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NOTA 1: A dapsona será descrita com mais detalhes no tópico 2.8 desta Introdução.

2.9 Óleo de copaíba

A fitoterapia e o uso popular de plantas medicinais estão em constante expansão. A eficiência de alguns agentes fitoterápicos, usados na medicina tradicional, vem sendo avaliada e confirmada por meio de pesquisas desenvolvidas em todo o mundo (Strauch

et al., 2013; Campos et al., 2016). A eficácia de diversas plantas no tratamento de

feridas está fundamentada em sua atividade cicatrizante e preventiva da formação de escaras. Dentre as plantas mais utilizadas na medicina popular brasileira para o tratamento das feridas está o óleo extraído de árvores do gênero Copaifera, da família Leguminosae-Caesalpinioideae e conhecido como óleo de copaíba (Vieira, 1992; Cascon, 2000). Este óleo se destaca por supostas propriedades terapêuticas não só na Amazônia, mas também no nordeste brasileiro, sendo inclusive exportado para outros países em virtude de sua ampla indicação para enfermidades como cistites, bronquites, diarréia crônica, reumatismo e psoríase, além de efeitos antitetânico e cicatrizante (Gelmini et al., 2013; Campos et al., 2016; Otaguiri et al., 2016; Motta et al., 2017). O

38 óleo de copaíba é usado popularmente, em especial na Amazônia, como antiinflamatório, cicatrizante e antiinfeccioso pelas vias oral, tópica ou vaginal (Fernandes et al., 1992).

Existem mais de 60 espécies de árvores do gênero Copaifera (copaibeiras) catalogadas, são árvores nativas de regiões tropicais da América Latina e África ocidental (Herrero-Jáuregui et al, 2011). No Brasil, a copaíba é encontrada nas regiões norte, nordeste e centro-oeste, especialmente nos Estados do Amazonas e Pará (Paiva et al, 2002). Desde o século XVI, a oleorresina de Copaifera langsdorffii tem sido usada por índios brasileiros para tratamento de doenças (Veiga Junior et al, 2002). De acordo com o conhecimento popular, esta oleorresina pode ser usada como antiinflamatório, agente antimicrobiano e como cicatrizante de feridas na pele (Paiva et al, 2002; Cascon et al, 2000).

Em relação as propriedades farmacológicas da copaíba, muitas já foram cientificamente comprovadas como sua atividade antiinflamtoria (Carvalho et al, 2005), antinocioceptiva (Gomes et al, 2007), antioxidante (Paiva et al, 2004), em doenças gastrointestinais (Paiva et al, 2004; Lemos et al, 2015; Motta et al, 2017) e como analgésico (Paiva et al, 2002; Veiga-Júnior et al, 2005). O potencial como cicatrizante de feridas da oleorresina da Copaifera foi demonstrado através de diferentes modelos experimentais que apresentaram em comum o aumento da síntese de colágeno (Vieira et al, 2008; Estevão et al, 2013; Masson-Meyers et al, 2013a; Masson-Meyers et al, 2013b; Lucas et al, 2017), contudo mais estudos são necessários a fim de elucidar o mecanismo cicatrizante deste óleo.

Os efeitos terapêuticos do óleo de copaíba são atribuídos a presença de diterpenos, como o ácido copálico e sesquiterpenos, como o β-cariofileno e o α-copaeno (Mendonça et al, 2009; Pieri et al, 2010). Paiva e colaboradores, demonstraram que o óleo de copaíba é um potente agente antiinflamatório em quadros de colite induzida pela aplicação de ácido acético em ratos. Este efeito antiinflamatório foi atribuído ao fato do diterpeno ácido kaurenóico, presente no óleo de copaíba, inibir a atividade de transcrição do Fator Nuclear – Kb (FN-kB), uma importante molécula envolvida no processo de ativação celular na resposta imune inata (Paiva et al, 2002b). A

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concentração de diterpenos e sesquiterpenos que são a base dos componentes da oleorresina de copaíba, pode variar de acordo com a espécie da árvore, as propriedades do solo, as condições climáticas e o período do ano quando a extração foi realizada

(Herrero-Jáuregui et al, 2011).

O efeito cicatrizante do óleo de copaíba é uma das atividades mais mencionadas em estudos etnofarmacológicos. Contudo, existem estudos com resultados discrepantes demonstrando o efeito prejudicial do uso da oleorresina de C. reticulata e C.

langsdorffii no processo de reparo de feridas (Brito et al, 1999; Vieira et al, 2008). O

uso da oleorresina de C. langsdorffii não apresentou efeito sobre a cicatrização de feridas na mucosa intestinal (Comelli-Junior et al, 2010). Westphal e colaboradores demontraram um aumento da inflamação tecidual em ratos após injeção intrapleural de oleorresina de C. multijuga (Westphal et al, 2007). Essa diversidade de efeitos pode ser atribuída a diferentes espécies das quais a oelorresina foi obtida, o que fornece diferentes composições químicas que levam a diferentes resultados farmacológicos.

As contradições em relação aos resultados descritos na literatura são atribuídas a variação da composição química da oleorresina, mesmo quando obtida da mesma espécie em diferentes regiões (Herrero-Jauregui et al, 2011; Barbosa et al, 2013). A variação dos constituintes químicos do óleo de copaíba pode ser atribuída a sazonalidade, solo e região. Contudo, diferentes espécies do gênero Copaifera apresentam sempre um constituinte principal. As espécies C. langsdorffi e C. martii apresentam como principal constituinte o β-cariofileno, já C. paupera e C. piresii tem o α-copaeno como principal terpenoide (Zoghbi et al, 2009). Os terpenóides presentes na oleorresina de C. paupera apresenta atividade antimicrobiana contra Candida albicans e algumas bactérias Gram-positivo e Gram-negativas (Tincusi et al, 2002). Além de suas propriedades medicinais, alguns trabalhos demonstraram que o uso do óleo de copaíba é seguro, não apresenta alta toxicidade e nem atividade teratogênica (Sachetti et al, 2009; Sachetti et al, 2011).

Não há evidências sobre o uso potencial de plantas curativas como ferramentas terapêuticas para manifestações locais induzidas pelo veneno de Loxosceles. Neste contexto, a evidência científica dos efeitos desse óleo nas lesões cutâneas pelo

40 loxoscelismo, permitem o desenvolvimento de um produto com ampla aplicabilidade e benefícios para feridos por aranhas marrons, podendo servir como adjuvante ao tratamento com soro antiloxoscelico.

3. JUSTIFICATIVA

Acidentes causados por aranhas do gênero Loxosceles representam um importante problema de saúde pública no Brasil. O veneno dessas aranhas promove dermonecrose no local da picada e, eventualmente, hemólise intravascular. Divergências sobre a eficácia do soro antiveneno na neutralização dos efeitos locais resulta em diferentes abordagens terapêuticas, não sendo observada melhora da lesão local com a administração do soro após 36 horas. Neste contexto, a busca por coadjuvantes terapêuticos, como plantas medicinais assume grande importância farmacológica. O óleo extraído de árvores do gênero Copaifera, conhecido como óleo de copaíba se destaca por supostas propriedades terapêuticas e sua ampla indicação como agente cicatrizante. O óleo de copaíba é usado popularmente, em especial na Amazônia, como antiinflamatório, cicatrizante e antiinfeccioso pelas vias oral ou tópica. Há poucos artigos conduzidos com rigor científico acerca do uso potencial de plantas cicatrizantes como ferramentas terapêuticas para as manifestações locais e sistêmicas induzidas pelo veneno de Loxosceles. Em relação as ações locais do veneno, o modelo experimental que representa melhor os sintomas clínicos associados ao loxoscelismo humano é o coelho. Em camundongos não foi observada lesão no local de inoculação, contudo observou-se o desenvolvimento de processo inflamatório, desde o infiltrado na pele até o recrutamento na medula óssea, sendo possível afirmar que o veneno induz resposta celular supostamente inata nos animais C57BL/6 e adaptativa e/ou humoral nos animais BALB/c. Sendo assim, este trabalho tem como proposta comprovar cientificamente o efeito do óleo de copaíba nas lesões locais e na resposta inflamatória, permitindo o estabelecimento de um medicamento fitoterápico de grande aplicabilidade e benefício para os acidentados por aranhas marrons no país, servindo como coadjuvante ao tratamento com o soro antiloxoscélico, que é o único tratamento padronizado pelo Ministério da Saúde.

41 4. OBJETIVOS

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