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No documento Water-proof + Hater-proof (páginas 48-51)

CIGARRA

A ECDISE

DE CIGARRA

Texto Sofia Seixo Garrucho

SOUNDSTATION SOUNDSTATION

DJ, performer, produtora, label manager e curadora são algumas das valências da CIGARRA que nas praças portuguesas e do Mundo começa a ser uma figura familiar. Foi uma das agitadoras da cena underground de São Paulo e fez parte da formação original do coletivo VOODOOHOP.

Era metade do duo JARDIM ELÉTRICO, ao lado de BIRDZZIE e em 2016 lança o seu primei-ro trabalho autoral,

Límbica

, pela Tropical Twista Records. Mais tarde, criou a sua própria label, Hysteriofônica, uma editora discográfica focada apenas em artistas femininas. O seu trabalho tem sido direcionado no empoderamento feminino dentro da cena eletrónica mundial, tendo vindo a desbravar muito caminho para novas DJs e produtoras. Sofia Seixo Garrucho esteve à conversa com CIGARRA para descobrir mais sobre o percurso e militância.

  

Antes de mais, porquê o nome CIGARRA.

Tem algum significado especial? 

CIGARRA Vixx! (risos) Vamos lá… Eu integrava um grupo onde participavam vários DJs que tinham nomes de animais, meio que por acaso. Tinha MACACA, tinha URUBU, tinha o BIRDZZIE…

Isto foi há uns 9/10 anos atrás. E aí, quando eu criei essa ideia de tocar sozinha, porque eu ti-nha uma dupla, o JARDIM ELÉTRICO com o BIRDZZIE, quando me veio a vontade de tocar sozinha, estive num festival na Chapada Diamantina e fiquei numa barraca, debaixo de uma árvore imensa cheia de cigarras. E me veio essa coisa muito forte assim, delas serem muito maravilhosas, então eu fiquei tipo: "uau, isso é muito lindo o que está acontecendo em cima de mim, mas ao mesmo tempo é muito estridente e incómodo. Mas é um incómodo do tipo: como negar? É um incómodo muito interessante e especial." E aí eu pensava naquilo que eu queria tocar e tinha um pouco a ver com isso. Tem muito a ver com casulo também, com o tempo que eu fiquei encasulada criando isso. Quando eu criei a CIGARRA, não sabia, mas fiquei saben-do logo na sequência que estava grávida. E tem muito que ver com essa nova ÁGATHA que se formou, porque quando a gente pare, a gente vira uma nova mulher mesmo. Então eu estava criando esse casulo todo, a capa do meu primeiro EP é justamente a minha barriga com uma cigarra no meio do meu umbigo, com todas as texturas, das minhas estrias, de como se de-senvolveu a minha barriga. Então acho que isso conversou de uma forma muito mágica, cheia de significados, e eu mantive, foi ficando…

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Engraçado, tu explicaste que a capa do teu primeiro EP era uma cigarra na tua própria barriga, eu pensei que fosse a ilustração de uma vulva. 

CIGARRA Pois, parece! Eu encaixei precisamente ali a parte da cabeça no umbigo para parecer um clitóris. Eu acho que tem muito a ver com isso tudo. Foi propositado.

Já lá vão mais de 15 anos de DJing. Na altura, certamente não havia o mesmo número de mulheres a produzir ou a fazer DJing. Como foi o início deste teu percurso de desbravamento de campo e abertura para outras mulheres?

CIGARRA Assim que eu comecei a produzir o meu próprio som, porque eu estava a tocar enquanto DJ e já era uma coisa muito pulsante para mim, era uma militância mesmo, boa parte dos meus sets eram compostos por músicas de mulheres do mundo inteiro, quando eu fiz meu som, as minhas músicas também tinham esse motte, eram uma apropriação de samples, construídas com vozes femininas, os nomes das músicas eram nomes de furacões e toda essa coisa de usar nomes de mulheres em catástrofes naturais. E aí, quando eu lancei o meu primeiro EP, fui con-vidada para a Tropical Twista Records a participar da label e a fazer ali dentro uma compilação só com mulheres do Mundo. E pronto, a primeira edição já foi imensa, com 20 mulheres e tal, e essa iniciativa foi muito única na época em São Paulo. Tendo contacto com a cena em todo o Mundo também foi super interessante. A partir daí eu comecei a trazer isso comigo para todo o lugar onde tocava, as entrevistas que eu dava… Essa compilação era a Hystereofônica, teve três edições e na terceira ela já era uma label dedicada só as mulheres cis e trans, que termi-nou há uns anos atrás. Eu venho sendo impulsionada por essas mulheres, esse input foi super forte, precisamente porque boa parte dessas mulheres que eu convidava para participar des-sas compilações não tinham lançado nenhuma música ainda e era sempre nesse discurso: "e aí, bora? Eu vejo no seu set que você tá produzindo alguma coisa, eu tenho a certeza", e elas:

"pow, eu nunca tive essa oportunidade", era justamente um incentivo para novas produtoras surgirem e hoje são produtoras grandes! Então isso está sendo super interessante, ver os frutos do que gerou a Hystereofônica e que depois virou também um programa de entrevistas na [Rádio] Quântica quando eu cheguei aqui. Mas é isso, eu acho que a cena desde esse tem-po para cá, a Hystereofônica parou tem-porque eu comecei a ver que está tão prolífero em volta que eu fui começando a ajudar outros projetos, labels e produtoras crescerem, fazendo o meu próprio trampo também e vendo como isso foi dando mais frutos do que eu podia acompanhar enquanto label manager, é gritante a diferença! A gente ainda está gatinhando, realmente, mas já é imenso, já teve um crescimento muito grande na cena, a nível de presença, não de repre-sentação. Estamos mais presentes e ativas, mas ainda é um trabalho de formiguinha se você for observar toda a cena mainstream. Ou seja, a gente está tendo um crescimento na cena un-derground, nalgumas cenas, mas é uma batalha diária. E então pensando em todo o resto da representação e da presença delas também, nós ainda temos muito menos slots, muito menos cachets, muito menos visibilidade, respeito e etc.

O teu primeiro EP,

Límbica

, lançado pela Twista, surge quase 10 anos após teres começado a ser DJ. Houve algum input que te levou a iniciar o processo de produção?

Como referiste anteriormente, disseste que sentias nos sets de algumas DJs que elas já andavam a fazer experiências, tu própria antes de lançar

Límbica

já tinhas vindo a fazer muitas experiências ou foi do dia para a noite que começaste a produzir? 

CIGARRA Eu vivia com a Voodoohop Collective, estava a discotecar com ABLETON e ia construin-do coisas juntas, nesse processo das nossas festas e tal, a gente ia trocanconstruin-do ideias, informa-ções juntes. Então eu já ia brincando, com o JARDIM ELÉTRICO eu já tinha umas coisas, estava muito fascinada na época pela cena do Mash Up, então ia fazendo algumas cenas. E foi sempre uma militância para mim também, de apropriação de samples. E pronto, é assim, na música eu tenho um caminho que vem de percussão, de música tradicional brasileira e pesquisas do corpo e do audiovisual. Tudo isso veio criando um mundo criativo que fez sentido. Quando eu estava a fazer coisas enquanto VJ, de produção de eventos, de performance, estava tudo totalmente in-terligado. A forma como eu fazia música era mais ou menos a forma como eu fazia tudo em vol-ta. Então para mim foi um caminho meio natural. Porém, sim, eu tinha um pouco mais de medo, um pouco menos de segurança e essa segurança veio com o convite da TWISTA. O pessoal viu o meu set e pensou assim "hey, você já está produzindo!", que é o que eu faço mais ou menos agora: ir trabalhando samples tudo junto e fazendo um live set. "Você já está fazendo música!

Que tal formatar isso em tracks e lançar um EP?" e eu fiquei "será?". E aí foi um processo de me encorajar, porque eu acho que quando você lança algo sendo autoral, quando a gente pensa em Mash Ups e edições, tem esse contra interatividade que eu gosto de brincar também. Mas assinar alguma coisa foi um processo que demorou um pouco mais para mim.

O teu trabalho é muito introspetivo e sempre com muitas homenagens ao

feminino, precisamente para trazê-lo para um meio extremamente dominado por homens, para recuperar de certa forma a feminilidade e ocupar esses espaços.

Também não te ficas só pela produção e pelo DJing, tens feito muito trabalho a nível de curadoria e produção de eventos, certo? 

CIGARRA Sim, na verdade é isso. Já em São Paulo eu trabalhava muito com isso, fazia muita festa de rua, muitas festas grandes que fazíamos em espaços alternativos. Todo esse processo que deu em MAMBA NEGRA agora, é fruto da gente ter vindo a ocupar os espaços da cidade. E aí, quando eu me mudei para cá, eu não tinha nenhuma garantia. Até ao meu último ano em São Paulo, eu estava trabalhando mais com editais, com outros projetos também em torno disso, mas eu tinha deixado de produzir eventos. E aí quando eu cheguei aqui, cheguei com uma mão à frente e outra atrás. Tinha 300€, mas já tinha umas ideias, já conhecia pessoas que faziam som aqui. Cheguei fazendo uma tour na Europa com o BIRDZZIE, que é o meu ex companheiro e pai da minha filha, tínhamos alguns bookings e tal, mas a gente sabia que ia ficar em Portugal.  

Trypas Corassão

, um projeto de

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