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Évora, 1633. Excertos das contraditas do processo de Manuel Henriques

No documento Nós, o L.do Pedro Álvares de Paredes e o Dr (páginas 197-200)

ANTT, Inquisição de Évora, proc. 8603, fls. 107-113, 131v-133.

Provaria que ele, recusante, Manuel Henriques, foi lançador, no ano de 633, da finta e lançamento que se lança naquela cidade [Faro] e porque, no dito ano, cresceu mais do ordinário em 750 mil reis, por uma promessa que a Câmara da dita cidade fez a Sua Majestade, na qual finta e lançamento só ele, recusante, entrava que fosse de nação, por serem lançados os da nação, como foram, e pelo muito crescimento que houve e ficarem carregados, se queixaram dele, recusante, dizendo que carregava a eles e descarregava a seus parentes, com o que ficaram em inimizade, e também:

Provaria que Francisco Lopes, cunhado dele, recusante, foi lançador de uma finta muito grossa que houve no ano de 630, de que também recresceram muitos ódios e inimizades, por cujo respeito ficaram em inimizade a ele, recusante, e seu cunhado, e ficam os testemunhos da gente de nação muito peitosos.

[...]

Provaria que ele, recusante, esteve casado com a dita Leonor Gomes três anos e pelas razões e amores sobreditos lhe dava, o recusante, muito má vida e tinha dela muitos ciúmes e, vindo a morrer, lhe levantaram as irmãs, tios e parentes acima nomeados que ele, recusante, a matara com desgostos e má vida, pelas quais razões ficaram sempre em ódio e má vontade e com capital inimizade.

Provaria que a dita inimizade cresceu mais porque ele, recusante, do dia da morte da dita Leonor Gomes, sua prima irmã, a 15 dias se casou segunda vez, e pelo pouco sentimento que mostrou, se confirmou o ódio, e diziam as pessoas acima que era verdade matar ele, recusante, a Leonor Gomes, o que viram do modo de sua vida que tomou e se queixavam porque viram gastar a fazenda de sua irmã e sobrinha com outra mulher, que a não ganhara, e ficaram em tal ódio que nunca mais se falaram, nem visitaram, nem ainda Inês da Costa, segunda mulher dele, recusante, os visitou, nem viu, nem eles a ela, nem ainda à filha de Leonor Gomes, sobrinha das sobreditas, deixava o recusante ir ver, nem visitar, de que havia grandes queixas, pelo que seus testemunhos lhe não podem prejudicar.

[...]

Provaria que Manuel Mendes d’Oliveira e sua mulher e filho, e Estêvão Rodrigues, seu primo co-irmão, são inimigos capitais dele, recusante, por o recusante o querer prender, ao dito Manuel Mendes, por dar mandado ao meirinho do mar, Gonçalo Martins, de quantia de cento e tantos mil réis que o mesmo devia à armação de Quarteira, de que ele, recusante, era recebedor e, por este respeito, ficaram inimigos e seus testemunhos lhe não podem prejudicar.

Provaria que Sebastião Dias, ourives, sua mulher e filhos e seu genro, fulano Galego, são capitais inimigos dele, recusante, e isso porque, tendo o tesoureiro-mor da Sé de Faro, por nome L.do Jerónimo Pires, dado a concertar ao dito Sebastião Dias uma garrafa de prata, e que lha desse, por o dito ourives a não ter em seu poder e a ter vendido a ele, recusante, posto que foi obrigado por justiça e vindo, por correição, à cidade de Faro o corregedor de Tavira e sabendo ele, recusante, que o haviam de obrigar a que tornasse a garrafa, a deu a Manuel Gomes, mareante, para que lha vendesse em Aiamonte, lugar de Castela, e não na vendendo por não achar quem lha comprasse, e ele, recusante, lhe não quis dar por via alguma, e por o dito Sebastião Dias ficar assim quebrado e encolerizado, ficou mal com ele, recusante, e seu inimigo porque o obrigaram por justiça a pagá-la, pelo que ele e seus filhos não podem ser testemunhas contra o recusante.

Provaria que Sebastião Dias é homem de mau bofe e mal inclinado e, como tal, de todos murmurava. E tão mau homem é que comprou uma coroa de Nossa Senhora da Esperança da cidade de Faro, sendo furtada, por cujo respeito o Senhor Bispo o mandou prender na cadeia pública de Faro. E tão mau homem é que, trazendo-o preso para este Santo Ofício, vinha ameaçando a toda a gente de nação, dizendo ao almocreve que não vendesse os machos e os engordasse que sete anos tinha para trazer. E tão mau homem é que, trazendo-o

preso o familiar Rui Lopes, se vinha descompondo com ele e o incitava a que viesse a más palavras para assim fazer queixume nesta santa mesa, pelo que quem é de tal natureza, durará e dirá o que quiser contra a verdade, nem seu dito se pode fazer caso.

[...]

Provaria que Diogo de Tovar, marido de Bárbara Fernandes, pretendeu ir feitorizar o castelo de Arguim e por cuja feitoria cobria todo seu remédio, para o que havia de dar fiança, e confiado o dito Diogo de Tovar que ele, réu, havia de fiar, por ele fez uma escritura de fiança em vistas de Lourenço Fernandes, tabelião, e vindo com ela para ele, recusante, a assinar, lha não quis assinar e ficou suspensa sua jornada e feitoria, e por levar seu remédio e que ele, recusante, lhe não acudiu, lhe ficou o mesmo Diogo de Tovar, sua mulher e filha, Branca de Tovar, e seus filhos; e Fernão Gonçalves, o Cego;

e a mulher do dito Fernão Gonçalves, irmã do dito Diogo de Tovar; e do dito Fernão Gonçalves, sua mãe e irmãs; e Guiomar Mendes; e Isabel Pais; e a mulher de João Pessoa e uma irmã, todos cunhados, primos e parentes no quarto grau ficaram em ódio com ele, recusante, e não podem contra ele testemunhar.

[...]

Provaria que ele, recusante, é bom cristão, temente a Deus e de boa vida e costumes, amigo de Deus e de seus santos e serve em confrarias com muita satisfação, foi recebedor e tesoureiro da Misericórdia e de Nossa Senhora dos Prazeres e de outras confrarias.

Provaria que o Senhor Bispo Dom Francisco de Meneses é inimigo capital dele, recusante, por o dito recusante dever 80 mil réis ao mesmo senhor de resto de uma renda de dois mil cruzados que ele, recusante, lhe tinha da cidade de Lagos e, por isso, o mandou prender na cadeia de sua potência, tendo ele, recusante, bens e sendo o mais rico homem de Faro. E depois de lhe pagar os ditos 80 mil réis, tendo-lhe em seu poder mais de cem mil réis de penhores de ouro e de prata, lhos não quis dar e, sem já lhe dever nada de seu poder absoluto, lhe tomou setenta e cinco sacas de arroz que valiam quinhentos mil réis e as mandou levar para sua casa, fazendo-lhe o recusante muitos agravos e avisos e, sem embargo de ter dado fianças a seu contento, lhe fez dar novas fianças de pessoas cristãs-velhas e lhas deu na cidade de Lagos, o que tudo fazia para o delatar na prisão, donde o tinha. E no tal tempo vinha muita gente presa a este Santo Ofício que, vendo-o preso, o traziam em memória para darem nele, recusante, que era do ânimo com que o detinha na prisão. E vendo o corregedor da comarca as expiações que fazia a ele, recusante, movido de piedade, mandou a dois escrivães do judicial notificar o dito senhor dessa causa de o ter preso, ao recusante, pois não era seu devedor

No documento Nós, o L.do Pedro Álvares de Paredes e o Dr (páginas 197-200)

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