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3 APROFUNDAMENTOS DA ANÁLISE DE INSUMO-PRODUTO

3.3 ÍNDICES DE ENCADEAMENTO

Prado (1981) faz uma boa discussão de como os índices de poder de encadeamento apresentados a seguir têm a ver com as propostas teóricas iniciais de Hirschman (1958) e Perroux (1967) sobre como poderiam haver efeitos propagadores de crescimento na economia a partir de determinados setores de destaque. Entre questões levantadas por Prado (1981), têm-se as limitações, as abrangências e alternativas aos indicadores.35

Antes de discussão sobre os índices, é importante explicar qual seria o efeito de um setor na sua cadeia de fornecedores e de consumidores, também denominados de efeitos de encadeamento para trás e para frente:

a) para que uma atividade seja capaz de aumentar sua produção, ela sentirá necessidade de ampliar seu consumo de bens intermediários, surtindo implicações positivas na cadeia produtiva para trás de si, porém podendo haver efeitos indiretos sobre toda a economia.36 Pode-se medir o impacto de um setor j para trás através de diversas medidas que levem em consideração a relação entre sua demanda por insumos intermediários dos diversos produtos i e sua demanda total, que inclui insumos intermediários e primários.37

b) o aumento de produção de uma mercadoria pode incentivar a produção de outros produtos da cadeia produtiva posterior a ela, provavelmente via estímulo da queda do preço da mercadoria considerada. Avalia-se o impacto o produto i para frente por fórmulas que relacionem oferta intermediária de i com a oferta total de i.38

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Para o interesse de aprofundamento do será pontuado nesta dissertação, ver esta bibliografia.

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Prado (1981) também inclui como causa de “impactos para trás” os investimentos (formação bruta de capital fixo). Todavia ele mesmo relembra o leitor que, por definição, investimentos em bens de capital não estão inclusos ordinariamente nos indicadores, pois as transações intersetoriais consideradas serão de insumos, visto que investimentos estarão convencionalmente sendo definidos como demanda final.

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A expressão demanda denota uma função, entretanto aqui está sendo utilizada em sua conotação quantidade demandada efetivamente transacionada apenas para enfatizar a diferença entre os efeitos para trás e para frente. Quanto aos insumos primários, deve-se lembrar que sua definição inclui remuneração de lucros, portanto necessariamente a demanda total de um setor é igual ao valor de sua produção total, visto que na contabilidade social o lucro é definido como um resíduo. Produto total também inclui variação de estoque.

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Diante de sua perspectiva inversa da que aqui é apresentada, necessário explicar que Prado (1981) diz que os efeitos de encadeamento para trás (a) relacionam “produção de insumos intermediários” e “produção total”. A

Chenery e Watanabe (1958) utilizavam-se dos índices e (3.3.1). Quanto mais elevados eles são, maior a relação direta que o setor j e o produto i têm com os as cadeias produtivas para trás e para frente de si. Estes autores definiam um setor como primário caso o indicador fosse menor que 0,4, pois a “demanda intermediária” do setor é significativamente pequena em relação a sua “demanda total”. Acima de 0,4 seria um setor secundário. Se for menor que 0,4 diz respeito a um produto final; se maior, então seria um produto intermediário, por ser fornecido aos setores em alta proporção ao total produzido, sendo pouco destinado à demanda final. Estes indicadores são derivados respectivamente da soma dos elementos das linhas e das colunas da matriz A.

Eles não são muito utilizados por refletirem apenas impactos diretos. Para incluir os efeitos indiretos, utiliza-se e (3.3.2), que são derivados da matriz inversa de Leontief Z, a partir da soma, respectivamente, dos elementos da coluna j e da linha i. O destaque para efeitos diretos e indiretos para análise do poder de encadeamento era feito por Rasmussen (1956).

De acordo com o modelo de insumo-produto, diante do sistema (2.17), caso

a demanda do setor j aumente em uma unidade monetária, tem-se como impacto a elevação (direta e indireta) da produção de todos os bens necessário para esta demanda pelo coeficiente . O efeito apenas direto seria obtido por . Se a questão é o aumento da produção da mercadoria i necessária para que todos os setores ofertem uma unidade monetária de produto final, tem-se o indicador . O impacto apenas direto seria captado por .

(3.3.1)

(3.3.2)

Rasmussen (1956) introduz mais dois tipos de indicadores, os quais sinalizam a relação de cada setor com o poder de encadeamento médio da economia e a relação de variabilidade entre o impacto do setor e o impacto da economia como um todo. O efeito relacionado com a média é dado por (para trás) e (para frente) (3.3.3). O coeficiente dá a proporção da

“produção de insumos intermediários” da economia utilizada pelo setor j é o “consumo intermediário” do setor j dos bens produzidos pela economia. O mesmo se aplica para o efeito para frente (b), que ele diz ser a relação entre “demanda intermediária” e “demanda total”.

média de impacto do setor j para trás em relação à média de impacto de toda a economia para trás. Se o valor for superior a 1, então o setor j destaca-se da média e tem significativo poder de encadeamento neste sentido. Significa que compra muito insumos e que variações na sua produção têm forte efeito na sua cadeia de fornecedores, sendo um grande propagador de impactos positivos e negativos sobre o nível de produção da economia. De forma análoga, entende-se que >1 significa que o produto i é fornecido para muitos setores (acima da média). Seu forte poder de propagação de efeitos positivos e negativos sobre nível de produção se dá para frente.

A partir desta metodologia, convencionou-se classificar como “setores-chave” as atividades que detiverem conjuntamente >1 e >1, pois isto corresponde por forte impacto para trás e para frente. Variações na sua produção tendem a impulsionar a economia como um todo na direção sinalizada pelo setor, seja positivamente ou negativamente.39

Como uma atividade pode ter elevado mesmo que demande massivamente um único

produto i, então é necessário a medida de variabilidade para captar se cada elemento da coluna j se afasta significativamente da média dos valores desta coluna. Se o valor der alto, indica que o setor j demanda pouco de muitos produtos e concentra sua demanda em poucos produtos. Alta variação indica efeito difuso sobre a maioria dos produtos, portanto, pouca intensidade do poder de encadeamento sobre a economia. Este índice é melhor quando menor o seu valor, pois assim, os diversos elementos da coluna j teriam valores próximos uns dos outros, demonstrando um bom grau de homogeneidade de impacto sobre os setores, não havendo concentração. Estes indicadores e (3.3.4) são utilizados como suporte aos e

para definir a abrangência dos efeitos dos setores-chave.

(3.3.3)

(3.3.4)

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