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2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.7. Propriedades do concreto betuminoso usinado a quente com agregados reciclados de

2.7.1. Teor ótimo de ligante

A absorção do ligante pelo agregado reciclado é fato indiscutível e consenso entre todos os estudos. Apesar de o agregado reciclado demorar mais que o natural para ser totalmente envolvido pelo ligante, no momento da extração do betume, o agregado reciclado apresenta maior resistência para ficar totalmente livre do ligante, sendo visível a presença do ligante nos poros desse tipo de agregado (MARINHO, 2011).

Em um estudo realizado por Aldigueri et al. (2004), os pesquisadores verificaram uma diferença de 0,6% no teor ótimo de ligante entre misturas executadas com compactador manual e outras com compactador automático, devido a variações na frequência de aplicação dos golpes, que ocasionavam diferenças nos resultados das densidades aparentes e dos volumes de vazios das misturas.

Wong et al. (2007) explicam que uma estrutura porosa, encontrada nos ARC, também se traduz em mais vazios e uma maior área de superfície, requisitando assim uma maior porcentagem de ligante. No entanto, existe um fator positivo, uma estrutura mais porosa preenchida com o ligante, pode gerar uma mistura mais elástica, resultando em maior resistência à deformação.

Pérez et at. (2011) explicam que a alta taxa de absorção do agregado reciclado de concreto é uma propriedade que incentiva o deslocamento do betume pela água, originando a perda de adesividade dos agregados e uma perda generalizada de propriedades mecânicas.

É consenso no meio acadêmico que a argamassa de cimento aderido ao agregado graúdo que conferem essa alta absorção de água no material. Por isso, se torna importante realizar uma pesquisa mais extensa para estudar o comportamento durabilidade do CBUQ feito com agregado reciclado de concreto (PÉREZ et al., 2011).

Mills-Beale e You (2010) verificaram que a absorção de uma parcela do asfalto pelos poros do agregado era proporcional ao aumento da quantidade de agregado reciclado de concreto, reduzindo, assim, o conteúdo efetivo de asfalto na mistura.

Apesar do foco desse capítulo se tratar da utilização de ARC em CBUQ, é importante mencionar o estudo de Branco (2004), que estudou a substituição de

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agregados naturais no CBUQ por escória de aciaria, que possui altos teores de absorção e elevada porosidade, Para explicar o fenômeno a pesquisadora apresenta um esquema que representa a interação ligante-agregados para a compensação da heterogeneidade do material, apresentado na Figura 2.8.

Figura 2.8 – Esquema da interação ligante-agregado para a compensação da heterogeneidade do material (BRANCO, 2004).

Silva (2009) constatou que a absorção do ligante, devido à alta porosidade dos agregados estudados (entre 17% e 20%), é 73% mais elevada nas misturas com CAP 30/45 da faixa B e 62% maiores nas misturas da faixa C com o mesmo ligante, quando comparadas às misturas com CAP 50/70, contribuindo para enfatizar a questão afirmada por Wesseling (2005), de que o comportamento das misturas asfálticas são dependentes das características dos agregados e do ligante. Silva (2009) ainda verificou que nas misturas estudadas com CAP 30/45 na faixa B do DNIT, foram absorvidos 38% do ligante contra 19% da mistura na faixa B com CAP 50/70. No caso das misturas da faixa C, a absorção do ligante chegou a 41% com CAP 30/45 e 22% com CAP 50/70.

Na pesquisa de Zhu et al. (2011), o pré-tratamento de agregado graúdo reciclado por resina de silicone líquido diminuiu a absorção de asfalto da mistura em 88,8%.

O excesso de ligante causa fluência excessiva, escorregamentos de massa, exsudação e deformação permanente. Por outro lado, a escassez incorre em excesso de vazios com ar e desagregação ou trincamento precoce do concreto asfáltico (BERNUCCI et al., 2006).

Segundo Vasconcelos (2003), um revestimento pode desagregar, ou trincar, caso haja deficiência de menos de 0,5% de ligante asfáltico em relação ao valor de ótimo de ligante. Assim como pode apresentar exsudação e deformação permanente caso haja 0,5% de excesso.

Silva (2009) verificou teores ótimos de ligante variando entre 9,0% e 9,5%, em todas as misturas realizadas, sendo superiores ao comumente utilizado na região, nas misturas realizadas com agregado natural.

Wong et al.(2007) verificaram teores ótimos de ligante de 5,3%, 6,5%, 7,0%, para a mistura com 6% de agregado de concreto (< 0,075 mm) não tratado termicamente, com 45% de agregado de concreto (< 3,15 mm) não tratado termicamente e com 45% de agregado de concreto (< 3,15 mm) tratado termicamente, respectivamente. O maior teor de ligante obtido para mistura com 45% de agregado de concreto termicamente tratado pode ser parcialmente atribuído à textura mais porosa da superfície do agregado de concreto.

Guimarães e Ribeiro (2005) constataram teor ótimo de ligante 8% para as misturas com agregado reciclado de CCR, sendo que a mistura referência apresentou 5,5% de teor ótimo de ligante. Apesar das misturas com agregado de CCR estarem de acordo com as especificações, apresentaram alto consumo de CAP quando comparadas à mistura de referência. O elevado teor ótimo de ligante foi atribuído à alta porcentagem de vazios decorrentes da porosidade e absorção dos agregados reciclados.

Ron et al. (2008) também verificaram aumento do teor de ligante de 5,7%

para 7,6% nas misturas em que houve substituição de agregado natural por agregado reciclado.

Paranavithana e Mohajerani (2006) concluíram que o teor ótimo de asfalto é maior para as amostras feitas com os agregados reciclados miúdos em comparação com aqueles feitos com agregados graúdos.

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Frota et al. (2004) apud Marinho (2011), Ron et al. (2008) e Silva (2009), consideraram que o aumento no teor de ligante das misturas devia-se ao fato da alta porosidade e absorção dos agregados reciclados. Além disso, verifica-se que esses pesquisadores utilizaram filer na dosagem das misturas, e, provavelmente o aumento na superfície específica dos grãos, ocasionada pela presença dos finos do fíler, contribuíram para o aumento no consumo do ligante.

Existe uma possibilidade do acréscimo no teor de ligante observado nas pesquisas anteriores desestimular o uso deste material, em função do custo elevado do ligante. Segundo Bernucci et al. (2006), o CAP representa de 25% a 40% do custo da construção do revestimento. Os pesquisadores consideram que uma das formas de reduzir a sensibilidade das misturas betuminosas a pequenas variações do teor de ligante, mesmo dentro do admissível em usinas de asfalto, e torná-las ainda mais resistentes e duráveis em vias de tráfego pesado, é substituir o ligante asfáltico convencional por asfalto-borracha ou por ligante modificado por polímero.