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5. Resultados e Discussão

5.2 Índice de emulsificação

Uma emulsão é formada quando a fase líquida está dispersa como gotículas microscópicas em outra fase líquida contínua. Os biossurfactantes podem estabilizar ou desestabilizar a emulsão (BANAT; DESAI, 1997) e segundo Santos et al. (2013) nem sempre a estabilidade dessa emulsão está associada a baixas tensões superficiais.

Os testes do índice de emulsificação foram desenvolvidos com o sobrenadante livre de células do ponto que apresentou maior formação de ramnolipídeo (ensaio 3 no ponto de 24 horas de cultivo) de acordo com adaptações do método de Cooper; Goldenberg (1987). Foram avaliados seis solventes: hexadecano, tolueno, querosene, óleo de soja, óleo de milho e óleo de motor; a determinação do índice de emulsificação foi determinada após 1, 15, 30, 45, 60, 75 e 90 dias, a fim de verificar a capacidade emulsificante do bioproduto e sua estabilidade no decorrer do tempo. A Figura 5.11 mostra a quantificação dos índices de emulsificação para cada solvente nos diferentes instantes de medição.

Figura 5.11 – Índice de emulsificação (E) determinado em diferentes instantes: 1, 15, 30, 45,

60, 75 e 90 dias para hidrocarbonetos (A) e óleos (B). Letras ou conjunto de letras iguais não apresentaram diferença estatisticamente significativa (p < 0,05).

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Jaciara Silva de Araújo Dissertação de Mestrado

A Figura 5.11 nos permite afirmar que os valores dos índices de emulsificação no primeiro dia foram 57,47% (óleo de milho), 58,62% (tolueno), 59,32% (óleo de soja), 62,07 (querosene), 66,30 (hexadecano) e 77,55% (óleo de motor). Ademais, é possível afirmar que com o passar do tempo a estabilidade das emulsões oscilou, mas os hidrocarbonetos ainda mantiveram os índices de emulsificação superiores a 50%, com exceção do tolueno, o qual só ficou emulsionado por um dia. Em relação aos óleos apenas o de milho não conseguiu manter o índice de emulsificação acima de 50% nos últimos 30 dias.

Vários estudos abordam a capacidade dos biossurfactantes formarem emulsões estáveis por 24 horas. Costa et al. (2006), por exemplo, utilizaram Pseudomonas aeruginosa LBI na síntese de ramnolipídeos usando como substrato os óleos de Babassu (Orbignya spp.), Andiroba (Carapa guianensis), Cupuaçu (Theobroma grandiflora), Buriti (Mauritia flexuosa), Fruto da Paixão (Passiflora alata) e Castanha Brasileira (Bertholletia excelsa) atingindo índices de emulsificação de 93-100% (tolueno) e 70-92% (querosene). Em contra partida, Bezerra et al. (2012) avaliaram esse parâmetro com ramnolipídeos formados por Pseudomonas aeruginosa AP029/GLVIIA e querosene, obtendo valores superiores a 65% por até 72 horas.

Gudiña et al. (2015a), usaram ramnolipídeos produzidos por Pseudomonas aeruginosa #112 e n-hexadecano alcançando um índice de emulsificação de 60%, enquanto Rufino et al. (2016) estudaram a influência da temperatura, pH e salinidade sobre o índice de emulsificação de biossurfactantes sintetizados por Pseudomonas aeruginosa UCP0992 em três óleos: soja, motor e milho, durante 90 dias. Eles mostraram que para todas as condições o óleo de motor apresentou as melhores respostas (85 a 100%). Porém, os óleos de milho e soja apresentaram

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valores bastante variados. A pH 9 esses óleos chegaram a mais de 88%, com 1% de NaCl foi possível chegar em 62,5% (óleo de milho) e para as temperaturas de 40 e 50ºC obteve-se medidas entre 70 e 75% depois de 24 horas, decrescendo drasticamente em seguida.

A Figura 5.12 apresenta a capacidade emulsificante do biossurfactante.

Figura 5.12 – Capacidade de emulsificação do sobrenadante I de maior concentração de

ramnolipídeo obtido no Ensaio 3 (26 g/L de glicose e 3% de inóculo) utilizando seis solventes orgânicos: querosene (Q), tolueno (T), hexadecano (H), óleo de soja (OS), óleo de motor (OMo)

e óleo de milho (OMi) após 24 horas de emulsificação.

Na Figura 5.12 observa-se que todas as amostras foram capazes de manter a emulsão após 24 horas, confirmando a boa ação emulsificante do ramnolipídeo produzido por Pseudomonas aeruginosa AP029-GLVIIA. Além disso, segundo Nguyen; Sabatini (2011), a forma como se distribui a emulsão na parte superior indica a formação de uma emulsão do tipo água em óleo (A/O), na qual a emulsão solubiliza a água em micelas reversas dentro da fase contínua (óleo).

5.3 Atividade emulsificante

Nesta análise mediu-se a atividade emulsificante (U) durante 60 minutos, de modo a avaliar a estabilidade da emulsão formada a cada 10 minutos. Os solventes analisados foram os mesmos do item anterior (querosene, tolueno, hexadecano, óleo de soja, óleo de milho e óleo de motor). A Figura 5.13 apresenta os resultados alcançados.

OS

OMo

OMi

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Figura 5.13 – Determinação da atividade emulsificante durante 60 minutos a partir do

sobrenadante I de maior concentração de ramnolipídeo, obtido no Ensaio 3 (26 g/L de glicose e 3% de inóculo). O gráfico A se refere aos hidrocarbonetos e o B aos óleos. Letras ou conjunto de letras iguais não apresentaram diferença estatisticamente significante (p < 0,05). As amostras do gráfico B não apresentaram diferença estatisticamente significativa entre elas.

A

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Segundo Cirigliano; Carman (1984) uma unidade de atividade emulsificante é definida como a quantidade de biossurfactante necessária para aumentar em 1,0 a absorbância da fase aquosa a 540 nm. Logo, quanto maior essa medida melhor a emulsão formada. Além disso, a variação da atividade indica se o composto possui uma boa estabilidade.

Nesta dissertação observou-se que dentre os hidrocarbonetos, o querosene e hexadecano apresentaram valores próximos (1,3 e 1,4 U, respectivamente), porém, a variação no decorrer dos 60 minutos foi um pouco mais acentuada para o querosene. O tolueno, apesar de apresentar o maior valor inicial, varia severamente com o tempo, ou seja, o biossurfactante é capaz de emulsificá-lo, mas a emulsão será desfeita rapidamente. No que diz respeito aos óleos, todos atingiram respostas acima de 2 e estabilidade bastante satisfatória. As análises da atividade emulsificante complementam as de índice de emulsificação, comprovando a boa capacidade emulsificante do ramnolipídeo em diferentes solventes orgânicos, além de avaliar melhor a estabilidade da emulsão formada.

Amaral et al. (2006) investigaram a produção de bioemulsificantes por Yarrowia lipolytica em meio YPD após 50 horas de cultivo e obtiveram atividade emulsificante em torno de 2 U para hexadecano. Em contrapartida, BUENO; SILVA; GARCIA-CRUZ (2010) sintetizaram biossurfactantes por Bacillus. pumilus variando a fonte de carbono (glicose, sacarose, manitol, frutose, glicose + frutose e caldo de cana). Eles utilizaram a atividade emulsificante para selecionar o melhor substrato e obtiveram valores entre 0,37 e 0,72 U.

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