• Nenhum resultado encontrado

Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 324 e Recurso

1 A ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA CONFERIDA A TODOS

3.2 Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 324 e Recurso

A ADPF nº 324, proposta pela Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG), em 25 de agosto de 2014, teve como objetivo o reconhecimento de eventual inconstitucionalidade sobre a interpretação adotada pela Justiça do Trabalho em reiteradas decisões, com base na Súmula 331 do Tribunal Superior do Trabalho, quanto à impossibilidade de terceirização da atividade-fim da empresa.

Apesar de anterior à Lei nº 13.429/2017, a ação foi incluída no rol de demandas referentes aos novos dispositivos da reforma por tratar de tema relacionado às inovações legislativas.

No mesmo sentido, o Recurso Extraordinário nº 958252, com repercussão geral reconhecida, questiona a aplicação da Súmula nº 331 do TST. Interposto contra decisão do Tribunal Superior que manteve o posicionamento em relação à ilicitude da terceirização de atividades da empresa recorrente, por considerá-las como atividade-fim, foi julgado em conjunto com a ADPF nº 324.

Conforme alegado pela requerente da ADPF, a nova legislação trabalhista reforça os argumentos da ação proposta, pois autoriza expressamente a possibilidade de terceirização sobre todas as atividades da empresa.

Se considerada consonante com o ordenamento jurídico, a norma torna insustentável a manutenção dos incisos I, II e III da Súmula 331 do TST, impugnada pela ADPF e pelo RE.

Seguem as disposições:

SÚMULA Nº 331 DO TST - CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. LEGALIDADE (nova redação do item IV e inseridos os itens V e VI à redação) - Res. 174/2011, DEJT divulgado em 27, 30 e 31.05.2011 I - A contratação de trabalhadores por empresa interposta é ilegal, formando-se o vínculo diretamente com o tomador dos serviços, salvo no caso de trabalho temporário (Lei nº 6.019, de 03.01.1974). II - A contratação irregular de trabalhador, mediante empresa interposta, não gera vínculo de emprego com os órgãos da Administração Pública direta, indireta ou

fundacional (art. 37, II, da CF/1988).

III - Não forma vínculo de emprego com o tomador a contratação de serviços de vigilância (Lei nº 7.102, de 20.06.1983) e de conservação e limpeza, bem como a de serviços especializados ligados à atividade-meio do tomador, desde que inexistente a

pessoalidade e a subordinação direta.

(...)

Art. 4º-A - Empresa prestadora de serviços a terceiros é a pessoa jurídica de direito privado destinada a prestar à contratante serviços determinados e específicos. (Redação dada pela Lei nº 13.467, de 2017)

§ 1o A empresa prestadora de serviços contrata, remunera e dirige o trabalho realizado por seus trabalhadores, ou subcontrata outras empresas para realização desses serviços.

§ 2o Não se configura vínculo empregatício entre os trabalhadores, ou sócios das empresas prestadoras de serviços, qualquer que seja o seu ramo, e a empresa contratante.28

A ABAG alega uma eventual insegurança jurídica, relacionada com a proibição da terceirização sobre a atividade-fim da empresa, pela dúvida sobre quais atividades efetivamente seriam consideradas atividades-meio ou atividades-fim no momento do julgamento, conforme ocorreu na ação referente ao Recurso Extraordinário nº 958252.

Segue um trecho da petição inicial:

Em consonância com os princípios constitucionais da livre iniciativa e da liberdade contratual, a Lei Federal nº 13.429/17 regulamentou, amplamente, a terceirização das atividades da empresa, eliminando a equivocada diferenciação entre “atividade- fim” e “atividade-meio”, estabelecida pela Súmula nº 331 do E. TST.

Pelo princípio da legalidade (art. 5º, II, da CF), sequer teria sido necessário um ato legislativo para afirmar o que é permitido, pois uma conduta só é proibida se assim for estabelecido em Lei.

Todavia, a edição da Lei foi necessária, uma vez que o critério utilizado pelo E. TST para vedar a prestação de serviços a terceiros (a diferenciação entre “atividade-fim” e “atividade-meio”) era, e continua sendo, fonte de grave insegurança jurídica nas atividades empresariais.

São inúmeras as decisões da Justiça Laboral vedando a contratação de terceiros até mesmo para a realização de atividades típicas do processo de especialização econômica. Já se considerou, por exemplo, que a atividade-fim de uma empresa voltada à comercialização de celulose também abrange os serviços de florestamento e reflorestamento1, ou que a atividade-fim de fabricação de açúcar e álcool compreende o plantio, o corte, o carregamento e o transporte de cana-de-açúcar2. Daí porque, em nome da segurança jurídica, foi necessário editar uma “lei positiva”, permitindo o que, pelo princípio da legalidade, nunca deveria ter sido proibido pelo E. TST.

Tal insegurança prejudica a economia do país e, em consequência, a geração e manutenção dos postos de trabalho. Ou seja, ao invés de prestigiar os valores sociais do trabalho (arts. 1º, IV, e 6º da CF), a Súmula nº 331 gera efeitos no sentido contrário, revelando-se um obstáculo inconstitucional à organização eficiente da atividade empresarial.

Destaque-se que, mesmo após a edição da Lei Federal nº 13.429/17, não houve o pronto cancelamento da Súmula nº 331. Assim, se a violação ao princípio da legalidade antes se verificava pelo viés negativo (não há lei proibitiva), agora o E. TST viola a lei de forma positiva (há lei autorizadora). Se mais não fosse, tal fato confirma a permanência da necessidade de o Supremo Tribunal Federal proferir decisão nesta ADPF a respeito das decisões da Justiça do Trabalho e, particularmente, da Súmula nº 331 do TST.

Diante do exposto, reitera-se o pedido de que seja julgada procedente a presente arguição de descumprimento de preceito fundamental, para o fim de reconhecer a inconstitucionalidade da interpretação adotada em reiteradas decisões da Justiça do Trabalho, que tem gerado insegurança jurídica na prestação de serviços por terceiros.29

Em oposição ao pleito, a Procuradoria-Geral da República propôs a Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 5735 requerendo a declaração de inconstitucionalidade dos arts. 4º- A, caput, §1º (em parte), §2º, 5º-A e 9º, §3º, da Lei 6.019/1974, inseridos pela Lei 13.429/2017, a fim de afastar interpretação que autorize a terceirização quanto à execução de atividades finalísticas de empresas privadas e da administração pública e, consequentemente, reconhecer a possibilidade de configuração de vínculo de emprego entre os trabalhadores e as empresas tomadoras de serviços nesse caso.

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, Autor das ADINS nº 5766 e 5735, sustenta que a possibilidade de terceirização da atividade-fim infringe o caráter excepcional

29 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação de descumprimento de preceito fundamental nº 324/DF. Distrito Federal.. Relator: Ministro Roberto Barroso. Petição Inicial, 19 de maio de 2018. Disponível em: < https://www.conjur.com.br/dl/terceirizacao-adpf-324-manifestacao-abag.pdf>. Acesso em 11 nov. 2018.

do regime, esvazia os direitos constitucionalmente garantidos ao trabalhador por violar o regime de emprego socialmente protegido, ocupa o espaço do regime geral de emprego direto, precariza as relações de trabalho, logo, contraria disposição constitucional que veda o retrocesso social, e estimula a substituição de postos de emprego direto por contratação de mão de obra terceirizada, “com precaríssima proteção social”.

A Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra), considerando a relevância da matéria suscitada e o questionamento sobre a independência judicial, indispensável à interpretação das normas, requereu seu ingresso na ADPF nº 324 como amicus curiae. Entretanto o pedido foi rejeitado, pois intempestivo.

A Suprema Corte se manifestou definitivamente sobre o tema, julgando procedente a Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental, por 7 votos (ministros Luís Roberto Barroso, Luiz Fux, Alexandre de Mores, Dias Toffoli, Gilmar Mendes, Celso de Mello e Cármen Lúcia) a 4 (ministros Edson Fachin, Rosa Weber, Ricardo Lewandowski e Marco Aurélio), firmando a seguinte tese:

1. É lícita a terceirização de toda e qualquer atividade, meio ou fim, não se configurando relação de emprego entre a contratante e o empregado da contratada. 2. Na terceirização, compete à contratante: i) verificar a idoneidade e a capacidade econômica da terceirizada; e ii) responder subsidiariamente pelo descumprimento das normas trabalhistas, bem como por obrigações previdenciárias, na forma do art. 31 da Lei 8.212/199330

O ministro Roberto Barroso esclareceu que a decisão não afeta as demandas já transitadas em julgado. O magistrado se manifestou favoravelmente ao pleito da ABAG em prol de uma alternativa disponível que possa assegurar o emprego, garantir os direitos dos trabalhadores e viabilizar o desenvolvimento econômico.

Para o relator, a Constituição não obsta a flexibilização da estrutura de produção, desde que respeitados os direitos mínimos nela previstos. A medida estimularia a competitividade das empresas e reduziria seus custos.

Sobre a precarização das relações de trabalho, defende que há precarização independente da terceirização, e que a alternativa para solucionar essa questão são as exigências já previstas em relação às obrigações e responsabilidades dos tomadores de serviço.

30 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação de descumprimento de preceito fundamental nº 324/DF. Distrito Federal. Relator: Ministro Roberto Barroso. Decisão de Julgamento, 30 de ago. de 2018. Disponível em: <http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=4620584>. Acesso em 11 nov. 2018.

Vota pela procedência da ação por considerar que as restrições à terceirização promovidas pela Justiça do Trabalho não tem respaldo legal e desrespeitam os princípios da livre iniciativa, da livre concorrência e da segurança jurídica.

No mesmo sentido, o ministro Luiz Fux, relator do Recurso Extraordinário nº 958252, considerou que a Súmula 331 do TST seria uma intervenção restritiva, logo, indevida, do judiciário quanto à liberdade jurídica de contratação.

O magistrado defende que a terceirização é um fator positivo para as relações de trabalho por proporcionar a redução da complexidade organizacional, o estímulo à competitividade entre as empresas, e um aprimoramento das tarefas, graças à especialização dos empregados em relação às atividades desenvolvidas.

Acredita que a mudança não trará qualquer prejuízo aos direitos garantidos constitucionalmente, tendo em vista que as leis trabalhistas continuarão a ser de observância obrigatória, e que a valorização do trabalho e a livre iniciativa são, igualmente, fundamentos do Estado Democrático de Direito, não havendo que se falar em maximização de um dos princípios em detrimento do outro.

Segundo o ministro, o poder regulatório deve intervir minimamente na dinâmica da economia. Nessa perspectiva, votou pelo provimento do Recurso Extraordinário a fim de reformar a decisão que reconheceu as atividades executadas por trabalhadores terceirizados da Cenibra como atividade-fim e o vínculo empregatício entre a empresa e os empregados, consequentemente.

3.3 Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 5794 e Ação Declaratória de Constitucionalidade nº 55

A Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 5794, ajuizada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transporte Aquaviário e Aéreo, na Pesca e nos Portos - CONTTMAF, teve como objetivo a declaração de inconstitucionalidade parcial da Lei 13.467/2017, quanto à nova redação dada aos artigos 545, 578, 579, 582, 583, 587 e 602, que condiciona a contribuição sindical à autorização expressa dos trabalhadores.

Conforme os novos dispositivos:

Art. 545. Os empregadores ficam obrigados a descontar da folha de pagamento dos seus empregados, desde que por eles devidamente autorizados, as contribuições devidas ao sindicato, quando por este notificados. (Redação dada pela Lei nº 13.467, de 2017)

Art. 578. As contribuições devidas aos sindicatos pelos participantes das categorias econômicas ou profissionais ou das profissões liberais representadas pelas referidas entidades serão, sob a denominação de contribuição sindical, pagas, recolhidas e aplicadas na forma estabelecida neste Capítulo, desde que prévia e expressamente autorizadas. (Redação dada pela Lei nº 13.467, de 2017)

Art. 579. O desconto da contribuição sindical está condicionado à autorização prévia e expressa dos que participarem de uma determinada categoria econômica ou profissional, ou de uma profissão liberal, em favor do sindicato representativo da mesma categoria ou profissão ou, inexistindo este, na conformidade do disposto no art. 591 desta Consolidação. (Redação dada pela Lei nº 13.467, de 2017)

Art. 582. Os empregadores são obrigados a descontar da folha de pagamento de seus empregados relativa ao mês de março de cada ano a contribuição sindical dos empregados que autorizaram prévia e expressamente o seu recolhimento aos respectivos sindicatos. (Redação dada pela Lei nº 13.467, de 2017)

Art. 583. O recolhimento da contribuição sindical referente aos empregados e trabalhadores avulsos será efetuado no mês de abril de cada ano, e o relativo aos agentes ou trabalhadores autônomos e profissionais liberais realizar-se-á no mês de fevereiro, observada a exigência de autorização prévia e expressa prevista no art. 579 desta Consolidação. (Redação dada pela Lei nº 13.467, de 2017)

Art. 587. Os empregadores que optarem pelo recolhimento da contribuição sindical deverão fazê-lo no mês de janeiro de cada ano, ou, para os que venham a se estabelecer após o referido mês, na ocasião em que requererem às repartições o registro ou a licença para o exercício da respectiva atividade. (Redação dada pela Lei nº 13.467, de 2017)

Art. 602. Os empregados que não estiverem trabalhando no mês destinado ao desconto da contribuição sindical e que venham a autorizar prévia e expressamente o recolhimento serão descontados no primeiro mês subsequente ao do reinício do trabalho. (Redação dada pela Lei nº 13.467, de 2017)

A Ação Declaratória de Constitucionalidade nº 55, em sentido contrário, busca a declaração de constitucionalidade dos dispositivos impugnados.

O Supremo Tribunal Federal, julgou, por 6 votos (ministros Roberto Barroso, Gilmar Mendes, Luiz Fux, Carmem Lúcia, Alexandre de Moraes e Marco Aurélio) a 3 (ministros Dias Toffoli, Rosa Weber e Edson Fachin), pela constitucionalidade dos dispositivos que extinguiram a obrigatoriedade da contribuição sindical, julgando improcedentes as ADINS, logo, procedente a ADC.

Nos termos da decisão:

Decisão: O Tribunal, por maioria e nos termos do voto do Ministro Luiz Fux, que redigirá o acórdão, julgou improcedentes os pedidos formulados nas ações diretas de inconstitucionalidade e procedente o pedido formulado na ação declaratória de constitucionalidade. Vencidos os Ministros Edson Fachin (Relator), Rosa Weber e Dias Toffoli. Ausentes, justificadamente, os Ministros Celso de Mello, Ricardo

Lewandowski e Luiz Fux. Presidiu o julgamento a Ministra Cármen Lúcia. Plenário, 29.6.2018.31

Alguns dos ministros que votaram favoravelmente à constitucionalidade da norma, defenderam a tese de que a contribuição sindical não pode ser imposta aos trabalhadores e empregadores, pois a Constituição garante que ninguém é obrigado a se filiar ou a se manter filiado a uma entidade sindical.

Para o ministro Alexandre de Moraes, a questão está centrada na liberdade associativa, premissa constitucional que garante ao trabalhador a liberdade de optar por se associar e contribuir ou não com um sindicato. Segundo o magistrado, a Reforma Trabalhista viabiliza um modelo sindical mais moderno, que amplia a liberdade do trabalhador.

Já o ministro Roberto Barroso concorda que o princípio constitucional em pauta é o da liberdade sindical, e não visualiza qualquer inconstitucionalidade formal ou material na norma. Considera que, tratando-se de discussão predominantemente política, o STF deve se conter a fim de respeitar as escolhas do legislador, sendo o Congresso Nacional responsável por desenvolver o modelo sindical que melhor se aplica ao país.

Especificamente sobre a contribuição compulsória, acredita o magistrado que seja um modelo que desestimula a competitividade e a representatividade, sendo, por esse motivo, desfavorável aos trabalhadores.

O ministro Gilmar Mendes também não verifica inconstitucionalidade nas novas disposições normativas. Critica o modelo anterior pela quantidade de sindicatos que existem no Brasil. Segundo o ministro, 16,8 mil. Acredita que a mudança não obstará a manutenção ou a conservação do sistema sindical, mas fará com que os sindicatos sejam supridos assim como as demais associações por contribuições voluntárias.

O ministro Marco Aurélio destaca que o artigo 8º da Constituição Federal garante que é livre a associação profissional ou sindical, e que seu artigo 7º, inciso X, garante, ainda, a proteção do salário na forma da lei, constituindo crime sua retenção dolosa. Para o ministro, em contraponto com a manifestação do relator, Edson Fachin, a contribuição sindical não pode ser considerada um tributo, por ser o sindicato pessoa jurídica de direito privado, ilegítimo como sujeito ativo tributário, e que a contribuição não tem como finalidade a atuação do estado, mas o fortalecimento das entidades sindicais.

31 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação direta de inconstitucionalidade nº 5794/DF. Distrito Federal. Relator: Ministro Edson Fachin. Decisão de Julgamento, 29 de jun. de 2018. Disponível em: <http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=5288954>. Acesso em 11 nov. 2018.

Segundo a ministra Carmem Lúcia, as novas regras não ofendem a Constituição Federal. A magistrada acredita que o ideal seria haver normas de transição para que a mudança fosse implementada, contudo essa questão não descaracteriza a compatibilidade da norma com o ordenamento jurídico pátrio.

De acordo com os ministros Edson Fachin, Dias Toffoli e Rosa Weber, o fim da obrigatoriedade da contribuição sindical inviabilizaria a defesa dos interesses dos trabalhadores por impedir formas de organização mais eficazes ante os interesses patronais.

Para Rosa Weber, a contribuição compulsória é fator fundamental para o fortalecimento e a manutenção dos sindicatos, que como representantes das respectivas categorias e responsáveis pela defesa de seus interesses e direitos, são os agentes centrais da representação coletiva trabalhista. Acredita a magistrada que a extinção da obrigatoriedade da contribuição sindical altera um dos pilares que sustenta o sistema sindical imposto pela Carta Maior, que sem definir efetivamente o princípio da liberdade sindical, optou por afastar o pluralismo e determinar a unicidade sindical. A extinção da contribuição obrigatória geraria profundos reflexos na atuação das entidades sindicais enquanto representantes das respectivas categorias.

Dias Toffoli se posicionou alegando que a questão não poderia ser modificada tão profundamente sem que houvesse um período de transição com essa finalidade. Defende a necessidade de uma preparação para que o impacto financeiro fosse planejado e suprido. Para o ministro, uma alteração tão profunda do sistema deveria, ao menos, ocorrer de forma gradativa.

CONCLUSÃO

A reforma trabalhista efetivou conhecidas reivindicações dos empregadores tanto no âmbito do direito material quanto no âmbito do direito processual, fazendo surgir uma nova realidade quanto às relações do trabalho.

Podemos perceber que já havia uma dinâmica de impugnação sobre as decisões da justiça do trabalho e de mudanças gradativas a respeito da legislação laboral ainda antes da edição das leis 13.467 e 13.429, ambas de 2017.

As decisões que versam sobre as normas impugnadas quanto à sua constitucionalidade tem se mostrado tendentes à manutenção dos novos dispositivos, a partir de uma interpretação pró-mercado, baseadas no princípio constitucional da livre iniciativa.

Entretanto, ressalta-se que, tanto nos tribunais superiores quanto nas demais instâncias do judiciário, decisões são colocadas conforme interpretações respaldadas nos princípios constitucionais do acesso à justiça e da igualdade entre as pessoas, bem como nos princípios basilares da legislação do trabalho, afastando a aplicação dos dispositivos da reforma trabalhista de modo a impedir o acesso da parte à prestação jurisdicional ou aos meios necessários para que seu direito possa ser reconhecido.

Um dos objetivos do presente trabalho foi contribuir para que uma interpretação crítica acerca da reforma trabalhista fosse apresentada, seguida das mais abrangentes formas de interpretação segundo as normas constitucionais, nos termos dos votos proferidos pelos ministros do Supremo Tribunal Federal.

Apesar de alguns votos seguirem por caminhos diametralmente opostos, fato é que todos tem a responsabilidade de justificar suas decisões a partir de uma análise técnica, jurídica e constitucional. Compartilhar um conhecimento que deve ser tão comprometido com o direito nos faz, enquanto eternos estudantes, refletir, tanto sobre nossas convicções quanto sobre as prioridades que nos são apresentadas pelo legislador e pela Corte Superior.

Para o direito do trabalho, espera-se demonstrar que, apesar das instabilidades legislativas ocasionadas pelas constantes alterações ideológicas e políticas vividas na história do país, não pode haver uma descaracterização da essência desse ramo do direito, instituído para garantir os direitos mínimos sobre as relações de trabalho.

Considerando, em especial, o tempo de execução do presente trabalho, o estudo se limitou a apresentar alguns pontos sem enfrentá-los com a profundidade que lhe seria devida, proporcionando ao leitor uma interpretação comparativa principalmente sobre as disposições

introduzidas nos governos anteriores, que iniciaram o contexto reformista quanto à legislação laboral.

Além desse ponto, pelo fato de algumas ações ainda não terem sido julgadas, em especial a Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 5766, e pela dificuldade de acesso aos votos de cada ministro do STF individualmente, a análise jurisprudencial acerca do tema não foi apresentada em sua completude, o que gera a possibilidade de estudos complementares sobre a matéria.

Foi apresentada uma análise acerca das normas anteriores à reforma trabalhista e de algumas de suas modificações após 1 ano de vigência. Novas pesquisas poderiam ser feitas a fim de atestar e demonstrar como o judiciário de fato vai se posiocinar e quais serão os efeitos, sociais, econômicos e jurídicos, causados a partir desse posicionamento.

As discussões acerca das normas são intensas e profundas. O apelo político é forte, o que dificulta a apresentação de uma visão técnica e imparcial. Ainda que sob à alegação de respaldo jurídico em princípios constitucionais, sua utilização pode ocorrer de forma não razoável em comparação aos outros princípios, no caso concreto aparentemente conflitantes, o que acaba sendo julgado, no mundo jurídico, por uma maioria dentro de um universo de 11 magistrados.

Entendemos, a partir da pesquisa feita, que a reforma efetivamente trouxe um obstáculo ao acesso à justiça (ao menos no campo processual).

Com base nos votos analisados, na bibliografia consultada e na problemática apresentada, concluímos que a mudança legislativa feriu normas e princípios constitucionais, onerando desproporcionalmente os beneficiários da justiça gratuita que precisam se submeter, a partir da edição das novas normas, ao risco econômico da demanda, em desvantagem, inclusive, se comparados aos beneficiários da justiça gratuita na justiça comum.

A alta demanda pela Justiça do Trabalho demonstra que os direitos sociais trabalhistas

Documentos relacionados