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CAPÍTULO 1 - CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS

1.4 Gêneros de textos e a vertente didática.…

1.4.2 Ação e linguagem

Bronckart (2007 [1999]) dá o nome de ação à unidade de análise psicológica, ao que Ricouer e Habermas chamaram de ação significante, e que Weber denominou de comportamento significante mutuamente orientado e socialmente integrado.

Bronckart (2007 [1999], p. 39) mostra que a ação apresenta um estatuto duplo: 1) Parte da atividade social imputada a um ser humano particular;

2) É o conjunto das representações construídas por esse ser humano sobre sua participação na atividade, representações essas que o erigem a um organismo consciente de seu fazer e de suas capacidades de fazer, isto é, em um agente (ponto de vista interno).

Dessa forma, Bronckart (2007 [1999], p. 39) defende a tese de que:

[...] é o agir comunicativo que, ao mesmo tempo que é constitutivo dos mundos representados, é também o instrumento pelo qual as ações são delimitadas. Enfim mostraremos que, do mesmo modo que a atividade social em geral pode ser tomada sob o ângulo psicológico da ação, a atividade de linguagem também pode ser tomada, sob o mesmo ângulo, como ação de linguagem, imputável a um agente que se materializa na entidade empírica que é o texto singular.

O autor diz que para situar a significação do conceito de ação, é necessário opô-la ao acontecimento de forma simultânea. A ação constitui a unidade de análise reivindicada por Vygotsky, uma vez que mobiliza e coloca em interação as dimensões físicas (comportamento) e psíquicas (mentais) das condutas humanas.

efetuam uma ação de linguagem, de natureza psicológica, que se concretiza num gênero de texto, neste caso, o artigo de opinião. Para isso, eles terão de colocar em ação seu conhecimento específico do tema proposto, estruturar o pensamento de forma a produzir o gênero de texto solicitado e materializá-lo em linguagem escrita. Podemos então esquematizar essa situação de ação de linguagem da seguinte forma:

Ação de linguagem escrita Espaço-tempo

de produção

Sala de aula X, dia 10 de janeiro de 2010

Enunciador Vestibulando

Destinatário Banca Examinadora

Objetivo Redigir um texto convincente o suficiente para receber uma nota que lhe permita ser aprovado no processo seletivo da UFGD

Quadro 2: Esquema da situação de ação de linguagem escrita

Bronckart (2007 [1999] p.40), com base em von Wright, concorda que “as condutas humanas podem ser descritas como acontecimentos, sistemas fechados de comportamentos envolvendo um estado inicial, um conjunto de transformações internas e um estado final”. A essa descrição de condutas humanas, o autor acrescenta que elas envolvem também um aspecto de intervenção intencional, o que justifica serem chamadas de ações. No entanto, continua Bronckart, citando von Wright, “para produzir o estado inicial de um sistema, um agente deve “intervir no curso das coisas”, decidir, exercer um poder, e o exercício desse poder, bem como sua orientação intencional estão numa relação de interdependência, pelo menos parcialmente” (BRONCKART, 2007 [1999] p.40). Podemos dizer, então, que a produção de um texto em situação de vestibular é uma ação de linguagem escrita.

Já que a dimensão da ação é específica das condutas humanas, reflete Bronckart, é, portanto, a ação como tal, que se constitui como objeto da psicologia e que deve ser cientificamente interpretada. Essa explicação, esclarece Bronckart (2007 [1999], p.41), “depende de uma compreensão das relações de caráter probabilístico, que se estabelecem e se desfazem, permanentemente, entre o mental e o comportamental”. Decorrente do exposto, a tese central do ISD é que a “ação constitui o resultado da apropriação, pelo organismo humano, das propriedades da atividade social mediada pela linguagem” (BRONCKART (2007 [1999], p. 43).

mostra a ação de linguagem que o vestibulando ( candidato a uma vaga no curso de Letras da UFGD) deverá produzir para ser tido como aprovado.

[…] essas pretensões à validade são propriedades objetivas ou práticas da atividade humana. Desde que tal atividade seja mediada pelo agir comunicativo, essas pretensões se encontram automaticamente semiotizadas, verbalizadas ou ainda codificadas na atividade da linguagem. É por meio desse processo de avaliação social e verbal das modalidades de participação de um ser humano particular na atividade, à luz dos construtos coletivos que constituem os mundos, que as ações são - de fato - delimitadas em seu estatuto externo, isto é, como porções da atividade social imputáveis a um organismo humano particular .(BRONCKART, 2007 [1999], p. 43).

Para reforçar a tese de que a capacidade de ação passa por escolhas feitas a partir do conhecimento prévio do outro, Bronckart diz:

É na e pela avaliação das dimensões teleológicas12, sociais e dramatúrgicas do agir dos outros que estes são construídos como agentes dotados de capacidades cognitivas e comportamentais inferíveis de sua relação com o mundo objetivo, de um papel e de uma posição inferíveis de sua relação com as normas do mundo social e enfim, de propriedades mais pessoais, inferíveis do seu estilo próprio de participação na atividade. É, portanto, esse processo de avaliação que atribui aos outros capacidades de ação, intenções e motivos que os dota dessa responsabilidade particular na intervenção ativa, na qual se resume o estatuto de agente (BRONCKART, 2007 [1999], p. 43-44).

Motivados principalmente por um número maior de candidatos do que o número de vagas oferecidas, as Universidades mais concorridas selecionam rigorosamente os candidatos. É fato que a redação, nesse contexto de seleção, é um dos quesitos com peso significativo no processo de seleção. O estudante está consciente de que sua produção textual é objeto de avaliação da banca examinadora, que tem a função de atribuir notas àqueles que melhor demonstrarem a capacidade de ação de linguagem, de articular seu conhecimento adquirido sobre o tema proposto em exíguas trinta linhas. Bronckart fala dessa responsabilidade particular que deve ser assumida pelo ser humano:

Os seres humanos particulares se apropriam das capacidades de ação, dos papéis sociais e de uma imagem sobre si mesmos como agentes responsáveis por sua ação, […] fazendo com que delimitem a ação em seu estatuto secundário ou interno: o de um conhecimento das diversas facetas de sua própria responsabilidade do desenvolvimento de partes da atividade social. […] o ser humano, contribuindo praticamente para os julgamentos coletivos verbalizados, sabe que ele mesmo é objeto 12 Teleológica: qualquer doutrina que identifica a presença de metas, fins ou objetivos últimos guiando a

dessas avaliações (BRONCKART, (2007 [1999], p. 44).

Afinal, reafirma Bronckart, a mais geral das decisões do agente consiste em escolher, dentre os gêneros de textos disponíveis na intertextualidade, aquele que lhe parece o mais adaptado e o mais eficaz em relação ao que se pretende naquele momento.

Nas análises das produções textuais dos candidatos a vestibular da UFGD, procuramos verificar se foram colocados em prática os recursos sociodiscursivos preconizados por Bronckart e adotados pelo Grupo da Escola de Genebra, mais especificamente neste trabalho, a aplicação das sequências argumentativas, explicativas e modalizações, que podem auxiliar a produzir um texto eficaz, dentro dos parâmetros discursivos de artigo de opinião.

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