenar as reações nervosas, ajustar músculos e nervos, harmonizar a mente e corpo.” (Dalcroze E. J., 1920)

Segundo o autor, o ritmo não fundamenta somente a música, mas é a base para toda a arte, a verdadeira expressão da vida, sendo a música uma arte com caráter

possuem ritmo musical instintivamente, mas não utilizam esses instintos em suas necessidades musicais”. Madureira (2008) citado por Picchia (2013).

Para Dalcroze, a educação musical deve ser usufruída por todos e deve complementar os movimentos que são naturais a cada pessoa, operando, como afirma Fernandes (2010) “sobre a vontade para coordenar as diversas funções vitais e desenvolver as qualidades que já possuem por meio de atividades que aperfeiçoem a visão, a audição e o tato e sua interação com as sensações e emoções.”

Os principais fundamentos da teoria de Dalcroze são:

1) a rítmica, que consiste no desenvolvimento rítmico através de movimentos corporais, conjugando a audição musical;

2) o solfejo, que consiste no desenvolvimento das capacidades auditivas e das relações tonais, através da voz;

3) a improvisação, tendo como base as noções adquiridas com a rítmica e com o solfejo, consiste no desenvolvimento da expressão musical, através do sentido tátil- motor.

Neste projeto coral, a rítmica foi o fundamento mais utilizado da teoria apresentada por Dalcroze, dadas as suas características práticas e a utilização do movimento como base da aprendizagem musical, ao invés da leitura de símbolos ou de outras estratégias que utilizam a visão como parte integrante dessa aprendizagem. Dalcroze (1920, p. 60) afirma que “o ritmo é uma forma de movimento, de natureza primária. Os estudos musicais devem, portanto, começar com experiências a nível de movimento.”

“A Rítmica, antes de mais nada, é uma experiência pessoal” Dalcroze (1909, p. 66) citado por Madureira. Segundo (Madureira, 2010) “a Rítmica é um sistema de educação musical que integra ritmo musical e expressividade do corpo, uma espécie de solfejo corporal destinado a despertar no corpo a consciência do sentido rítmico- muscular, fundamento da arte musical.”

Ainda acerca desta ideia Picchia (2013) cita Dalcroze,

“Concluí que, em música, tudo aquilo que é de natureza motriz e dinâmica, depende não somente do ouvido, mas ainda de um outro sentido, que pensei de início ser o senso tátil, já que os exercícios métricos efetuados pelos dedos favoreciam o progresso do aluno. Entretanto, observei as relações nas outras partes do corpo além das mãos, necessárias ao tocar piano: movimento do pé, oscilações do tronco e da cabeça, a movimentação de todo o ser, etc., o que me levou logo a pensar que as sensações musicais, de natureza Rítmica, revelam um jogo muscular e nervoso de todo o organismo”.

Segundo Dalcroze (tal como citado em Picchia, 2013), o objetivo da rítmica é “regularizar os ritmos naturais do corpo e graças à sua automação, criar imagens rítmicas definitivas”. Assim, através da prática de exercícios constituídos pelo

movimento corporal, é possível desenvolver um maior sentido e compreensão rítmica e expressão musical, próprio e espontâneo “facilitando aos alunos de música a experimentação pessoal das relações estéticas entre movimento e tempo (ritmo corporal) e movimento e espaço (forma espacial)”.

Os primeiros exercícios propostos por Dalcroze constituem-se em marchar ao ritmo da música (marches rythmiques), reproduzindo suas características, tais como a dinâmica, os acentos, os “crescendo” e os “diminuendos”. A marcha foi fundamental para as experiências de Dalcroze, pois devido à sua regularidade, funcionava como um metrônomo natural. Segundo o autor, ela fornece ao caminhante um modelo perfeito de medida e divisão de tempos iguais. Espera-se com esses exercícios que o aluno sinta a música e a incorpore. Além disso, eles possuem a finalidade básica de fazer com que o aluno seja capaz de reproduzir a música no espaço, de acordo com a estética ouvida, através de movimentos gestuais predeterminados ou até mesmo improvisados. Dalcroze estabeleceu as “leis de transferências dos pés”, baseadas em cinco passos de diferentes comprimentos.”

No seu livro, Dalcroze (1920, p. 78) propõe 22 exercícios específicos para educar o ouvido, o corpo e o espírito, alguns deles que serviram de guia para as sessões, que foram:

Exercícios de descontração muscular e respiração. Divisão e acentuação métrica.

Memorização métrica.

Conceção rápida do compasso através da visão e da audição. Conceção dos ritmos pelo sentido muscular.

Exercícios de equilíbrio corporal e para garantir a continuidade dos movimentos.

Realização de durações musicais.

Estudo das interrupções e paragens do movimento.

Acentuações “pathetique” – nuances de dinâmica e agógica (expressão musical)

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