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A génese da ética, vamos encontrá-la na antiga Grécia, que cultivava, mais que tudo, a Sofia (sabedoria) que habitava entre os homens (ethos). O princípio da sabedoria era o Bem, habitualmente ligado ao pensamento, que sempre predispõe e condiciona a acção.

O termo “ética” provém, etimologicamente, da palavra ethos, do grego arcaico, o que inicialmente significava (em particular, na Ilíada de Homero) paradeiro ou residência comum. Mais tarde ele adquiriu outros significados: hábito, temperamento, carácter, mentalidade.

A filosofia antiga atribui-lhe um sentido terminológico, designando por ele a natureza, o carácter estável dum certo fenómeno físico ou social.

A história da palavra ethos reflecte o importante facto de que os hábitos e o carácter das pessoas nascem no processo de convivência. Naturalmente que o carácter identifica todo o indivíduo, quer sob o ponto de vista da cidadania quer sob o aspecto profissional.

Aristóteles partiu da palavra ethos dando-lhe o sentido de “carácter” formando o adjectivo ethicos (ético). O grande filósofo designou com este termo toda uma classe de virtudes humanas, ou seja, as virtudes do carácter (coragem, comedimento e outras), que se distinguem das virtudes da razão, chamadas também “virtudes dianéticas”. A fim de assinalar a ciência que estuda as virtudes éticas, Aristóteles criou um novo substantivo – ethica (ética) e que se encontra em títulos de algumas das suas obras29.

A história da palavra “ética” encontra-se também em Roma. O análogo latino aproximado da palavra ethos é o termo mores que se traduz como temperamento, hábito, carácter ou conduta. Os romanos formaram, orientando-se pela experiência grega e alegando directamente Aristóteles, o adjectivo moralis (relativo ao carácter, costumes) proveniente da palavra mores; mais tarde, no século IV da nossa era, este deu origem ao termo moralitas (moral). Logo, a palavra grega ethica e a palavra latina moralitas coincidem quanto ao sentido etimológico.

Moral ou ética?30 Os termos moral e ética são frequentemente utilizados de maneira intermutável (vide Anexo D – A distinção entre ética e moral). Confrontada com o uso, a questão tem a sua pertinência.

No entanto, os termos “ética” e “moral” difundiram-se por toda a Europa, tendo adquirido, no processo de desenvolvimento cultural, diversos conteúdos (vide Anexo E – Doutrinas

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Ética a Nicómano, Grande Ética, Ética de Eudémones.

30

Para mais detalhes sobre este assunto ver ALVES, Gen. José Lopes – Ética Militar - Aspectos de uma Teoria e da sua Realização. Lisboa. 1997. pp. 18-20.

Éticas). A ética define-se por uma exigência de sistematização, por uma abordagem crítica. Na sua acepção moderna corrente, evoca uma concepção coerente e pessoal da vida, enquanto a moral designa o conjunto das regras de comportamento geralmente admitidas por uma determinada sociedade. A distinção, contudo, é discutível. É verdade que a diferenciação entre uma moral “social” e uma ética “pessoal” pode admitir-se na fase de deliberação do acto moral ou da decisão ética. O acto moral refere-se, implícita ou explicitamente, a um fundo de normas comuns e convencionadas. A decisão ética passa por um processo interior crítico de fundação e de legitimação das normas. Por um lado haveria uma consciência que se obriga a si própria a seguir regras, por outro uma consciência que procura definir as suas obrigações.

Esta demarcação perde contudo alguma da sua pertinência quando o acto moral e a decisão ética são encarados na sua justificação e na sua efectuação. O aspecto propriamente social ou individual já não é, então, realmente discriminante.

Ou, para nos limitarmos a uma concepção tradicional, porque o acto moral e a decisão ética, dependendo ambos da pessoa e da sua esfera privada, se inscrevem necessariamente num espaço social aquando da sua efectuação e da sua justificação a posteriori. Ou, segundo as perspectivas abertas por uma ética de gestão, porque ambos se revestem de carácter público, logo social, a partir do momento em que se inscrevem num espaço de discussão e retiram a sua justificação de uma argumentação cujos efeitos podem desdobrar-se desde a fase de deliberação. Mais que articular a diferença entre moral e ética sobre a oposição entre social e privado, parece preferível admitir entre estas categorias da razão prática uma espécie de divisão do trabalho: a moral cumpre uma tarefa de regulação, facilitada pela publicidade dada às suas normas, enquanto a ética cumpre uma função de legitimação ao interrogar essas próprias normas.

Portanto, o termo “ética” conserva o seu sentido inicial e designa uma ciência (afirmando- se como interrogação permanente sobre o sentido justo do acto humano) tendo por objecto o julgamento de apreciação quando aplicado à distinção do bem e do mal. A moral designa o fenómeno real que esta ciência estuda, baseando-se em dispositivos pré-estabelecidos, de um modo geral reactivos, firmados em valores fixos31.

A discussão sobre ética deixou de ser abordada apenas nos livros de filosofia e passou nos últimos anos a ser objecto de estudos académicos ligados a pesquisa de assuntos empresariais, de gestão e da AP. Esse interesse é decorrente, de entre outros factores, do avanço da defesa

31

Sobre este assunto ver o modelo de desenvolvimento moral de Kohlberg in MERCIER, Samuel – A Ética nas Empresas. Porto. Dezembro de 2003. p. 29.

MAJ ADMIL António Baptista – CEM 03/05

que os cidadãos, como consumidores, têm feito dos seus direitos. Em países como os Estados Unidos, onde este respeito é levado a sério, muitos pesquisadores têm estudado e publicado resultados de pesquisas sobre aspectos éticos ligados à ética da gestão, tendo conduzido a uma formalização da ética. Esta aparece como o sinal mais evidente do compromisso de boa conduta assumido por uma organização (vide Anexo F – O que é a formalização ética?).

No caso do Exército este não tem um código ético escrito específico. A ética militar surge assim “sob formas de documentos diversos, como a continuação de práticas éticas não escritas, aceites e advogadas pela sociedade e apoiadas pelo nosso sistema legal”32. Todavia, sendo a ética militar abrangente comum de todos os indivíduos que formam a Instituição Militar (IM), ela deve ter em consideração que, sendo específicas as características orgânicas e funcionais de cada um dos Ramos, consequentemente se tornam também específicas as características específicas dos cidadãos que os compõem e neles servem. Acrescente-se ainda que, dada a sua natureza englobante (advindo da sua inserção na comunidade) ela interage com outras éticas específicas e profissionais (vide Anexo G – Estruturação e Níveis de Ética). Na sua forma escrita, a ética militar consta de documentos, dos quais se destacam o Código de Justiça Militar, as Bases Gerais da Condição Militar, o Estatuto dos Militares das Forças Armadas, as fórmulas de juramentos militares e os Códigos de honra dos Estabelecimentos de Ensino Militar33.

O sistema ético do Exército, decorre, por um lado, da nossa Constituição e dos valores da sociedade bem como de princípios éticos consequentes daqueles valores; por outro lado, depende dos hábitos de solidariedade ética e que resultam dos valores que os militares têm que estar preparados para enfrentar, face ao apelo a novas formas de comportamento.

32

VIEIRA, Gen Belchior – A liderança e o clima ético na Instituição Militar. Revista Militar. N.º 147. Lisboa. 1995. p. 612.

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IV. A ÉTICA E ADMINISTRAÇÃO NO CONTEXTO DA MODERNIZAÇÃO DA

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