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2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.3 Ação de compostos antioxidantes naturais

Antioxidantes são substâncias vitais porque podem proteger o organismo dos danos causados pelo estresse oxidativo. Eles podem exercer seus efeitos removendo radicais livres presentes nos sistemas biológicos, atuando desta forma de maneira direta, como também podem ativar vias de sinalização celular em resposta ao estresse agindo, neste caso, de maneira indireta (RATNAM et al., 2006).

Estudos epidemiológicos têm demonstrado que compostos antioxidantes apresentam propriedades anti-inflamatórias, antiateroscleróticas, antitumorais, antimutagênicas, anticarcinogênicas, antibacterianas e antivirais em maior ou menor extensão (SALA et al., 2002; OWEN et al., 2000; MITSCHER et al., 1996). Muitos antioxidantes sintéticos, tais como o hidroxianisol butilado (BHA) são muito efetivos. No entanto, eles possuem efeitos adversos e são tóxicos para humanos (LABRADOR et al., 2007). Desta forma, compostos, especialmente aqueles provenientes de fontes naturais capazes de proteger contra o dano mediado por ERO, podem ter aplicações potenciais na prevenção de doenças humanas.

Evidências epidemiológicas demonstram que dietas ricas em frutas e vegetais promovem a saúde e atenuam, ou retardam o começo de doenças cardiovasculares por apresentarem substâncias antioxidantes, as quais podem ajudar na prevenção ao dano oxidativo (AKINMOLADUN; OBUOTOR; FAROMBI, 2010; HOLT et al., 2009). Esses efeitos benéficos de frutas e vegetais têm sido largamente conferidos aos polifenóis (flavonóides e taninos),

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uma vez que a ingestão de alimentos ricos em polifenóis está associada, em modelos experimentais humanos e animais, com diminuição em: i) dislipidemias e aterosclerose; ii) disfunção endotelial e hipertensão; iii) ativação da placa aterosclerótica e trombose; iv) processos inflamatórios associados com a indução e perpetuação da doença cardiovascular (BERTELLI; DAS, 2009).

Terpenóides e flavonóides apresentam propriedades anti-inflamatórias, antioxidantes e neuroprotetoras (MU et al., 2007), saponinas e taninos apresentam propriedades analgésicas e anti-inflamatórias (LAI et al., 2010) e além destas, possuem consideráveis propriedades anticancerígenas (SUR et

al., 2001). Plantas que contêm alcalóides têm sido utilizadas por humanos há

séculos com fins terapêuticos. Os alcalóides são conhecidos por suas atividades antimaláricas, antimicrobianas e citotóxicas (OLOYEDE et al., 2010). Compostos com atividade citotóxica são potencialmente interessantes por si só ou por levarem ao desenvolvimento de novos fármacos promissores no tratamento do câncer, bem como fármacos que combatam parasitas e infecções virais. Extratos de plantas que contenham estes compostos podem servir como uma fonte potencial de substâncias bioativas na prevenção de desordens causadas pela geração de radicais livres.

O conhecimento recente sobre os mecanismos pelos quais compostos dietéticos fenólicos apresentam um papel na prevenção de patologias degenerativas foi revisado por Crozier et al., (2009). Em particular, as complexas interações entre estas moléculas dietéticas e seus alvos moleculares ativam vias de sinalização em resposta celular, entre elas a via de sinalização do fator nuclear κB (NF-κB), a proteína ativadora 1 (AP-1), enzimas de detoxificação de fase 2 e Nrf, além da via de sinalização das MAPKs (CROZIER; JAGANATH; CLIFFORD, 2009).

As vias de sinalização celular ativadas por compostos naturais dietéticos são numerosas e diferentes para compostos diferentes. Além disso, o mesmo composto pode ativar diferentes vias de sinalização dependendo do tipo celular. Múltiplos receptores de fatores de crescimento [receptor do fator de crescimento epidermal (EGFR), receptor do fator de crescimento semelhante à insulina 1 (IGF-1R), fator de crescimento de fibroblastos (FGF), receptor do fator de crescimento derivado de plaquetas (PDGFR)] são ativados na

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superfície celular durante a gênese tumoral. A ativação destes receptores consequentemente ativa uma cascata de outras vias de sinalização celular. Dentre essas vias, as vias Ras-MAPK (como ERK e JNK), a via da quinase Janus- tradutores de sinal e ativadores da transcrição (JAK-STAT), PI3K/AKT e NF-κB são importantes e são alvos de agentes quimiopreventivos naturais (Revisado por AMIN et al., 2009).

Alguns agentes naturais inibem receptores na superfície celular tanto pela desfosforilação quanto por induzir a degradação destes, o que então modula vias de sinalização importantes para proliferação, angiogênse e apoptose. Existem ainda compostos naturais que geram espécies reativas de oxigênio, que por sua vez, ativam membros da família p53 e induzem uma parada no ciclo celular, o que consequentemente também favorece a apoptose. As principais vias de sinalização inibidas por compostos naturais são AKT, ERK, o fator de transcrição NF-κB e a via das proteínas ativadas por estresse/ quinases ativadas por mitógenos (SAP/MAPK) (Revisado por AMIN et al., 2009).

Vários compostos naturais como o resveratrol, tangeretina e ligustilide inibem a via de sinalização SAP/MAPK in vitro. Além disso, uma nova geração de pequenas moléculas inibidoras de SAP/MAPK que demonstram especificidade por JNK, ERK e pelas isoformas da quinase p38 têm sido promissoras em estudos animais e poderiam eventualmente provar a eficácia destes compostos no tratamento de doenças humanas (Revisado por MALEMUD, 2007).

Polifenóis do cacau (flavonóides e procianidinas) podem exibir atividade antioxidante e anti-inflamatória, assim como atividade antiaterogênica. Vários alvos moleculares (como NF-κB, óxido nítrico sintase induzível- iNOS e a enzima conversora de angiotensina) têm sido recentemente identificados em experimentos com cultura de células in vitro e em estudos em modelos animais

in vivo, juntamente com triagens em humanos, provando que a presença de

flavonóides e procianidinas podem, em parte, explicar os efeitos cardiovasculares benéficos do cacau, mesmo em pó, como chocolate, ou provindo de diferentes bebidas ricas em flavonóides (RIMBACH et al., 2009).

Recentemente, o açaí tem sido considerado como uma nova “super fruta”. A composição fitoquímica do açaí, principalmente os constituintes

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polifenólicos, incluindo as antocianinas e proantocianidinas, tais como as cianidina-3-glicosídeo e cianidina-3-rutinosídeo, e outros flavonóides (SCHAUSS et al., 2006b) lhe conferem propriedades antioxidantes e anti- inflamatórias (POULOSE et al., 2012; HOGAN et al., 2010). Este fato tem despertado o interesse comercial de indústrias alimentícias na fabricação de produtos formulados com a fruta (FOODBIZ, 2009; ENGELS, 2010). Vários estudos têm demonstrado o alto potencial antioxidante do açaí e também seu possível papel como alimento funcional e/ou suplemento alimentar (RIBEIRO et

al., 2010; SCHRECKINGER et al., 2010; JENSEN et al., 2008; MERTENS-

TALCOTT et al., 2008;COÏSSON et al., 2005).

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