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Ética e formação de artistas visuais

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO (páginas 35-38)

2 A PRODUÇÃO ACADÊMICA SOBRE ÉTICA, FORMAÇÃO DE ARTISTAS

2.2 Ética e formação de artistas visuais

Após o lançamento dos descritores “ética e formação de artistas visuais”, “ética e formação de professores de artes visuais” e “ética ensino superior artes visuais” foram localizadas doze dissertações de mestrado e dez teses de doutorado no banco de Teses da

CAPES. Nenhum outro trabalho foi localizado no IJEA, Journal of Moral Education, ANPEd

e ANPAP durante o período da pesquisa.

Na área de formação de professores encontramos sete trabalhos, sendo que o último; “As contribuições das abordagens somáticas na construção de saberes sensíveis da dança: um estudo sobre o projeto Por que Lygia Clark? (COSTAS, 2010)” apareceu no tópico anterior e repetiu-se aqui com os descritores “ética e formação de artistas visuais”.

Vamos conferir os resultados nas áreas educacional e artística, sempre tentando levantar problemas em correspondência ao nosso objeto de pesquisa.

Em “O processo colaborativo na formação do ator”, Ledubino (2009) investigou as

características históricas e práticas do processo colaborativo aplicado à formação do ator numa situação não formal de ensino. Inserida no campo da pedagogia do teatro, o trabalho caracterizou-se como uma reflexão teórica voltada à prática específica de criação de espetáculo empreendido pela Companhia Bacante de Teatro, grupo sediado no interior do estado de São Paulo. O teatro foi apresentado como uma ação cultural onde a prática é um território para a formação profissional colaborativa, crítica e ética. Ganha destaque o caráter dialógico da interação entre diretor e atores, na autoria compartilhada e no engajamento dos artistas na criação cênica. A par desta dissertação, o quanto é possível pensar um atelier como

um espaço coletivo para a discussão a respeito de uma ética artística? Como pesquisador, julgo que esta aposta é um caminho possível na formação de artistas visuais, sem deixar de constatar, a dificuldade de se levar até as últimas consequências, o tema da arte contemporânea.

O portfólio em relação ao aspecto ético da arte da apropriação também poderia levantar questões tão evidentes que chegam a ficar esquecidas. Zanellato (2008) estuda as possibilidades pedagógicas e artísticas deste instrumento de avaliação e mostra, mediante fundamentação teórica, como o docente de artes visuais pode utilizá-lo como instrumento direcionado ao processo de formação. A pesquisa é específica sobre a diversidade teórica que aborda o "portfólio" como uma modalidade de reflexão e avaliação nos cursos de graduação em artes visuais. Convém destacar que esta dissertação esboça um modelo de portfólio que possibilitaria auxiliar o ensino artístico em um modelo renovado de avaliação.

Se o portfólio é um instrumento cada vez mais empregado no campo da arte/educação,

o que podemos dizer na área de comunicação? “A formação do publicitário e sua

responsabilidade social: por uma prática publicitária mais ética” (SILVA, 2007d) objetiva investigar se a prática pedagógica da pesquisadora proporciona reflexões, no sentido da formação de profissionais reflexivos e éticos, diante de questões próprias da área da publicidade. O estudo foi realizado em uma instituição de ensino superior do interior de São Paulo, no curso de Comunicação Social em que ocorreu uma experiência pedagógica que, pela sua proposta, mostrou-se como uma boa oportunidade de formação profissional.

Neste trabalho enxergamos o quanto a publicidade é uma atividade que se engendrou na história e tornou-se necessária para criar idéias, serviços e produtos, que, via mercado, chegam ao público. Há também, duas questões específicas nesta pesquisa com possibilidades de generalização para o tema da formação ética de artistas visuais: a) a publicidade se vale de muitos conhecimentos científicos e recursos técnicos e artísticos para construir suas mensagens, o que acaba conferindo poder de influência sobre o público; b) e, considerando que a publicidade deva estar atenta para sua responsabilidade social em uma prática mais ética, como conciliar a formação humanística e a formação profissional?

“Descobrir as texturas da essência da terra: formação inicial e práxis criadora do professor de arte” de Moraes (2007) é uma tese de doutorado que apresenta discussões sobre as relações entre o processo de ensino-aprendizagem artesanal da cerâmica e a formação inicial de professores de arte com base na perspectiva reflexiva. Desta maneira, investiga os modos de produção e ensino de artistas-ceramistas, com enfoque nos valores. A aprendizagem artesanal envolve princípios e valores éticos e humanos que ultrapassam não somente a

produção em larga escala da sociedade industrial, como também a reiteração de técnicas e procedimentos didáticos e artísticos ainda muito observados no espaço escolar. Permeada pelo fazer conjunto, a mediação da aprendizagem de um ofício tradicional por um mestre-artesão é capaz de desencadear uma prática criadora mais efetiva. Isto foi observado no desenvolvimento de um processo formativo teórico-prático com alunos do curso de licenciatura em artes visuais de uma instituição particular no município de São Paulo. No exemplo acima, se os valores das ceramistas são referência para o campo educacional, como poderemos permanecer passivos diante de inúmeros casos de assimetria entre as áreas de ética e estética no campo das artes visuais?

Pergunta semelhante é feita na Tese “Tear Identitário: A Prática Docente em Arte como conhecimento compartilhado (COELHO, 2008)”. Como a prática docente em Arte influencia ou é influenciada pelos processos identitários dos professores, e como esses interferem na busca e manifestação dos saberes envolvidos e no investimento em profissionalização? É o que Coelho (2008) investigou nos processos de construção da identidade docente em uma experiência de formação continuada envolvendo professores licenciados pelo curso de Educação Artística da Universidade Federal do Piauí (UFPI). Em sentido diferente, a tese de doutoramento de Ferraro (2008) trata o desenho artístico como favorecedor das capacidades e aptidões relacionadas à percepção espacial e sua representação, contribuindo para a formação integral do arquiteto e urbanista. Revela alguns fundamentos didáticos, especialmente ligados às noções do espaço projetivo que, aliados à ação docente reflexiva e ética, permitem a construção progressiva do conhecimento do desenho artístico, por parte do sujeito em formação, mediante o desenvolvimento de estruturas cognitivas. Encontraremos uma melhor maneira de expressar o que também é possível fazer, guardadas as devidas proporções, em relação à formação ética de artistas visuais?

Na área de artes visuais existem trabalhos que tocam levemente no objeto de pesquisa de nosso trabalho, sem deixar de confirmar que escolhas éticas engendram soluções estéticas presentes inclusive em “O Universo Carnavalesco de Rosa Magalhães sob uma Perspectiva Cenográfica” (SAMPAIO, 2011). O mesmo efeito pode ocorrer na análise de Santos (2010b) em “A Cena Invertida e a Cena Expandida: projetos de aprendizagem e formação colaborativas para o trabalho do Ator”. Em sua dissertação de mestrado, a autora observa como se dão as novas práticas que visam uma preparação técnica, estética e ética para a formação de um ator mais autoral. Na mesma linha de pensamento, conhecemos o teatro playback, uma modalidade artística onde os artistas improvisam histórias reais contadas por pessoas da plateia, tendo a figura do condutor como elo da ligação entre os artistas e o

público. Mantendo-nos atentos ao que Siewert (2009) apresenta em sua dissertação de mestrado e devemos perguntar se esta modalidade de teatral também não guardaria paralelo

com a arte da apropriação realizada na área de artes visuais. Já o trabalho “Teologia e

pintura: um olhar teológico sobre a obra Marília de Dirceu de Guignard” (BLAIN, 2011) procura identificar a participação da Igreja no que tange à formação de pintores, escultores, arquitetos e educadores.

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO (páginas 35-38)