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3 COMPETÊNCIAS PROFISSIONAIS EM REVISÃO

3.2 ÉTICA

O jornalista é um homem político, que transita em diferentes camadas da sociedade na direção de recolher dados, tratá-los e oferecer aos cidadãos uma informação credível, verdadeira e útil. Embora pareça um tanto romântica a descrição acima, em reflexão às amarras editoriais e interesses privados das grandes empresas de comunicação onde atua, o profissional ainda desfruta de um status social garantido proporcionalmente pelo respeito com que trata suas fontes, pela qualidade de sua investigação e, claro, pelo modo com que, na atualidade, se relaciona com os públicos que atinge. Em todas essas ações, é indissociável o seu “agir pela ética”.

Ao exemplo do que lembra Christofoletti (2008), o jornalismo não pode admitir mentira ou falseio, uma vez que sua prática social está alicerçada no bem coletivo e, para isso, os cidadãos necessitam de informações verdadeiras para tomar decisões a respeito dos acontecimentos. Trata-se de um pacto de confiança entre público e jornalistas. Um precisa do outro. Um se alimenta do outro na base da credibilidade, ou melhor, de uma ética que se pressupõe deva partir do profissional.

Aprendemos a entender o jornalismo como uma prática de busca da verdade, um conjunto de esforços para a transmissão de relatos que se apropriam de como os fatos aconteceram. Por isso, relacionamos os jornalistas a pessoas que prezam pela verdade e se regem por ela. Nesse sentido, a verdade é um valor extensivo a todos os cidadãos, mas entre os jornalistas parece pesar mais. Isso não significa que os jornalistas sejam mais verdadeiros do que as

demais pessoas. Mas transgredir neste terreno provoca consequências mais graves para estes profissionais. (CHRISTOFOLETTI, 2008, p.21).

Desígnios na legitimação como agente que promove mudança social, a credibilidade e o seu sistema de crenças próprias, são severamente confrontados pela comunidade onde atuam, e decisivos para garantir ou sinalizar a corrupção na essência da atividade jornalística.

Karam (1997) atenta que a ética do jornalista deve estar empenhada na garantia do direito social à informação e comprometida com o gênero humano e na apreensão do real autoproduzido pelos indivíduos, em contrariedade à opressão, dominação e manipulação e do desejo mascarado de uma informação “para todos”.

Nesse sentido, a busca pela verdade parece ser o bem mais caro e defendido pelos jornalistas e também por pesquisadores que colaboram na cristalização de uma teoria que dê conta de estabelecer uma deontologia própria (ibidem), exclusiva dos profissionais da informação, onde estejam previstos um pacote de valores e deveres que deveriam ser seguidos.

Investidos nesta missão – a de noticiar os fatos com o máximo rigor e veracidade possível – os jornalistas precisam abrir mão de si próprios (enquanto cidadãos comuns) para a condição de mediadores sociais íntegros, justos e distanciados de interesses comerciais, capazes de merecer o crédito por sua obra diante das audiências. Afinal, é por meio da credibilidade que a confiança se estabelece e, assim, os públicos decidem se acreditam ou não no que o jornalista relata.

Reflexo de uma classe que procura delimitar sua essência profissional, a Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), criada em 1946, cumpre papel na representatividade dos interesses e reivindicações dos profissionais, além de zelar por sua ética e liberdade de imprensa. É dela a atribuição de aglutinar sindicatos em diferentes âmbitos e promover o desenvolvimento de seus integrantes. Em estatuto, a entidade normatiza sua função. Entre elas está a de:

Lutar pela união e defesa dos direitos da categoria, buscando o desenvolvimento intelectual, profissional e as conquistas trabalhistas dos jornalistas brasileiros, zelando também pela garantia da liberdade de expressão. Trabalhar em conjunto com os sindicatos filiados, buscando também fortificá-los e ajuda-los a lutar junto às suas bases por estes objetivos, sempre resguardando em primeiro lugar os interesses da categoria. (FEDERAÇÃO NACIONAL DOS JORNALISTAS, 2006).

O Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros (FEDERAÇÃO NACIONAL DOS JORNALISTAS, 2007), baliza os principais compromissos e valores que os profissionais devem nutrir no exercício de suas práticas. Entre as recomendações sobre sua responsabilidade estão: 1) nunca agir com interesse pessoal ou buscando vantagem econômica; 2) ser favorável aos valores humanos; 3) buscar provas que fundamentem informações de interesse público; 4) tratar com respeito todas as pessoas mencionadas nas informações que divulgar; 5) defender a soberania nacional em seus aspectos político, econômico, social entre outros compromissos.

Na lista de deveres, o jornalista tem como princípios, divulgar os fatos e as informações de interesse público; lutar pela liberdade de pensamento e de expressão; defender o livre exercício da profissão; valorizar, honrar e dignificar a profissão; não colocar em risco a integridade das fontes e dos profissionais com quem trabalha; combater e denunciar todas as formas de corrupção, em especial quando exercidas com o objetivo de controlar a informação. E, ainda, respeitar o direito à intimidade, à privacidade, à honra e à imagem do cidadão, muito embora, conforme a linha editorial do veículo.

Ao sedimentar uma conduta, o código age – ou assim deveria – como um gene impresso no DNA dos jornalistas em prol do direito à informação, da manutenção da democracia, da revelação do arbitrário e na supressão de interesses pessoais que venham a macular a honra e o status daquele que se apresenta à sociedade como um agente capaz de ordenar o caos cotidiano através das notícias. E disponibilizá-las sem traços de julgamento e juízos de valor pessoais, muito embora a subjetividade dos jornalistas seja questionável a todo tempo diante do fantasma da pessoalidade das narrativas, contra a neutralidade ou independência. Ora esta percepção aparece apenas como crítica pontual e, vez em quando, é constatada como transgressão de fato. (TRAQUINA, 2005; ALSINA, 2009).

Embora existam casos de fraudes informativas, como já vimos, essa não é a característica essencial e majoritária do trabalho jornalístico. O que o jornalista faz é interpretar os acontecimentos com base em algumas limitações pessoais e profissionais. As limitações pessoais acontecem pelos seus conhecimentos e pela sua ideologia. As limitações profissionais se referem ao meio de comunicação para o qual trabalham e à projeção social da sua atividade. Os interesses financeiros, políticos e publicitários exercem um controle inevitável na produção da informação. (ALSINA, 2009, p.291).

Para formar e informar, o jornalista, afirma Dines (2009), precisa ser exemplar. Isto mesmo: dar o exemplo, através de uma moral e ética que permitam conferir a ele um papel que se assemelha ao de um educador. Portanto, cabe a ele ter sempre em mente um senso de

responsabilidade, pois toma o leitor pela mão, e o conduz na vida pública, recomendando e alertando. Age em seu consciente e o motiva a tomar decisões. “Uma forma de incentivar a responsabilidade e obrigar o jornalista a conviver com ela é a criação de códigos de ética”. (DINES, 2009, p.138).

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