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No dia-a-dia, tomamos atitudes diversas para favorecer as relações pessoais, preservar nossa integridade e alcançar maioresbenefícios no decorrer da existência. Ou seja, aspiramos por uma “vida boa”, queremos ser felizes.

De uma maneira refletida, mas nem sempre sistemática, paramos

Saiba mais

A palavra autônomo vem do grego autos (“eu mesmo, si mesmo”) e nomos (“lei, norma, regra”). Aquele que tem o poder para dar a si mesmo a regra, a norma, a lei é autônomo e goza de autonomia ou liberdade.

Autonomia significa autodeterminação. Quem não tem a capacidade racional para a autonomia é heterônomo, palavra que vem do grego hetero (“outro”) e nomos (“receber de um outro a norma, a regra ou a lei”).

para indagar a respeito da melhor conduta a ser tomada em nossa vida e qual deve ser evitada. Dessa forma, entramos propriamente no mundo moral, que nos permite distinguir o bem do mal, já que agir moralmente é agir de acordo com o bem.

Também tem sido essa a preocupação dos filósofos através dos tempos, ao se aprofundarem nas questões teóricas, tais como: Em que consiste o bem? Qual o fundamento da ação moral? Qual a natureza do dever? De onde vêm as normas morais? Elas podem ser mudadas? Quem pode alterá-las? Essas perguntas nos remetem para o campo da ética, área da filosofia que, como vimos, reflete criticamente sobre a experiência moral e discute as noções e princípios que fundamentam a conduta moral.

A felicidade como bem supremo

A reflexão ética propriamente dita se inicia no mundo ocidental na Grécia antiga, quando os filósofos procuram o fundamento moral segundo uma compreensão da realidade distanciada dos relatos míticos.

Enquanto para os filósofos sofistas os princípios morais resultam de convenções sociais, Sócrates a eles se contrapõe, fundamentando a moral na própria natureza humana. No diálogo Eutífron, PIatão mostra Sócrates discutindo, inicialmente, sobre as ações do homem ímpio ou santo conforme a ordem constituída, para então se perguntar em que consiste a impiedade e a santidade em si, independentemente dos casos concretos. Dessa forma, pela primeira vez um filósofo se interroga sobre o fundamento último da moral.

A ética de Aristóteles (século IV a.C.) exerceu forte influência no pensamento ocidental. Segundo sua teoria, conhecida como eudemonismo (o verbo grego eudaimonéo significa “ter êxito”, “ser feliz”), todas as atividades humanas aspiram a algum bem, dentre os quais o maior é a felicidade. Para Aristóteles, a felicidade não se encontra nos prazeres nem na riqueza, mas na atividade racional. Admitindo que o pensar é a principal característica humana, conclui que a felicidade consiste na atividade da alma segundo a razão.

Hedonistas e estóicos

Para os hedonistas (do grego hedoné, “prazer”) o bem se encontra no prazer. Em sentido bem genérico, podemos dizer que a civilização

contemporânea é hedonista por identificar a felicidade com a aquisição de bens de consumo: ter uma bela casa, carro, muitas roupas, boa comida, múltiplas experiências sexuais. E, também, pela incapacidade de tolerar qualquer desconforto, seja uma simples dor de cabeça ou o enfrentamento sereno das doenças e da morte.

Idade Média: moral e religião

O ideal ascético, muito bem aceito pelo cristianismo medieval, deriva do modo de pensar estóico. A ascese visa ao aperfeiçoamento da vida espiritual por meio de práticas de mortificação do corpo, como jejum, abstinência, flagelação.

Essa tendência predominou na Alta Idade Média, ainda influenciada pelos Padres da Igreja. No auge da Escolástica, porém, o filósofo e teólogo Santo Tomás de Aquino (século XIII) adapta o aristotelismo aos ideais cristãos e recupera a ética eudemonista. Mas, fiel ao ideal religioso, admite que a única contemplação que garante a felicidade é a contemplação de Deus, de quem teremos o conhecimento pleno só na vida futura, após a morte.

A moral laica

A partir da Idade Média, porém, a moral vai se tornando laica (não religiosa). Ser moral e ser religioso deixam de ser polos inseparáveis e admite-se que uma pessoa ateia também seja moral, porque o fundamento dos valores não se encontra em Deus, mas no próprio ser humano.

O formalismo kantiano

O século XVIII é chamado o Século das Luzes porque, em todas as expressões do pensamento e atividades humanas, a razão como uma luz, serve para interpretar e reorganizar o mundo. Recorrer à razão significa recusar a intolerância religiosa e o critério de autoridade. Para Kant, maior expoente do Iluminismo, a ação moral é autônoma, pois o ser humano é o único capaz de se determinar segundo leis que a própria razão estabelece.

Ao buscar essas leis, Kant (1974), não parte de valores determinados pelas nossas inclinações, nem aceita como fim do ato moral a felicidade, o bem-estar, o interesse ou o prazer, porque todas essas formas de fundar a

Dica

Quaisquer que sejam as concepções éticas assumidas pelos filósofos, elas refletem a tentativa original e criativa dos seres humanos de pautarem seus atos de forma refletida.

ética são subjetivas e relativas. Ao contrário, para alcançar o valor absoluto e universal, parte de uma lei ou forma a priori, anterior a toda experiência, ou seja, parte de um imperativo categórico: a obediência à lei é voltada apenas para a realização do dever.

Moral e existência concreta

Vimos que a moral iluminista é racional, laica e acentua a importância da liberdade e do direito de contestação. Também é uma moral universalista porque, embora admita as diferenças dos costumes dos povos, aspira por encontrar o núcleo comum de valores universais.

A partir do final do século XIX, porém, os filósofos começam a se posicionar contra a moral formalista kantiana fundada na razão universal, abstrata, de um sujeito transcendental.

A questão moral hoje

No século XX, continua valendo a desconfiança na razão como instrumento eficaz para orientar a vida moral. Não mais se diz, como os modernos, que agir virtuosamente é agir de conformidade com a razão.

Às advertências de Marx, que denuncia a ideologia e seu poder de manipular a consciência, acrescenta-se a descoberta de Freud (1856-1939) do inconsciente, força interna radicada nas pulsões que, ao entrarem em conflito com as normas sociais, tornam-se fonte de repressão e neurose.

Diante dos problemas do mundo globalizado, Apel (1994) ressalta o fato de que hoje, mais do que nunca, a moral se situa além dos limites da casa, do bairro, da cidade, do país, para exigir a reflexão sobre a macroesfera (destino da humanidade). Nesse sentido, é preciso constituir-se uma macroética que examine os interesses humanos vitais em nível planetário.

Esse esboço sobre as concepções éticas nos dá uma ideia das variadas tendências dos filósofos através da história. Enquanto uns subjugam as paixões pela razão, outros querem recuperar as forças instintivas comprometidas com a vida. Enquanto há os que vinculam a moral à religião, outros defendem a moral laica. Uns buscam o princípio absoluto e universal, mas há quem reconheça o relativismo de toda moral.

Você Sabia? de 1967 é de verdadeiro sacerdote. Atente-se para

Hoje passamos por crise de saúde. Urge redescobrirmos o valor da pessoa frente ao endeusamento da técnico-científica e ética. Por que não cuidar com ciência e ternura humana?

(Pe. Leo Pessini)