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Ação Coletiva no COMPAC

No documento apariciowolnerbiondo (páginas 102-105)

5. AÇÃO COLETIVA ENTRE O CAMPO TURÍSTICO E O CAMPO

5.6 ANÁLISE DOS CAMPOS SOCIAIS REPRESENTADOS PELO COMPAC E

5.6.2 Ação Coletiva no COMPAC

A partir do Modelo de Estruturação dos Sistemas Sociais de Ação Coletiva de Pimentel (2012) pode-se descrever como ocorre a interação entre os agentes do campo do patrimônio cultural de Cataguases. Para tanto, há o relato de como as organizações/entidades individuais fazem coalizões até chegar, ou não, em uma ação coletiva.

A partir da caracterização do campo, é possível observar qual o jogo se desenvolve. Neste sentido, é possível identificar: sua forma de funcionamento - diante da identificação dos agentes presentes e envolvidos; as posições destes atores (volume de capital); quais os objetos de disputa entre eles, bem como as regras do jogo e as estratégias de ação de tais agentes (Pimentel, 2012).

Para a existência de uma dinâmica de relações entre os atores, representada pelo acontecimento do jogo, assim como para a existência do campo, é preciso existir um espaço físico (e social), onde estes atores estarão distribuídos e em possível interação. Essa dimensão espacial é de grande importância, pois nela os constrangimentos estruturais acontecem e são materializados. Como foi analisado nas seções anteriores, a abertura do COMPAC ocorreu no ano de 2009 e o campo do patrimônio é um relativamente consolidado, já que a cidade é um polo do modernismo cultural e possui diversos bens tombados.

Deste modo, em Cataguases, existe uma situação de copresença entre os atores do patrimônio cultural em função da existência do COMPAC. Essa interação somente é possível porque os agentes ocupam o mesmo espaço e tempo para se reunirem periodicamente. Além

disso, verificou-se que a frequência dos agentes no COMPAC é alta. Isto quer dizer que são poucos os que não participam frequentemente, visto que 80% dos participantes frequentaram 50% ou mais das reuniões ocorridas no ano de 2017 e 2018. Verifica-se uma maior presença entre a Secretaria de Cultura e Turismo (Presidente) – 100% de presença, do Departamento Municipal do Patrimônio Histórico e Artístico de Cataguases – DEMPHAC (Secretário Executivo) – 100% de presença, Secretaria Municipal de Educação e a Secretaria Municipal de Obras, ambas com 91,66% de presença. Sem a condição de copresença entre os indivíduos, não é possível a interação e, sem interação, não existe realidade social. Dessa forma, a situação de copresença é fundamental, mas não exclusiva, para a formação e análise da ação coletiva (PIMENTEL, 2012).

Em Cataguases, a partir da situação de copresença existente no COMPAC, os agentes têm a capacidade de formar uma identidade coletiva. Precisamente, por participarem das reuniões, se favorece o intercâmbio de ideias e ações entre os membros do conselho, bem como a formação de uma identidade coletiva, que caracteriza o momento 2 do modelo de análise usado como marco teórico-analítico deste trabalho.

Um tema central e interessante que exemplifica a coesão entre os membros relaciona-se com a lei que regula a modificação das fachadas. Nessa discussão fica evidente a participação de todos. Este tema foi introduzido quando o presidente do conselho no período analisado havia recentemente assumido o cargo como Secretário de Cultura e Turismo. A lei anteriormente não era respeitada, sendo que através dos debates os atores reconheceram o tema como algo importante e criaram uma noção sobre a deliberação.

Nesse sentido, foi identificado que o COMPAC é atuante nas deliberações e não apresenta problemas relacionados a existência de quórum para a realização das reuniões, segundo mencionado pelo presidente do conselho. Ademais, o mesmo afirma que em geral os debates são produtivos e as deliberações são sensatas:

[...]nós temos um conselho muito atuante, que é o conselho do patrimônio, [...] vide o porque a gente consegue no conselho de patrimônio, a gente fazer acontecer e fazer as deliberações e as reuniões tem quórum sempre, é raramente que tem a segunda chamada, a reunião extraordinária por falta de quórum [...]. E por ser mais atuante e as pessoas terem um conhecimento maior do conselho, talvez por isso que funcione mais, por isso que ele se torne mais atuante, até por questões, deliberações, as deliberações são sensatas, são sensatas, e de acordo com o que realmente temos capacidade e principalmente os recursos do ICMS do patrimônio. [...] os conselheiros participam constantemente do treinamento voltado para o conselho, o conselho em si e os membros que gere o departamento junto participam de cursos e tudo mais. [...] porque também ele é muito, ...através de órgãos representativos, então é sempre mantido, tem continuidade ao longo dos anos (representante da Secretaria de Cultura e Turismo).

Além disso, como se evidencia na fala do presidente do COMPAC (citação acima), os conselheiros participam de capacitações e levam o aprendizado aos outros membros, observando-se internamente uma transferência de capital entre os mesmos. Outro aspecto relevante é a verificação de inclusão de pauta pelos membros, como nos debates sobre os esclarecimentos relacionados à lei de Toldos e Engenhos.

Deste modo, parece haver uma identidade comum formada. Todos os atores têm noção de sua importância e de seu papel no debate, refletindo em uma relação que tende a ser equilibrada. Apesar de apresentarem alguns interesses e opiniões divergentes, estão de acordo com muitas questões relativas ao patrimônio cultural da cidade e usam o espaço de debate para esclarecer questões e propor demandas.

E isso foi muito legal. Quando eu falo do fortalecimento da participação mesmo dos conselhos. [...] eles entenderem de fato que é importante se posicionarem, mesmo que eu não entenda tecnicamente, você escuta, concorda, discorda, coloca lá o que você tá pensando, escuta o que está sendo dito, escuta a explicação técnica, às vezes entende, as vezes não entende, é normal (representante da Secretaria de Obras).

[...] O nosso objetivo de participar [...] do patrimônio cultural, por motivo de ser associações de Bairro dentro do bairro existem patrimônios históricos, dentro do bairro existe, dentro, uma coisa de antiguidade, entre o bairro e a gente faz esse levantamento. Então é aonde que a gente tá. […] (representante UAMC).

[...] os secretários têm a preocupação com a recuperação do patrimônio que está degradado, como exemplo o Cine Edgard, que há muito tempo está fechado, ...então é mais para recuperação desses patrimônios e a manutenção deles... limpeza. (representante da Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos).

[...] a gente apoia muitas coisas do que for necessário (representante OAB).

Assim, por meio das entrevistas, foi observado que os atores que participam do conselho compartem de uma ideia comum de que é necessário haver uma gestão do patrimônio capaz de manter as características arquitetônicas de Cataguases. Verifica-se, então, uma real interação dos agentes que estão presentes nas reuniões e participam ativamente das discussões que estão em pauta.

Em Cataguases, o momento 3 de estabelecimentos de poder ainda não existe. Não se verifica, dentro do conselho, mecanismos formais de coordenação, tampouco hierarquia bem definida, rotina de trabalho, compromisso com metas e resultados, mecanismos de estabilização, além da busca para que as atividades se perpetuem de maneira recorrente.

Então acaba que fica, eu vejo assim, a primeira impressão que eu tive é que fica um pouco travado ainda, por diversas questões, principalmente pela falta de um apoio técnico que possa avaliar as ideias que lá são trazidas. E pensar sempre no que é melhor para grande maioria, eu acho que os projetos devem ser priorizados, dessa

forma e que isso possa realmente acontecer. [...] Então as câmaras e os conselhos às vezes focam muito mais dos problemas do que nas inovações, no que pode ser feito, ser realizado realmente[...] (representante FIC/Grupo UNIS)

Entende-se por meio destas questões que o COMPAC, apesar de ter uma interação em um estágio médio, ainda não apresenta uma rotina, metas, cumprimento de resultados. O que se evidencia é a existência de atores mais centrais, que direcionam o tema que entrará em pauta. Como foi tratado, de todos os temas discutidos, o presidente do conselho – Secretaria de Cultura e Turismo - assume uma posição central, representando todo o grupo. Realiza 33,33% de todas as intervenções, seguida pelo Secretário Executivo com 16,67%. Por outro lado, através das entrevistas realizadas, foi mencionado que o representante do Departamento Municipal do Patrimônio Histórico e Artístico de Cataguases é um ator que permanece no conselho por diversas gestões municipais, além de influenciar na colocação de pautas e concretização de ações. Deste modo, observa-se a consolidação de um ator influente no campo. Ambos os atores mais centrais são reconhecidos por outros atores como posicionados centralmente no campo.

Por outro lado, o conselho apresenta poucos membros. São apenas dez que fazem parte do COMPAC. Isso evidencia, de certa forma, que o conselho ainda é pouco institucionalizado.

Portanto, em síntese, pode-se inferir que o COMPAC se encontra no momento 2 - Momento de identificação de estruturação de uma ação coletiva. Nessa análise processual, se identifica que as características do conselho são as de formação de uma identidade, ainda que não esteja completamente consolidada. Há identificação entre os atores dentro do campo. Todavia, o estabelecimento de ritos institucionalizados e de um líder é dificultado pela forte dependência do setor público, o que impacta a possibilidade da elaboração de objetivos e metas de médio e longo prazo, bem como de uma agenda consolidada. Além disso, a alta dependência de recursos do setor público para a concretização de ações dificulta que se concretize algumas decisões.

No documento apariciowolnerbiondo (páginas 102-105)