Um índice é um número adimensional, que pode ou não ter uma amplitude pré- definida, que mensura um constructo, normalmente qualitativo, em uma unidade de análise. Geralmente, os índices servem de subsídio para tomada de decisões e construções de cenários, voltados para a geração de informações a partir de dados dispersos aparentemente não correlatos. Dada a possibilidade de quantificar características que, isoladamente por uma variável, não poderiam ser mensuradas, os índices despontam como uma ferramenta útil, tanto para a literatura quanto para o uso empírico (UNITED NATIONS, 2002).
Nas agências internacionais abundam índices das mais diversas formas e com os mais diversos intuitos (PAN AMERICAN HEALTH ORGANIZATION, 2011; UNDATA, 2013; UNITED NATIONS, 2002). Dentre os índices internacionalmente utilizados o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é um dos mais difundidos e laureados. O IDH mensura o desenvolvimento humanos através de três dimensões: longevidade, renda e educação. Há limitações em sua contrução, principalmente por se compreender o desenvolvimento através de três variáveis. No entanto, a simplicidade em sua aplicação empírica, sua universalidade e
a sua eficácia na mensuração do constructo “desenvolvimento humano”, tornam o índice bem
sucedido e uma importante ferramenta para políticas públicas e estudos acadêmicos (UNITED NATIONS, 2002). Tal como o Índice de Desenvolvimento Humanos, o Índice de
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Caracterização de Territórios, proposto nesta tese, busca criar um modo simples e eficaz de se
mensurar a proporção do “constructo modo de vida rural” adscrito em um território. Ainda
que seja limitado conceber um constructo tão complexo em um número admencional, assim como no caso do índice desenvolvimento humano, espera-se que os resultados tenham aplicações empíricas que suplatarão as suas limitações operacionais.
A proposição desta tese foi a de criar um índice, para ser aplicado no território
brasileiro, balizado pela ideia de que “rural” e “urbano” são modos de vida que caracterizam
um território, segundo o defendido por uma ampla corrente de autores, como já apresentado na tese. Considerou-se aqui, o território como proposto por Haesbaert (1999, 2004), que entende o conceito como a forma que as pessoas fazem o uso da terra. Dada essa característica do território, pode-se entender que modos de vida distintos produzem territórios distintos. Pode-se admitir, ainda, que em um mesmo espaço geográfico poderia haver múltiplos territórios, assim como múltiplos modos de vida, como apontado por Haesbaert (1999, 2004). Dessa forma, o Índice de Caracterização de Territórios teve o propósito de verificar qual o tipo de modo de vida (rural e/ou urbano) que predominava em uma determinada área. Sorré (1948) mostrou em seus estudos que uma alteração no espaço habitado pelos indivíduos, alteraria, consequentemente, os seus modos de vida. O autor cita o exemplo dos esquimós no Ártico, que com o desaparecimento das geleiras, viram-se impossibilitados de manter o seu modo de vida tradicional, que dependia das mesmas. De forma análoga, pode-se imaginar que um modo de vida rural teria dificuldade de se sustentar em uma grande cidade, com amplo acesso a meios tecnológicos. Bem como, um modo de vida urbano seria improvável em um meio isolado, onde não houvesse formas de acesso ao consumo de bens, serviços e a recursos tecnológicos.
Os espaços geográficos se diferenciam segundo o seu grau de artificialização em: paisagens intocáveis ou pouco modificadas; além dos campos; aldeias; vilas; pequenos, médios e grandes municípios; bem como as metrópoles (VEIGA, 2002). Cada um destes espaços geográficos pode ser marcados pela presença de territórios com modos de vida rural e/ou urbano. Mesmo espaços com baixa densidade demográfica podem apresentar facetas urbanas em seus modos de vida (ENDLICH, 2010). Seguindo esse raciocínio, o índice elaborado verificar qual a intensidade da presença do modo de vida rural e/ou urbano nos diferentes espaços geográficos supra-citados. De tal forma que, pelo índice seja possível vislumbrar traços de ruralidade em cidades e facetas de urbanidade no campo. Para isso foi necessário selecionar variáveis, dentre as disponíveis nos censos e apresentadas no Capítulo 6,
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para a criação do índice. Desta forma, foram selecionadas para a composição do índice seis variáveis. Essas variáveis seriam proxies para a concepção de um modo de vida, com características típicas de um rural idealizado a partir de traços da historiografia e de um urbano também tipificado de forma ideal. O índice buscou mensurar a intensidade com que os
índivíuos se assemelhariam de um tipo ideal “rural” e/ou “urbano”. Rural e urbano não foram
consideradas como categorias duais e antagônicas empiricamente, mas, sim, como duas categorias teóricas distintas que poderiam estar presentes em um mesmo espaço geográfico. A Tabela 44 apresenta como se comportam as variáveis selecionadas, de acordo com o tipo ideal rural e o tipo ideal urbano.
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Tabela 44 – A relação entre os tipos ideais e as variáveis presentes no índice
Variável inserida no índice Tipo ideal rural Tipo ideal urbano
Trabalho Relativo a atividades
agrícolas e com intensa dependência da terra e de fatores biológicos
Relativo a atividades não agrícolas e com pouca, ou nenhuma, dependência da terra e de fatores biológicos
Escolaridade Limitada, o índiviuo não tem
acesso a instituições de ensino que ofereçam maior titulação
Pouco limitada, o indivíduo tem a possibilidade de atingir altos níveis de titulação sem se deslocar
Renda Menor, dada a
impossibilidade de se desvencilhar de fatores biológicos e agregar mais
valor ao trabalho.
Predomínio do auto-consumo e ausência de artefatos tecnológicos modernos
Maior, pois a industrialização e a maior escolaridade permitem ao indivíduo galgar
maiores rendimentos.
Predomínio do consumo de bens industrializados e com altos níveis tecnológicos
Tempo de deslocamento a grandes centros
Maior, há a necessidade de se despender de mais tempo para chegar a centros com maior população
Menor, o próprio centro seria o local nativo do indivíduo urbano, sendo que a medida que se afasta deste centro, mais distante fica do tipo ideal urbano
Acesso à iluminação
artifical
Quando não é ausente é precário
Sempre presente e com boa qualidade
Fonte: Elaboração pelos autores baseados em (GRUPO DE ESTUDOS RURAIS: AGRICULTURAS E RURALIDADES, 2014).
As variáveis, dispostas na Tabela 46, foram a base para a contrução do Índice de Caracterização de Territórios pelo modo de vida. Essa seleção foi realizada em duas vertentes: a primeira considerando o aporte teórico apresentado no decorrer da tese e, a segunda, pela disponibilidade dos dados para aplicação no índice no território brasileiro. A redução a cinco principais dimensões do modo de vida, incorporou as principais variáveis utilizadas em
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diferentes metodologias revisadas ao longo desta tese. A escolha de um pequeno número de variáveis teve o propósito de não tornar o índice de caracterização de territórios demasiado complexo. No tópico subsequente será apresetada a forma de cálculo do índice, seguida de uma apresentação da situação das variáveis em território brasileiro. Por fim, será apresentado o resultado final do índice aplicado ao território brasileiro.