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Ação de desapropriação e imissão provisória na posse

2. DESAPROPRIAÇÃO: CONCEITO E ELEMENTOS

2.4 Ação de desapropriação e imissão provisória na posse

A ação de desapropriação segue rito especial regulado pelo Decreto-Lei n. 3.365/41 e, subsidiariamente, pelo Código de Processo Civil. São partes nessa ação, o Poder Público ou seus delegados – sempre no polo ativo –, como expropriantes, e, no polo passivo, o proprietário expropriado.

A pretensão do expropriante é concluir a transferência compulsória do bem objeto da desapropriação, apresentando oferta do valor da indenização na petição inicial.

Em sede de contestação, o proprietário expropriado pode arguir, como

preliminares, a) ausência de hipótese legal autorizadora da desapropriação30; b)

irregularidades formais do ato expropriatório (competência, forma, caducidade) e c) ausência de pressupostos processuais e condições da ação. No mérito, cabe apenas discutir o quantum indenizatório. (BANDEIRA DE MELLO, 2012; CARVALHO FILHO, 2014; MEIRELLES, 2010)

Qualquer outra matéria de defesa – como desvio de finalidade da declaração expropriatória ou titularidade de domínio ou posse – deve ser objeto de ação autônoma, nos

termos do artigo 20 do Decreto-Lei n. 3.365/4131.

Ainda em relação à defesa do proprietário expropriado, o artigo 9º do Decreto- Lei n. 3.365/41 estabelece a seguinte limitação: “Ao Poder Judiciário é vedado, no processo de desapropriação, decidir se se verificam ou não os casos de utilidade pública”.

28 Art. 29 do Decreto-Lei n. 3.365/41: “Efetuado o pagamento ou a consignação, expedir-se-á, em favor do expropriante, mandado de imissão de posse, valendo a sentença como título hábil para a transcrição no registro de imóveis”.

29 Com mesmo entendimento, Celso Antônio Bandeira de Mello (2012, p. 905) e José dos Santos Carvalho Filho (2014, p. 865-866).

30Os artigos 5º do Decreto-Lei n. 3.365/41 e 2º da Lei n. 4.132/62 enumeram os casos que são considerados, respectivamente,de utilidade pública e de interesse social. A declaração expropriatória que apresenta hipótese não contida nos referidos artigos enseja arguição preliminar dessa matéria na ação de desapropriação.

31 Art. 20 do Decreto-Lei n. 3.365/41: “A contestação só poderá versar sobre vício do processo judicial ou impugnação do preço; qualquer outra questão deverá ser decidida por ação direta”.

A melhor interpretação do supracitado dispositivo leva à conclusão de que ele só se aplica à alegação de desvio de finalidade, mas não impede a apreciação da defesa preliminar de ausência de hipótese legal autorizadora da desapropriação.

Isso porque não se pode confundir o desvio de finalidade com a matéria de defesa preliminar de ausência de hipótese legal. No primeiro caso, o administrador se vale de uma das hipóteses legais de utilidade pública ou de interesse social para atingir finalidade diversa daquela consubstanciada no interesse público, enquanto, no segundo, a declaração expropriatória apresenta uma hipótese não prevista pela lei como passível de desapropriação.

A limitação contida no artigo 9º do Decreto-Lei n. 3.365/41, portanto, destina- se apenas a discussões relativas ao desvio de finalidade. (BANDEIRA DE MELLO, 2012; CARVALHO FILHO, 2014)

A sentença que resolve o mérito da ação de desapropriação fixa o valor da indenização devida ao proprietário expropriado e – depois de pago o valor indenizatório – serve como título hábil a regularização da transferência da propriedade no Registro de Imóveis.

Os critérios para fixação da indenização serão estudados no próximo capítulo deste trabalho, onde se traçará paralelo com a ação de desapropriação indireta.

Entretanto, desde já, se esclarece que a execução de sentença da ação de desapropriação se faz pelo sistema de precatórios judiciais, muito embora tal entendimento não seja pacífico entre alguns autores, por entenderem estes que haveria ofensa ao princípio da indenização prévia. (SILVA, 2011, p. 400-419)

Importante dizer, ainda, que a emissão de precatório, por si só, não é capaz de autorizar a imissão definitiva na posse do bem ou a transcrição da transferência da propriedade no registro imobiliário. Tais ações podem ser realizadas, segundo entendimento

do Superior Tribunal de Justiça, somente após o efetivo pagamento da indenização32.

32 Cita-se ementa do Agravo Regimental no Agravo de Instrumento n. 997.675-RJ, relator Ministro Herman Benjamin, Superior Tribunal de Justiça, julgado em 17/03/2009: “ADMINISTRATIVO. DESAPROPRIAÇÃO. IMISSÃO DEFINITIVA NA POSSE. TRANSCRIÇÃO DO REGISTRO IMOBILIÁRIO. NECESSIDADE DE PAGAMENTO INTEGRAL DA INDENIZAÇÃO. 1. A imissão definitiva na posse do imóvel expropriado e a

A imissão provisória na posse é uma opção dada ao expropriante de ingressar no imóvel antes do fim da ação de desapropriação, mediante declaração de urgência e depósito judicial de valor determinado a partir de critérios legais (artigo 15, § 1º, do Decreto- Lei n. 3.365/41) ou arbitrado pelo Juiz após instrução sumária processada nos autos da ação expropriatória.

É regulada pelo Decreto-Lei n. 1.075/70, para os casos de imissão em imóvel residencial urbano (regra especial), ou pelo artigo 15 do Decreto-Lei n. 3.365/41, nas demais

hipóteses (regra geral)33.

A declaração de urgência pode ser manifestada no mesmo ato administrativo que declara a utilidade pública ou o interesse social do bem a ser expropriado ou em ato posterior, mas, neste caso, desde que dentro do prazo de validade da declaração expropriatória.

Declarada a urgência, o expropriante tem prazo improrrogável de 120 dias para providenciar sua imissão na posse, sob pena de não mais poder fazê-lo, já que a declaração de urgência não pode ser renovada, por força do disposto nos parágrafos 2º e 3º do artigo 15 do Decreto-Lei n. 3.365/41.

A imissão provisória na posse não se confunde com a hipótese prevista no artigo 7º do Decreto-Lei n. 3.365/41, o qual estabelece a prerrogativa de agentes públicos penetrarem em imóvel para fins, exclusivamente, de medição e verificação, depois de expedida a respectiva declaração expropriatória. Como se vê, na hipótese constante do

transcrição do registro imobiliário pressupõem o pagamento integral do valor fixado na sentença condenatória, sendo a emissão de precatório insuficiente para comprovar a quitação. Precedentes do STJ. 2. Agravo Regimental não provido”.

33 Art. 15 do Decreto-Lei n. 3.365/41: “Se o expropriante alegar urgência e depositar quantia arbitrada de conformidade com o art. 685 do Código de Processo Civil, o juiz mandará imití-lo provisoriamente na posse dos bens; § 1º A imissão provisória poderá ser feita, independente da citação do réu, mediante o depósito: a) do preço oferecido, se este for superior a 20 (vinte) vezes o valor locativo, caso o imóvel esteja sujeito ao imposto predial; b) da quantia correspondente a 20 (vinte) vezes o valor locativo, estando o imóvel sujeito ao imposto predial e sendo menor o preço oferecido; c) do valor cadastral do imóvel, para fins de lançamento do imposto territorial, urbano ou rural, caso o referido valor tenha sido atualizado no ano fiscal imediatamente anterior; d) não tendo havido a atualização a que se refere o inciso c, o juiz fixará independente de avaliação, a importância do depósito, tendo em vista a época em que houver sido fixado originalmente o valor cadastral e a valorização ou desvalorização posterior do imóvel. § 2º A alegação de urgência, que não poderá ser renovada, obrigará o expropriante a requerer a imissão provisória dentro do prazo improrrogável de 120 (cento e vinte) dias. § 3º Excedido o prazo fixado no parágrafo anterior não será concedida a imissão provisória. § 4o A imissão provisória na posse será registrada no registro de imóveis competente”.

aludido dispositivo, não ocorre transferência da posse do bem ao Poder Público34. (BANDEIRA DE MELLO, 2012, p. 900)

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