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Ação didática e pedagógica: contributo da arte sacra na ação educativa do

CAPÍTULO IV- METODOLOGIA E PEDAGOGIA

6. Ação didática e pedagógica: contributo da arte sacra na ação educativa do

Neste ponto, apresentaremos um esboço de planificação que tenta perpassar tudo aquilo que dissemos sobre a relação arte-religião-cultura-escola. Num primeiro momento apresentaremos a organização e gestão do programa da disciplina para o 2º ciclo, isto é, o seu plano de estudos; num segundo daremos o nosso contributo para a aula de Educação Moral e Religiosa Católica.

A aula de Educação Moral e Religiosa Católica é distribuída, na forma de horário, da seguinte forma: no 1º ciclo temos 60 minutos semanais, nos 2º e 3º ciclos é atribuído 45 minutos semanais e no ensino secundário corresponde a 90 minutos semanais para cada ano respetivamente.500 Portanto, atendendo à sua complexidade, entendeu-se que nem todas as Metas podem ser convertidas em Objetivos Programáticos no Ensino Básico, pelo que as “Metas Curriculares só poderão ser totalmente atingidas pelos alunos após a conclusão de todo o percurso escolar, pelo que o docente deve lecionar tendo em consideração a necessidade de facilitar aos seus discentes a aquisição da totalidade dos Objetivos previstos para as várias Unidades Letivas de cada Nível de Ensino, pois é a aquisição cumulativa e interativa desses Objetivos que permite ao aluno familiarizar-se com e interiorizar as Metas Curriculares”501. Assim, o Secretariado Nacional da Educação Cristã, responsável pelo reordenamento programático, propõe502 “para cada Unidade Letiva, as Metas Curriculares

500 Cf. Decreto-lei 139/2012 de 5 de julho, in Diário da República, 1.ª série — N.º 129 — 5 de julho de 2012,

3476. Cf. FUNDAÇÃO SECRETARIADO NACIONAL DA EDUCAÇÃO CRISTÃ, Metas Curriculares de Educação Moral e Religiosa Católica, SNEC, 2013, p 5 e 6

501 FUNDAÇÃO SECRETARIADO NACIONAL DA EDUCAÇÃO CRISTÃ, Metas Curriculares de

Educação Moral e Religiosa Católica, SNEC, 2013, p. 6.

502 Salienta-se que até à data desta proposta aguarda homologação do Ministério da Educação e Ciência e

conforme ata da 184ª Assembleia Plenária da Conferência Episcopal Portuguesa, esta proposta já se encontra entregue e estão a ser elaborados os novos manuais. [Consultado em 25-06-2014], disponível em http://diocesebm.pt/wp-content/uploads/2012/01/APabril2014_ComunicadoFinal_final.pdf.

115 permitem a definição de um conjunto de Objetivos Programáticos503 e estes articulam-se em torno de um conjunto de Conteúdos”504. A definição de Objetivos Programáticos permitirá determinar com rigor “o comportamento que o aluno deve adquirir e que o professor aceitará como prova da aprendizagem, a situação de teste e o critério de desempenho”505.

Concluída a forma legal da Disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica, importará auxiliar o docente na utilização de arte e arte religiosa em contexto de sala de aula. A apresentação da obra de arte deve obedecer, também ela, a uma gramática, de forma a tornar possível a sua leitura. Assim como qualquer obra textual, a arte deve ser explorada de forma sistemática. Desta forma iremos desenvolver, propondo um processo hermenêutico que se possa aplicar para compreensão da obra de arte, pois como mediação privilegiada (como a mediação textual) essa obra de arte contribuiu para a construção de uma identidade, neste caso cristã, não esquecendo o fundo simbólico pois como refere Geraldo “a Simbólica é, indiscutivelmente, a linguagem mais eloquente da religião, pois os símbolos manifestam a sua mais-valia e importância na medida em que servem ao homem para falar e dar a perceber as realidades místicas e transcendentes”506.

Este processo desenvolver-se-á em cinco etapas507, a saber: pretexto, contexto, intratexto, intertexto e o extratexto.

503 Entende-se por Objetivos Programáticos: “enunciados do tipo de resultados de aprendizagem que se

esperam da lecionação de determinados conjuntos de conteúdos, descrevem a intenção do professor em relação ao desenvolvimento e à mudança pretendidos no aluno; redigidos a partir das ações que os alunos devem concretamente realizar, são mensuráveis através dos instrumentos de avaliação adequados; organizam-se a partir das Metas Curriculares tal como organizadas para os Domínios definidos”. FUNDAÇÃO SECRETARIADO NACIONAL DA EDUCAÇÃO CRISTÃ, Metas Curriculares de Educação Moral e Religiosa Católica, SNEC, 2013, p. 6.

504 FUNDAÇÃO SECRETARIADO NACIONAL DA EDUCAÇÃO CRISTÃ, Metas Curriculares de

Educação Moral e Religiosa Católica, SNEC, 2013, p. 6.

505 FUNDAÇÃO SECRETARIADO NACIONAL DA EDUCAÇÃO CRISTÃ, Metas Curriculares de

Educação Moral e Religiosa Católica, SNEC, 2013, p. 6.

506 COELHO DIAS, Geraldo José Amadeu, Religião e Simbólica, O sonho da Escada de Jacob, Granito,

Editores e Livreiros, Lda, Porto, 2001, p. 24.

507 Utilizaremos o processo hermenêutico do texto cristão proposto por João Duque, uma vez que nos parece

bastante adequado ao nosso contexto de arte. Cf. DUQUE, João, Textos e Identidades, in Theológica, II série, vol. XXXVIII, fasc.1, 2003, (17-31), p. 24-28.

116 Compete-nos, agora, explanar o significado de cada etapa.

 O pretexto da obra

 As obras são originadas e realizadas em determinado momento. O pretexto de uma obra de arte é sempre aquilo que a originou - a sua intencionalidade. Em última estância, o pretexto da arte religiosa é sempre uma referência edificante religiosa, que pretende ser identitária.

 O Contexto

 Cada obra de arte possuiu um contexto, incluindo os elementos do pretexto. Desta forma dentro do contexto em que é elaborada surge um novo texto, passando a constituí-lo intrinsecamente;

 Intratexto

 O mundo da obra. A obra em si mesmo, com todos os harmónicos de sentido que lhe estão ligados e que foram construídos por toda a tradição da identidade cristã. Não se procura, portanto, um sentido fora, antes ou posterior à obra, mas sim na própria obra.

 Intertexto

 A obra de arte religiosa possui significado na relação por exemplo aos textos da Bíblia, de tal modo que a sua perceção só é viável numa relação a esses textos precedentes. A própria obra em contacto com outras tradições culturais pode ter realizações diferentes, mesmo relacionadas ao mesmo texto.

117  Extratexto

 Na medida em que a obra de arte religiosa tem presente uma dimensão para além dela própria, exterior a ela: o para além da obra. A identidade relacional originada pela obra de arte religiosa aponta para uma relação «exterior» mais fundamental, identitária e edificante. Graficamente, teríamos o seguinte:

Em contexto de sala de aula, os diversos mundos em relação podem conviver e ser explorados conforme a seguinte figura:

118

Figura 2: Relações dos diversos mundos.

Assim, no nosso entender, poderemos contribuir de maneira consistente para a utilização da arte religiosa em contexto de sala de aula, na disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica, pois compreender uma obra de arte não é apenas repetir o acontecimento icónico num evento semelhante, mas antes gerar um novo acontecimento, que começa com a relação entre os diferentes mundos e o próprio mundo da obra. É neste sentido que se pode e deve utilizar a poesia (com o seu paradoxo de linguagem), porque só a metáfora pode dizer mais do que aquilo que é.