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1 INTRODUÇÃO

2.1 DELINEAMENTO DA PESQUISA

2.1.5 Índice de Desenvolvimento da Educação Básica – IDEB

Para definirmos as escolas estaduais que seriam pesquisadas, partimos do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), um instrumento instituído pelo Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE). O IDEB se constitui no indicador oficial da qualidade da educação no Brasil e é calculado com base no fluxo escolar e no desempenho dos estudantes na Prova Brasil, conforme será comentado a seguir.

O PDE (BRASIL, 2007) foi lançado pelo Ministério da Educação em 24 de abril de 2007, simultaneamente à promulgação do Decreto nº 6.094, o qual dispõe sobre o Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação. (SAVIANI, 2007). Este é um programa do PDE que visa à melhoria dos indicadores educacionais a partir de um plano de metas concretas que compartilha competências políticas, técnicas e financeiras para a execução de programas de manutenção e desenvolvimento da Educação Básica.

O Plano de Metas estabelece um conjunto de diretrizes para que a União, os estados, o Distrito Federal e os municípios possam atuar em regime de colaboração, de forma que sejam criadas condições para que cada brasileiro tenha acesso a uma educação de qualidade e seja capaz de atuar crítica e reflexivamente no contexto em que se insere, como cidadão cônscio de seu papel num mundo cada vez mais globalizado (BRASIL, 2011). Desse modo, a concepção de educação, que perpassa todos os programas do PDE, tem como objetivo a construção da autonomia, ou seja, a formação de sujeitos capazes de assumir uma postura crítica e criativa frente ao mundo.

Nesse sentido, o PDE sistematiza mais de 40 ações na busca de uma educação de boa qualidade e se organiza em torno de quatro eixos:

educação básica; educação superior;

educação profissional e tecnológica;

alfabetização, educação continuada e diversidade.

O PDE dispõe de um instrumento denominado Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), a fim de identificar quais são as escolas que precisam de maior atenção e apoio financeiro e de gestão. O IDEB foi criado em 2007 pelo Ministério da Educação (MEC), a partir de estudos elaborados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), para avaliar o nível de aprendizagem dos estudantes.

O IDEB, eixo do PDE, é o indicador para a verificação do cumprimento das metas fixadas no Termo de Adesão ao Compromisso Todos pela Educação, do MEC, que trata de Educação Básica. O referido índice combina dois indicadores: fluxo escolar (aprovação) e desempenho dos estudantes (avaliado pela Prova Brasil).

O INEP é uma autarquia federal vinculada ao Ministério da Educação, cuja missão é promover estudos, pesquisas e avaliações sobre o Sistema Educacional Brasileiro com o objetivo de subsidiar a formulação e implementação de políticas públicas para a área educacional (BRASIL, 2011).

Dessa forma, a Diretoria de Avaliação da Educação Básica (DAEB), que integra a estrutura organizacional do INEP, tem sob sua responsabilidade as seguintes avaliações: Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA); Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM); Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (ENCCEJA); Provinha Brasil e Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB).

Conforme será detalhado a seguir, a Prova Brasil integra a Avaliação Nacional do Rendimento Escolar e é uma das avaliações que fazem parte do SAEB. Por isso, dentre as avaliações mencionadas, iremos nos deter ao SAEB.

O SAEB é composto por três avaliações externas em larga escala, a Avaliação Nacional da Educação Básica (ANEB), a Avaliação Nacional do Rendimento Escolar (ANRESC) e a Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA), conforme Portaria nº 482, de 07 de junho de 2013.

A primeira, ANEB, abrange, de maneira amostral, os estudantes das redes públicas e privadas do país, quer residam em áreas urbanas ou rurais, que estejam matriculados no 5º e 9º ano do Ensino Fundamental, como também os estudantes da 3ª série do Ensino Médio. Nesses estratos, os resultados são apresentados para cada Unidade da Federação, Região e para o Brasil como um todo. A ANEB permite produzir resultados médios de desempenho segundo estratos amostrais, além de promover estudos que investiguem a eficiência dos

sistemas e redes de ensino por meio da aplicação de questionários (BRASIL, 2011). Nesse estrato, a prova é denominada Saeb.

A segunda, ANRESC, é aplicada censitariamente a estudantes de 5º e 9º ano do Ensino Fundamental público, nas redes estaduais, municipais e federais, de área rural e urbana, em escolas que tenham no mínimo 20 estudantes matriculados no ano escolar avaliado. Nesse estrato, a prova, por seu caráter universal, recebe o nome de Prova Brasil e oferece resultados por escola, município, Unidade da Federação e país, os quais são utilizados no cálculo do IDEB. A avaliação em referência tem o intuito de contribuir para a melhoria da qualidade do ensino, redução de desigualdades e democratização da gestão do ensino público. Ademais, objetiva buscar o desenvolvimento de uma cultura avaliativa que estimule o controle social sobre os processos e resultados do ensino (BRASIL, 2011).

A terceira, ANA, é uma avaliação censitária e tem como objetivo avaliar os níveis de alfabetização e letramento em Língua Portuguesa, alfabetização matemática e condições de oferta do Ciclo de Alfabetização das escolas públicas. Essa avaliação envolve estudantes do 3º ano do Ensino Fundamental.

Convém destacar que as avaliações ANEB e ANRESC ocorrem a cada dois anos, quando são realizadas as provas de Língua Portuguesa e Matemática com os estudantes participantes, além da aplicação de questionários socioeconômicos aos estudantes participantes, diretores e professores. No que se refere a ANA, o processo avaliativo ocorre anualmente.

A Prova Brasil e o Saeb são avaliações elaboradas a partir de Matrizes de Referência, nas quais são descritas as habilidades a serem avaliadas e é apresentado o conteúdo a ser avaliado em cada disciplina e ano/série.

As informações obtidas por meio da Prova Brasil e do Saeb propiciam ao MEC e às Secretarias Estaduais e Municipais de Educação a definição de ações voltadas ao aprimoramento da qualidade da educação no país. Vale ressaltar que as médias de desempenho nessas avaliações subsidiam o cálculo do IDEB, ao lado das taxas de aprovação dos estudantes. Os dados estão disponíveis a toda a sociedade que, a partir dos resultados, pode acompanhar as políticas implementadas pelas diferentes esferas de governo.

Metas progressivas de melhoria do IDEB foram estabelecidas. Em 2022, espera-se que este índice atinja a média 6,0, índice obtido pelos países desenvolvidos. O ano de 2022 foi escolhido em função da progressividade das metas e, em especial, pela comemoração dos 200 anos da Independência Política do Brasil.

A melhoria da educação poderá ocorrer por meio de políticas de Estado que levem a ações locais nos municípios tais como a avaliação institucional das escolas pelo envolvimento da comunidade escolar. De acordo com Saviani (2007), o IDEB se constitui no recurso técnico por excelência para definir e redefinir as metas, orientar e reorientar as ações programadas e avaliar os resultados, em todo o período de operação do plano, que se estenderá até o ano de 2022.

Vale ressaltar que a adoção do IDEB ainda é controversa. Alguns autores, a exemplo de Saviani (2007), aceitam a visão governamental. Outros, tais como Araújo (2007) e Freitas (2007), têm posicionamentos que divergem da visão oficial acerca do IDEB. Araújo (2007) considera o IDEB muito mais como um instrumento regulatório do que um definidor de critérios para uma melhor aplicação dos recursos da União e Freitas (2007) defende que o IDEB deve ser um instrumento de monitoramento de tendências e não instrumento de pressão. No artigo “Os fios condutores do PDE são antigos”, Araújo (2007) analisa o PDE e comenta que um de seus fios condutores é a concepção de que a principal tarefa do MEC é a de impor uma regulação do sistema educacional, com base em instrumentos de avaliação em larga escala. Conforme o autor, esse tipo de avaliação é denominada avaliação de monitoramento e permite ampliação das formas de controle do Estado sobre o currículo e as formas de regulação do sistema escolar, bem como sobre a aplicação dos recursos na área. De acordo com Araújo (2007), nesse fio condutor compreende-se, de forma equivocada, que é possível avaliar uma rede de ensino utilizando somente indicadores de avaliação de aprendizagem dos estudantes. O autor comenta que o resultado de cada município e de cada estado será (e já está sendo) utilizado para ranquear as redes de ensino, para acirrar a competição e para pressionar, via opinião pública, o alcance de melhores resultados.

Freitas (2007), acerca do IDEB, também tem posicionamento dissonante do discurso oficial. Segundo o autor, a Prova Brasil e os usos previstos para ela, tais como o acesso à avaliação de cada escola por meio da internet, constituem forma de responsabilização, atribuindo à escola a responsabilidade pela melhoria da qualidade do ensino, a partir da exposição de seus resultados à sociedade.

É relevante que a sociedade tenha conhecimento sobre o nível de aprendizagem das escolas. No entanto, considerar tais informações como ponto de partida para um processo de responsabilização da escola via prefeituras leva-nos a explicar as diferenças a partir do mérito do diretor que é bem organizado, do mérito dos estudantes que são esforçados, do mérito dos professores que são aplicados, do mérito do prefeito que deve ser reeleito, dentre outros.

Freitas (2007) destaca que outros fatores podem influenciar no processo de ensino-aprendizagem, por exemplo, as condições de vida dos estudantes e professores e as políticas governamentais inadequadas. A situação é complexa e não pode ser ocultado o problema central: a desigualdade socioeconômica das famílias. Outras variáveis, a partir do censo escolar, poderiam ser consideradas ao se analisar a Educação Básica brasileira e não apenas uma variável como o desempenho do estudante.

Nesse sentido, Freitas (2007) afirma que é imprescindível mudar a concepção de avaliação com visão de responsabilização para uma visão de participação e envolvimento local, com base no Projeto Político-Pedagógico da escola e no processo de avaliação institucional. Assim, precisa ocorrer a articulação entre os três níveis de avaliação: a avaliação em larga escala de redes de ensino, a avaliação institucional da escola e a avaliação da aprendizagem. A melhoria do ensino não ocorrerá por cobrança a distancia, mas por políticas de Estado que levem a ações locais nos municípios, entre elas à avaliação institucional das escolas pelo envolvimento da comunidade escolar.

Independentemente das discussões no que concerne ao IDEB, este é o instrumento oficial disponível para que a sociedade tenha conhecimento sobre a qualidade da educação oferecida nas escolas do país. Neste sentido, refletir sobre a adequação e aplicabilidade do IDEB não faz parte do escopo desse trabalho. O IDEB foi utilizado como um critério oficial para definir as escolas pesquisadas.