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AS FASES DO AMOR

O amor é grande e cabe nesta janela sobre o mar. O mar é grande e cabe na cama e no colchão de amar.

O amor é grande e cabe no breve espaço de beijar. CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

 

O amor é um sentimento tão potente que, se não tomarmos cuidado, poderemos pensar que ele nos transforma em super-homens, em seres imbatíveis, imunes a todos os perigos da vida. Quase todos pensam que, pelo fato de o casal estar apaixonado, tudo evolui como um mar de rosas. E, quando isso não ocorre, vêm a decepção e a solidão.

Existe uma seqüência de etapas no caminho do casal. Cada uma delas com desafios próprios que exigem muita atenção e cuidado. É importante conhecer as várias fases de um relacionamento para evoluir junto com a relação.

A primeira delas é a atração. Mesmo levando em conta todas as nossas tendências pata buscar determinado companheiro ou companheira, até hoje pouco se conseguiu saber sobre como se processa uma atração. Na verdade, ela é resultado de um somatório de elementos. A biologia, a química, a psicologia, a filosofia, a sociologia e outras tantas abordagens teriam muito a dizer sobre o tema. Mas existe uma coisa que ninguém explica: o jeito de ser que fascina e que difere de pessoa para pessoa. Cada um de nós é atraído por alguém que nos dá a impressão de ser a resposta que procurávamos. Quando nos sentimos atraídos, muitas vezes nem conhecemos a pessoa para saber se ela é mesmo a resposta que buscamos. As pessoas atraem- se

mutuamente, independentemente de idade ou sexo. Pode- se achar alguém inteligente, bonito, simpático, divertido, sensual, alegre, ambicioso, e em algumas pessoas há uma mistura de atributos que as toma irresistíveis para nós.

Logo depois da atração surge a fase romântica do casal. É o momento dos sonhos, das fantasias, das idealizações, das imagens de príncipes e princesas encantados; é um compartilhar de ilusões. Parece que tudo vai ser belo e durar para sempre. Uma fase lindíssima e muito importante na relação, pois a embeleza e se tornará depois fonte de lembranças inesquecíveis no futuro.

Essa etapa, contudo, não garante necessariamente uma relação estruturada de modo saudável. Pode ser que exista amor ou não. Só o conhecimento mais profundo um do outro é que mostrará quanto um deseja que o outro cresça, quanto um permite que o outro se liberte, continuando os dois, ao mesmo tempo, juntos, lado a lado, ajudando-se e, nos momentos em que for necessário, questionando-se com objetividade e carinho.

Após a fase romântica, as pessoas se deparam com as limitações do jeito de amar do outro, e as dificuldades então aparecem. É chegada a hora da fase do reencontro. Isso mesmo, é o momento de você descobrir se de fato quer estar com essa pessoa que agora se tornou real. Há a constatação de hábitos diferentes. Geralmente, este é o momento das pequenas ou grandes decepções, e existem duas maneiras negativas de procurar evitá-las: a separação, para buscar alguém mais adequado, ou a acomodação, para não enfrentar as diferenças e os confrontos.

A forma positiva de encarar essa fase é dar-se conta de que, às vezes, as igualdades podem incomodar tanto quanto as diferenças! Quando os dois adoram a cor amarela, vão decorar a casa sem estabelecer nenhum contraste. Será tudo amarelo. Não haverá contraponto. Mas

quando existem diferenças é possível fazer combinações criativas, O parceiro mais organizado, por exemplo, poderá cuidar dos horários da casa e das datas de vencimento das contas, e o mais criativo se responsabilizar pelas quebras de rotina no fim de semana, sempre inventando novidades e surpresas.

A partir daí, tem início, em geral, a fase da ambivalência, que acompanha a maioria das pessoas que não sabem se entregar inteiramente à relação. Surge o desejo de ficar e melhorar a relação e, ao mesmo tempo, a vontade de ir embora.

Mais uma vez, tudo depende da capacidade de amar, inerente a cada um. Aprender a dizer duas palavras no momento certo: sim e não. Saber que às vezes, com um pouco de boa vontade, pode-se facilitar as coisas para chegar a um final pretendido; outras vezes, pode- se colocar um limite, impedindo um desfecho não desejado. Saber dizer sim, como um rio que sempre quer ir adiante, mas também saber dizer não, como um pai cuidadoso quando vê que avançar é inadequado.

Se o casal não se acomoda, pode cair na fase da luta de poder, quando um tem a necessidade de controlar o outro, na tentativa de impor seu jeito de amar. É comum, nessa fase, um pretender que o outro pense como ele. Na luta de poder há sempre a disputa pela palavra final. Não há concessões nem acordos, e a cada dia a comunicação fica mais difícil entre os dois.

Essa etapa é superada quando os dois aprendem que o importante não é impor sua vontade, mas descobrir um jeito novo de amar que satisfaça aos dois.

Esse é o momento em que ambos precisam pôr de lado o desejo de estar certos e assumir o compromisso de fazer esse relacionamento dar certo. Esta é a sabedoria

maior: dedicar mais energia em busca da felicidade dos dois do que em fazer tudo para ter razão sozinho.

Quando o casal não aprende a compartilhar, a crescer junto, cai na fase da desilusão e do afastamento.

Não pretendemos fazer uma afirmativa matemática, garantir que, tendo chegado a esse ponto, as pessoas necessariamente se separam. Apenas seguimos os passos da maioria dos casais que apresentam problemas de relacionamento. No entanto, a desilusão é um aspecto comum a todas as pessoas e, conseqüentemente, a todos os casais, em diferentes níveis. A desilusão é quase sempre conseqüência de uma expectativa frustrada, de um desejo não atendido. É nessa fase que surgem as dúvidas: "Será que vai dar certo?" Sucedem-se as alternativas entre ser fiel e manter relações extraconjugais, entre crescer com o par e buscar alguém que corresponda aos seus sonhos, começando tudo outra vez.

Muitos casais ficam alternando fases de ambivalência com lutas de poder, desilusão e afastamento. Às vezes, têm a ilusão de que a relação evoluiu, mas o resultado final mostra que somente se trocou de fase de sofrimento.

É importante estar atento para não correr o risco do engano — pensar que há estabilidade na relação quando, no entanto, uma das partes já se afastou. Para evitar isso, faz- se necessário um contato mais aberto, profundo, freqüente, confiante e sincero.

Se o casal resolver avançar na relação e quebrar esse círculo de sofrimento, vem a fase da transformação, quando se aceita a responsabilidade e se tem consciência de ser responsável pela própria felicidade. Ambos se dão conta do que existe de bom entre si, apreciam a sinergia que passa a uni-los, fazem mais coisas juntos do que separados, aceitam diferenças e inconstâncias, desenvolvem o sistema de

resolução cooperativa de problemas. É o estilo "posso acariciar sua cabeça enquanto você toca meus pés". De fato, cada um progride muito, cresce, toma novas dimensões. Nessa fase, o casal se constrói a cada dia, e esse fazer-se cotidiano é que transforma.

Nesse ponto surgem sonhos novos, mais amplos e mais reais, e o casal pode lembrar-se daquele verso de Mário Quintana: "Sonhar é acordar-se para dentro".

Após a transformação, o próximo passo é o da estabilidade e do compromisso, quando a relação se torna madura e os parceiros adquirem a certeza de querer estar um com o outro, sem medo das palavras "eterna" e "para sempre". Nessa fase, a experiência do amor significa liberdade no mais elevado sentido. Amar passa a ser agir livremente, sem compulsão nem coerção. Nesse período, o amor e a liberdade verdadeira passam a ser sinônimos, sendo o amor a mais elevada forma de liberdade. Compulsão e coerção são a própria negação do amor. Quanto maior o amor, maior a liberdade. Quem ama é livre.

O casal que souber amar e se comprometer profundamente passará, então, para a fase da expansão, quando faz novos amigos, tem filhos, estabelece novas metas em níveis sociais e desenvolve valores espirituais conjuntos.