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A Ação dos Guias Espirituais e o Carma

No documento Medicina Fisiologia Da Alma Ramatis Portugues (páginas 171-175)

PERGUNTA: — No caso de os encarnados se afastarem de seus deveres e da disciplina espiritual na Terra, os guias podem intervir do Espaço, e sustar os desmandos dos seus pupilos? RAMATIS: — O trabalho principal do “guia”, em relação ao seu protegido encarnado, é o de livrá-lo, tanto quanto possível, das imprudências, das ilusões, dos atrativos do vício e das paixões perigosas do mundo material. Do “lado de cá”, a nossa maior preocupação é a de impedir que o amigo ou o discípulo encarnado termine escravizado às paixões animais que o cercearão em sua ascensão espiritual. Quanto ao êxito desejado, nem sempre podemos consegui-lo a contento pois, em geral, a criatura encarnada foge à receptividade vibratória ao seu mentor e torna-se imune às suas inspirações superiores. Em geral, escuta apenas a voz da “sereia das sombras”, que termina conduzindo-a aos maiores ridículos e disparates! Quando tal acontece, o seu guia ou protetor lança mão de recursos extraordinários e intervém tanto quanto possível a favor do seu pupilo, a fim de frenar-lhe os desatinos e evitar em tempo os desvios perigosos que o conduzam à escravi- dão às entidades malfeitores.

PERGUNTA: — Quais são os métodos empregados pelos guias nessa intervenção espiritual para o bem dos seus pupilos encarnados?

RAMATÍS: — Quando falham todos os recursos no campo mental da inspiração superior, e o pupilo periclita na sua integridade espiritual, em geral os seus guias se socorrem do recurso eficiente da enfermidade ou mesmo de vicissitudes morais ou econômicas, através das quais possam neutralizar em tempo as causas principais dos desatinos e imprudências. Quase todos os seres humanos são portadores de verdadeiras válvulas de segurança psíquica, embora se trate de deficiências cármicas provenientes das mazelas passadas, e servindo-se das quais os guias intervêm para cercear os desvios perigosos.

Bem sabeis que o corpo carnal é o reflexo exato do temperamento psíquico de cada alma, pois entre dois irmãos gêmeos, e perfeitamente parecidos, mesmo que sejam xifópagos, podeis notar considerável diferença na sua contextura moral e intelectual, comprovando-se que, embora sob o mesmo padrão consangüíneo, sob iguais ascendentes biológicos ou tendências hereditárias, essas duas almas diferem profundamente quanto à sua ascendência psíquica. Assim sendo, o organismo físico de cada criatura conserva também em sua intimidade etéreo-astral uma zona vulnerável do seu próprio psiquismo ancestral, que pode servir de recurso excepcional para à última hora o guia intervir e aplicar a disciplina compulsoriamente, quando o seu protegido lhe faz ouvidos moucos.

PERGUNTA:— Podeis oferecer-nos qualquer exemplo mais concreto do assunto?

RAMATIS: — Há casos em que determinado protegido, até então regrado e amigo do lar, deixa- se fascinar por qualquer paixão mundana perigosa, que pouco a pouco o vai absorvendo e ameaçando de causar perturbação grave no seio amigo da família.

Por vezes ele se torna refratário a qualquer intuição espiritual superior ou nega-se a cumprir as promessas feitas durante o sono, quando deixa o corpo físico no leito, preferindo obsidiar-se completamente pela mulher extravagante, parasita ou fescenina, ou então pelo álcool ou pelo jogo insidioso.

Quando menos espera, é lançado ao leito de dor ou, então, vê cessadas as facilidades ou recursos materiais que o sustentavam na imprudência condenável, ficando impedido de prosseguir no seu comportamento irregular. Um outro, por exemplo, pode ser o de um indivíduo saudável, forte, demasiadamente viril e dotado de um corpo avantajado, mas cujo espírito irascível e prepotente nega-se a abrandar o seu temperamento ou foge à intuição benfajeza do seu amigo desencarnado. Avantajado de corpo e de forças, sempre reage com violência e atrevimento diante de qualquer conselho ou protesto alheio! Sumamente agressivo, usa suas mãos como vigorosas luvas de boxe, que esbofeteiam com facilidade e se movem ameaçadoras, sem quaisquer propósitos de tolerância e escusas. No lar, a sua irascibilidade semeia confrangimentos contínuos, pois é atrabiliário com a esposa, filhos e vizinhos; vive certo de não precisar de ninguém e sente-se bastante auto-suficiente para desprezar os favores do próximo! Então, o seu guia espiritual só tem um recurso para domar o pseudo - “gigante” demasiadamente eufórico de sua estatura e do seu maciço de carne: é jogá-lo num leito de sofrimento cruciante e arrasá-lo até que reconheça a sua própria debilidade humana no seio da humanidade. Desse modo, cerceia-lhe a autoviolência e o coloca a caminho da ternura e da humildade, sob o guante do sofrimento, demonstrando-lhe que não passa de um troglodita vestido à moderna, qual extravagante gladiador que abusa de sua robusta armadura de carne, nervos e ossos! Lança-o por terra abatido por violenta e insidiosa enfermidade, fazendo-o entrever o limiar dos bastidores do “outro mundo”, o que lhe desanda tremendo susto e desperta o desejo de continuidade de vida para cuidar do socorro alheio!

Em geral, aqueles que aparentam maior indiferença pela morte, porque são robustos e sadios, quase sempre são os que mais se acovardam ante a perspectiva de perder o corpo que lhes dá os prazeres fugazes da vida animal e facilita-lhes todos os caprichos e vaidades da carne. Como não confiam na perspectiva agradável da “outra vida”, além do prosaísmo da existência física, agarram-se desesperadamente à armadura carnal, como o náufrago à tábua de salvação.

PERGUNTA: — E esse recurso a que vos referis é suficiente para ajustar o protegido rebelde às inspirações superiores?

RAMATIS: — Naturalmente, estamos pressupondo um tipo psicológico para o nosso exemplo, de cujo sofrimento possais tirar ilações proveitosas para outros casos semelhantes ou da mesma índole espiritual. No entanto, esse tipo é bem mais comum do que imaginais, e muito acovardado diante das provas retificadoras do espírito!

Embora possam variar imensamente os recursos e os métodos empregados pelos guias, conforme as reações psicológicas de cada uma criatura em prova, a enfermidade ainda é a mais valiosa intervenção corretiva para coibir o abuso dos encarnados que se imaginam “donos do mundo” e pretendem viver completamente desligados de qualquer compromisso ou obrigação para com os seus amigos e mentores que os acompanham do mundo invisível.

O corpo físico é o banco escolar onde a alma se assenta para aprender o alfabeto espiritual e proceder à sua necessária renovação interior. Desde que esse aluno despreze as oportunidades do aprendizado espiritual e prefira entregar-se ao comando das paixões animais, é muito comum a enfermidade, como um efeito confrangedor das vidas passadas, assim como pode ocorrer a inter- venção disciplinadora do Alto, se for necessária.

Para nosso exemplo anterior, aproveitamos o tipo do homem irascível, violento e intolerante, que abusa da sua organização carnal privilegiada sobre os menos agraciados de corpo ou subalternos, cuja ostensividade nociva só poderá ser corrigida quando atirado ao leito de dor e vítima de prolongada enfermidade. Posteriormente, flácido de carnes, impotente e algemado a um corpo débil, esfrangalhado sobre um colchão incômodo, há de sentir a confrangedora humilhação de sua fragilidade humana!

Perde o peso assustadoramente, e a carne se descora; os olhos fulgurantes e os lábios crispados ficam mortiços e exangues; a respiração ruidosa e imponente substitui-se por um débil fio de ar que flui dificultosamente pela boca entreaberta; os costumeiros gritos estentóricos se transformam em breves sussurros a pedirem chá e medicamentos. Desamparado da musculatura vigorosa, terá que reconhecer o valor da comunhão da família e receber-lhe o auxilio para sobreviver! Antes, expulsava de sua presença até os humildes que desejavam servi-lo; depois, abatido e exangue, beberica o remédio pelas mãos de uma criança e sorve a sopa nutritiva sob a vigilância da esposa amiga!

Na melancolia do leito de sofrimento, sobrar-lhe-á tempo para avaliar os serviços que lhe prestam na hora angustiosa; compreenderá a inutilidade do orgulho e da irascibilidade baseados no fato de possuir um corpo excessivamente acolchoado de carne. Então a visita de um amigo, o interesse do vizinho ou a lealdade constante da esposa ser-lhe-ão acontecimentos agradáveis e aguardados com ansiedade. Os mais pequeninos favores transformam-se em dádivas do céu para o gigante de carne soterrado no leito e que não consegue, sequer, atender às suas próprias necessidades fisiológicas.

Visitado por facultativos que lhe lavram diagnósticos sentenciosos; cercado de medicamentos famosos da farmacologia moderna; colecionando chapas radiográficas, exames complexos de laboratório; perfurado de hipodérmicas e saturado de drágeas e comprimidos, já a perspectiva de ser um ente incurável torna-o cada vez mais acovardado!

Mas que importam ao guia os diagnósticos brilhantes, as elucubrações etiológicas ou as citações clássicas do rigor médico acadêmico, quando o que interessa é a queda do brutamontes vencido na arena da vida humana! Malgrado se louve a competência médica que lavrou um diagnóstico grave de enfarte cardíaco, a diabetes “mellitus”, a angina pectoris ou a disfunção cárdio-hépato- renal, o que realmente se torna proveitoso para o espírito ali aprisionado na carne flácida é a natureza de suas novas reflexões, que lhe devem despertar um novo entendimento sobre a verdadeira natureza humana tão frágil, assim como guiar-lhe a visão egocêntrica para a vida real do espírito!

PERGUNTA: — Não bastaria a Lei de Causa e Efeito para cercear aqueles que podem abusar de sua personalidade humana em detrimento do próximo? Há, ainda, necessidade de qualquer intervenção excepcional dos seus guias?

RAMATIS: — Repetimos: A Terra é uma escola de educação espiritual, sob a visão amiga e benfeitora dos espíritos protetores. No entanto, os irmãos das sombras, desejosos de subverter a ordem de ascensão angélica e dominar o mundo material, procuram dificultar a ação dos guias e os obrigam a empregar todos os recursos possíveis para não deixarem os seus pupilos cair sob a “tentação” dos maus e os manter atentos às lições proveitosas da escola carnal.

Sem dúvida, o espírito deve colher no presente, pela Lei de Causa e Efeito, os efeitos bons ou maus correspondentes às causas que semeou no passado pelo uso do livre arbítrio. A Lei do Carma, então, que é Lei de retificação espiritual, de ordem e disciplina cósmica — uma espécie de contabilidade que apura o “deve” e o “haver” do espírito no presente — situa cada alma no cenário próprio ou nas condições que lhe correspondem exatamente em vista do bem ou do mal que haja praticado, mas deixa-lhe a liberdade de reajustar-se à nova situação ou piorá-la.

Aquele que abusou da fortuna, no passado, é evidente que há de nascer e viver pobre na vida futura, a fim de aprender a valorizar a situação de quem é pobre; no entanto, gozando do seu livre arbítrio, em vez de resignar-se à prova retificadora da pobreza, poderá tornar-se um mendigo solerte ou um indivíduo que viva de furtos vulgares, um estelionatário ou mesmo uma criatura desonestíssima e revoltada contra a sua situação cármica.

É evidente que a Lei do Carma, neste caso, apenas leva o indivíduo à pobreza, mas o livre arbítrio da criatura pode aumentar o efeito retificador e levá-la a práticas ainda mais perniciosas e gravosas para o seu futuro. Quantas vezes, e para o próprio bem da criatura, o seu guia espiritual intervém dificultando-lhe ainda mais a vida ou enfermando-a constantemente, para evitar-lhe a materialização dos pensamentos perigosos de revolta ou descaso para com a vida espiritual! Muitas criaturas evitaram a agravação de suas situações cármicas na Terra, com prejuízos para esta e para as vidas futuras, porque seus protetores conseguiram algemá-las definitivamente a um leito de dor, ou privaram-nas dos meios econômicos que lhes permitiriam levar avante empreitadas perigosas para a sua integridade espiritual.

No documento Medicina Fisiologia Da Alma Ramatis Portugues (páginas 171-175)