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O artigo 239.º. da CRP estabelece que a organização das autarquias locais compreende uma assembleia eleita dotada de poderes deliberativos e um órgão executivo colegial responsável perante ela. Deste preceito constitucional decorre que o Município dispõe de dois órgãos, um de natureza deliberativa e outro de natureza executiva. Importa agora saber o que é um órgão. Órgão «é o elemento da pessoa colectiva que consiste

num centro institucionalizado de poderes funcionais a exercer pelo indivíduo ou pelo colégio de indivíduos que nele estiverem providos com o objectivo de exprimir a

vontade juridicamente imputável a essa pessoa colectiva»58. A este propósito importa

aqui fazer referência à posição defendida por Sérvulo Correia, segundo o qual «O

exercício dos poderes funcionais tem por vezes não directamente o objectivo de exprimir a vontade jurídica imputável à pessoa colectiva, mas o de exercer sobre outro órgão da mesma pessoa colectiva, efeitos de direito necessários à validade ou eficácia da vontade dessa pessoa, manifestada do outro órgão sujeito àqueles poderes, é o caso, por exemplo de determinadas deliberações da câmara municipal que carecerem da

aprovação da assembleia municipal para se tornarem eficazes e executórias»59. O

artigo 250.º da CRP estabelece que são órgãos representativos do Município a Assembleia Municipal e a Câmara Municipal. A Assembleia Municipal é o órgão deliberativo do Município e é constituído por membros eleitos diretamente em número superior ao dos presidentes de Junta de Freguesia, que a integram, ao passo que a Câmara Municipal é o órgão executivo colegial do Município, atento o disposto nos artigos 251.º e 252.º da CRP. Neste sentido também vai a LAL que refere no n.º 2 do seu artigo 2.º que os órgãos representativos do Município são a Assembleia Municipal e a Câmara Municipal. A Assembleia Municipal é o órgão de natureza deliberativa do Município ao passo que a Câmara Municipal é o órgão executivo colegial, de acordo com o disposto nos artigos 41.º e n.º 1 do artigo 56.º da LAL. A organização do Município compreende, deste modo, a divisão de poderes entre um órgão deliberativo, a Assembleia Municipal, responsável pela aprovação das linhas essenciais da política autárquica, e um órgão executivo, a Câmara Municipal, que concebe e executa as

58 MARCELLO CAETANO – Manual de Direito Administrativo vol I, 10.ª ed., 6.ª reimpressão, Almedina, Coimbra, 1997, p. 204. 59

políticas. Registe-se contudo que este novo regime procedeu à extinção do Conselho Municipal, cuja criação deste órgão era no entanto de carácter facultativa. O artigo 253.º da CRP na redação anterior à revisão de 1989 disponha «1. A assembleia municipal

pode instituir, como órgão consultivo, um conselho municipal. 2. A lei define as regras de composição do conselho municipal, de modo a garantir adequada representação às organizações económicas, sociais, culturais e profissionais existentes na área do município.» O conselho municipal estava regulado nos artigos 56.º a 68.º do Decreto-

Lei n.º 100/84, de 29 de Março. Não obstante decorrer da Constituição, bem como da LAL que os órgãos do Município são a Assembleia Municipal e a Câmara Municipal, refere o Professor Diogo Freitas do Amaral que no Município «(…) é órgão deliberativo

a Assembleia Municipal; são órgãos executivos a Câmara Municipal (…) e o

Presidente da Câmara Municipal»60. O artigo 15.º do Código Administrativo de 1940

estabelecia que os órgãos do Município eram três: o Conselho Municipal61, a Câmara Municipal e o Presidente da Câmara Municipal, contudo este preceito foi revogado pela Constituição. Refere o mesmo autor a propósito do artigo 150.º da Constituição que

«(…) este preceito constitucional está, a nosso ver, mal redigido e comporta pelo menos um erro técnico, que consiste em a Constituição não referir o Presidente da Câmara Municipal como órgão representativo do município, quando na verdade é que no nosso direito actual o Presidente da Câmara é, efectivamente, um órgão representativo do município,(…).Em nossa opinião, pois, os principais órgãos do município no actual direito português são os seguintes: a Assembleia Municipal, a Câmara Municipal; e o Presidente da Câmara. Não é pelo facto de a constituição ou as leis qualificarem o Presidente da Câmara como órgão, ou não, que ele efectivamente é ou deixa de ser órgão do município, ele será órgão ou não, conforme os poderes que a lei lhe atribuir no quadro do estatuto jurídico do município. O Presidente da Câmara é hoje um órgão de vasta competência executiva (…)» O presidente da câmara municipal é titular das seguintes funções: a) Presidencial, b) Executiva e c) Decisória. Além da sua competência própria, o Presidente da Câmara exerce também uma considerável competência delegada, atento o consagrado na LAL. Para o Professor José de Melo

Alexandrino a explicação para a não inclusão na Constituição do Presidente da Câmara

60 DIOGO FREITAS DO AMARAL, Curso de Direito Administrativo, vol 1, 2.ª ed., reimpressão, Almedina, Coimbra, 1998, p.

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Municipal como órgão do Município, «encontra-se na reacção ao regime autoritário do

Estado Novo (…) reacção que se pautou: (1) pela introdução de um sistema de matriz parlamentarista, (2) pelo apagamento da figura do presidente da câmara e (3) pela previsão de três colégios (assembleia municipal, câmara municipal e conselho

municipal) como órgãos representativos do município».62 Sobre esta questão referem os

Professores Jorge Miranda e Rui Medeiros que «Porém, apesar do carácter

representativo por excelência que se diria estar reservado para os presidentes dos executivos, é um facto que a Constituição os exclui reiteradamente do elenco dos órgãos representativos das diversas espécies de entes autárquicos (…) tal exclusão parece significar que os presidentes, sendo indubitavelmente representativos, não têm a

natureza de órgãos»63.

62 PAULO OTERO/PEDRO GONÇALVES/JOSÉ DE MELLO ALEXANDRINO/ISABEL CELESTE M. FONSECA M. /ANA

FERNANDA NEVES, Tratado de Direito Administrativo Especial, vol. IV, Almedina, Coimbra 2010, p. 153.

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