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A atuação da USIA no Brasil foi realizada pelos seus postos USIS, sendo o principal deles o que funcionava no interior da Embaixada dos Estados Unidos, no Rio de Janeiro. Este foi um agente político de relevância, estabelecendo conexões com os principais setores

46 “The American people had never been comfortable with the word propaganda, with its connotations of distortion, trickery and downright lies. ‘Public diplomacy’ gave the USIA a fresh turn of phase upon which it could build new and benign meanings; it was a perfect piece of propaganda about propaganda. The term ‘public diplomacy’ covered every aspect of USIA activity and number of the State Department’s cultural and exchange functions”.

59 conservadores do país e construindo uma sólida e eficiente rede de produção e distribuição de conteúdo ideológico para a defesa de interesses dos Estados Unidos.

Longe de ser um mero replicador das políticas ideológicas desenhadas pela intelligentsia estadunidense, o posto USIS Rio de Janeiro foi também um produtor de pesquisas e análises sobre o cenário político e econômico brasileiro, contribuindo com dados colhidos in loco para as estratégias elaboradas por Washington, além de desempenhar a função de órgão coordenador das atividades realizadas pelos postos localizados nas demais cidades brasileiras.

Em 1955, o posto USIS Rio de Janeiro formou sua equipe de pesquisa. As atividades de pesquisa do posto brasileiro deveriam fornecer relatórios periódicos sobre diversos aspectos da sociedade brasileira: bibliotecas, estudos de mídia, opinião pública, imprensa e estudos sociais, além dos barômetros, que eram estudos voltados para medir a opinião pública local em relação aos Estados Unidos, e dos Fact Book48. As pesquisas realizadas no Brasil contaram com a participação de institutos e empresas de pesquisa diversas, nacionais ou estrangeiras, como forma de ocultar o envolvimento da Agência e dar às pesquisas um aspecto de isenção49. (SANTOMAURO, 2015).

As regiões pesquisadas iam desde grandes centros urbanos, como Rio de Janeiro e São Paulo, até regiões fora do eixo central, como Amazonas, Acre, Mato Grosso, Amapá, Goiás, claramente regiões de interesse econômico.

As pesquisas de opinião pública tinham por objetivo medir o grau da aceitação política dos Estados Unidos no País, assim como a audiência dos programas de rádio produzidos pela USIA, que cobriam não só as grandes cidades, mas também centros urbanos mais afastados, em diversos Estados50. (SANTOMAURO, 2015, p. 193).

Os assuntos pesquisados eram diversos: opinião dos brasileiros sobre a Organização dos Estados Americanos (OEA), presidentes diversos (estadunidenses especialmente), crises políticas, crises econômicas, canal do Panamá, energia nuclear, racismo nos Estados Unidos,

48 Fact Books eram relatórios que compilavam as informações de cada país pesquisado, reunidos anualmente num volume.

49 As parcerias da USIA para a realização de pesquisas foram McCann-Erick Publicidade S. A., Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística, Instituto de Pesquisa de Opinião e Mercado, Escola Livre de Sociologia e Política, Instituto de Estudos Econômicos e Sociais (INESE), Institute for International Market and Public Opinion Research (Alemanha), Institute for International Social Research, Princeton, Instituto de Estudos Econômicos (IPOM), Market Planning (MARPLAN), Institute for International Market and Public Opinion Research (EMNID), Instituto Gallup do Brasil, Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (IBOPE).

50 Cidades as mais diversas como São João do Meriti, Garanhums, Campina Grande, Argolas, Franca e Guarulhos, entrevistando operários, donas de casa, executivos.

60 democracia, ditaduras, socialismo, capitalismo, possível terceira guerra mundial e a presença cultural dos Estados Unidos. (SANTOMAURO, 2015, p. 191).

Os movimentos de políticos também eram monitorados e avaliados nos relatórios. Políticos com pautas nacionalistas, estudantes e trabalhadores organizados, com especial atenção para os trabalhadores rurais, eram frequentemente apontados como focos de atividades subversivas. Havia um grande esforço para levantar informações e analisá-las, de modo a orientar as ações contrainsurgentes da Agência no país.

Em relatório de 1961, fruto de pesquisa da USIA realizada pelo Institute for International Social Research, estava em análise “o nacionalismo brasileiro, no legislativo e em geral, o poder e a influência de grupos rurais, urbanos, elites urbanas e forças armadas; a visão brasileira sobre o comunismo e sobre Fidel Castro, as aspirações populares, seus medos, preocupações, frustrações; e o tema da reforma agrária” (SANTOMAURO, 2015, p. 200). Em análise também estavam os partidos políticos com citação ao Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), foco de rejeição aos Estados Unidos e sua política no País; concluía-se que o nacionalismo brasileiro mais profundo e latente que o comunismo ou o antiamericanismo, e que o país buscava desenvolvimento econômico e reconhecimento internacional51.

De modo geral, as pesquisas levantavam informações sobre grupos sociais e seus níveis de organização acerca dos assuntos elencados pela Agência. Com os dados, mapeavam os grupos com atividades políticas consideradas subversivas, os grupos de onde poderiam tirar apoio, os grupos indiferentes etc.

As pesquisas não tinham por objetivo apenas mapear resistências e movimentos sociais, mas fazer levantamento de informações pertinentes ao ambiente dos negócios. No ano de 1965, por exemplo, pesquisa encomendada pela USIA ao sociólogo José Arthur Rios, ligado ao IPÊS, procurava identificar as possibilidades para criação de novas lideranças empresariais, enfocando especialmente o chamado empreendedorismo paulista.

As pesquisas de caráter sociológico, realizadas ou patrocinadas pela USIA até então, entraram em declínio a partir de meados da década de 1960, devido às modificações operacionais impostas à Agência pelo governo Johnson. O departamento de pesquisa foi perdendo força, embora não tenha deixado de existir enquanto existiu a Agência.

51 O posicionamento assumido pela USIA em relação ao nacionalismo e nacional-desenvolvimentismo brasileiros estão analisados, respectivamente, nos capítulos 4 e 5 desta tese.

61 A estrutura da USIA no Brasil, além do Departamento de Pesquisas, consistia em postos de serviços, os USIS, que já existiam por aqui antes mesmo da fundação da Agência, como herança da estrutura de intercâmbio cultural montada desde a década de 1940, com oferta de bibliotecas e centros culturais52 (RODEGHERO, 2007).

Ofereciam programação cultural diversa como espetáculos de dança, teatro e música, exposições, aulas de inglês, palestras, chás da tarde e eventos esportivos53.

Figura 2

52 O serviço consular foi essencial na realização dos serviços de informação e guerra psicológica.

53 As cidades que já possuíam os postos eram Belém, Belo Horizonte, Curitiba, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador, Santos, São Paulo e Vitória.

62 O orçamento destinado aos postos aumentou com a fundação da Agência, e já em 1954 era de US$ 1.745.000,00 (um milhão, setecentos e quarenta e cinco mil dólares). Novos postos destinados especialmente à produção de filmes foram instalados em Florianópolis, Goiânia e Manaus, e um novo centro binacional foi aberto em Caxias do Sul (SANTOMAURO, 2015, p. 213).

Os cargos de direção dos centros binacionais eram oferecidos a pessoas consideradas lideranças influentes na vida política e social local.

A identificação e combate aos problemas eram setorizados por região. O USIS São Paulo tinha como foco combater o ultranacionalismo detectado na cidade de Campinas, movimento de resistência à presença da iniciativa privada internacional no país. A estratégia era a produção e distribuição de artigos para a imprensa local para mostrar a participação benéfica, para o desenvolvimento da cidade, da economia norte-americana na região. Em Belo Horizonte, o alvo eram os líderes sindicais e estudantes, e a produção de material voltava-se especificamente para esses segmentos sociais. Sob a responsabilidade do USIS Porto Alegre, estava o de criar sentimentos cívicos na região sul, com aulas de educação cívica nas escolas. Na região nordeste, considerada “foco do comunismo”, a responsabilidade do USIS Recife era promover propaganda através de recursos audiovisuais, como a exibição de filmes, programas de rádio e de TV (SANTOMAURO, 2015), estratégia adotada para contornar o problema do alto índice de analfabetismo da região, que atrapalhava a eficiência da propaganda via palavra impressa54. Em 1963, já eram 64 postos locais da USIA em funcionamento no Brasil, que distribuíam os conteúdos produzidos pela Agência (pró-americanismo, antinacionalismo e anticomunismo) e ofereciam programação cultural.

Com o governo Johnson e a progressiva desaceleração no orçamento da USIA no Brasil, houve o fechamento de diversos postos ao longo dos anos. Permaneceram abertos somente aqueles que foram capazes de se autossustentarem através das mensalidades cobradas aos usuários.

54 Na década de 1960, a população brasileira acima de 15 anos era cerca de 40 milhões, sendo 16 milhões de analfabetos, aproximadamente, perfazendo 39,7% de analfabetos. Na década anterior, os índices, para a mesma faixa etária, eram: cerca 30 milhões de habitantes, sendo 15 milhões de analfabetos, isto é, 50% da população. IBGE, Censo Demográfico apud MINISTÉRIO da Educação. MAPA do Analfabetismo no Brasil, s.d., p. 6. Disponível em:

http://portal.inep.gov.br/documents/186968/485745/Mapa+do+analfabetismo+no+Brasil/a53ac9ee-c0c0-4727- b216-035c65c45e1b?version=1.3. Acesso em: 28 set. 2019.

63 A Agência defendia, entretanto, baseada em pesquisas que ela mesma realizava sobre a opinião pública, que seus postos eram percebidos, pela comunidade local, como lugares de excelência cultural e que isso melhorou a percepção geral sobre os Estados Unidos. Ainda que pese um viés de autopromoção da Agência, tudo indica que o fechamento dos postos USIS e seus centros binacionais teve uma relação direta com a mudança de estratégia do governo estadunidense, e não com a constatação de ineficiência da estratégia adotada até então.

Mesmo com a perda de importância na estratégia interna do governo, ao final de três décadas, dos anos 1950 aos 1970, os centros binacionais mostraram os resultados esperados inicialmente pela USIA, isto é, marcaram os EUA como referência cultural e de estilo de vida entre os brasileiros. Interessante notar também que os centros binacionais eram identificados pela população brasileira em geral como a forma de ação que era declaradamente do governo americano, ou apoiado por ele. Os outros meios de ação da USIA utilizaram- se, muitas vezes, de formas ‘não-assinadas’ pelo governo, com objetivo de alcançarem ainda maior eficácia e penetração nos modos de vida e de pensar do brasileiro. (SANTOMAURO, 2015, p. 224).

Nos planos elaborados para ação da USIA no Brasil, os chamados Country Plans, a ideologia da segurança nacional toma corpo nas estratégias desenhadas. Ali estão relacionadas as questões políticas consideradas preocupantes para os interesses dos Estados Unidos, assim como as ações elaboradas pela Agência para o seu enfrentamento através de conteúdos ideológicos apropriados. As questões giravam em torno do comunismo, da defesa da democracia (cujo modelo exemplar era o estadunidense), do nacionalismo, do antiamericanismo, da defesa da empresa privada e do capital privado, do uso da energia atômica, da defesa da paz mundial (e a justificativa para o armamento nuclear e os tratados de não agressão mútua) e, por fim, da valorização das artes e da herança cultural do “hemisfério ocidental”. Todo o conteúdo produzido, seja em palavras ou imagens, tinha por objetivo influenciar debates e legitimar o ponto de vista dos Estados Unidos.

Traduzidos em objetivos de ação de longo e curto prazos a serem concretizados pelos programas ideológicos, as questões declaradas nos Country Plans permaneceram praticamente imutáveis durante todo o período analisado neste trabalho. Nos planos de ação para 1954 (USIA RG 306. COUNTRY..., 28 abr. 1953), os objetivos imediatos eram: 1. fortalecer o tradicional espírito de amizade entre Brasil e Estados Unidos e o entendimento da democracia estadunidense; 2. convencer brasileiros de que seu progresso e segurança nacionais podiam ser

64 alcançados por meio da cooperação dos EUA, da OEA e da ONU; 3. encorajar brasileiros a tomar ações efetivas contra o comunismo e outros movimentos anti-Estados Unidos.

Os planos de ação para 1956 (USIA. RG 306. SIX MOTH’S…, 13 jul. 1956) não traziam grandes alterações em relação aos anteriores, apenas marcavam a necessidade de reforçar as diretrizes estabelecidas pela OCB e trabalhar de forma positiva os temas relacionados à economia estadunidense, isto é, a política econômica dos Estados Unidos, o sistema de empresas privadas e o conceito de capitalismo para as pessoas.

Os planos de ação elaborados para o ano de 1957, documento bastante completo em sua forma quando comparado aos anteriores, apresentavam, além dos temas relacionados ao sistema capitalista como um todo e o estadunidense em específico, a necessidade de convencer brasileiros de que o nacionalismo, agora compreendido pelos documentos do governo estadunidense como ultranacionalismo, representava uma séria ameaça ao desenvolvimento econômico brasileiro. Como objetivos globais, este documento declarava: 1. União do mundo livre para combater a ameaça comunista sem guerra; 2. Exposição do partido comunista como uma força estrangeira vinda de Moscou ou por ele financiada para expansão de seus objetivos; 3. Convencer os povos estrangeiros de que os Estados Unidos procuravam, com outras nações e povos, desenvolver rapidamente o uso do átomo para a paz – como uma promessa de uma vida melhor para todas as pessoas e uma poderosa força para a paz mundial.

Dentro destes objetivos globais, as ações da USIA na América Latina deveriam: 1. promover a defesa militar da democracia e do mundo livre; 2. reforçar a importância e o papel do capital estrangeiro, principalmente estadunidense, para o desenvolvimento do país; 3. expor os perigos do comunismo; 4. reforçar as contribuições dos EUA no desenvolvimento da energia atômica para o desenvolvimento de todos e manutenção da paz; 5. promover e fortalecer a OEA como meio de alcançar cooperação crescente no hemisfério quanto à política, economia e esforços militares; 6. esclarecer os verdadeiros fatos relacionados com Costa Rica, Havaí e Filipinas de forma a esvaziar as acusações de colonização por parte dos EUA.

Os objetivos específicos para o Brasil declaravam: 1. enfatizar a tradicional cooperação entre os EUA e o Brasil durante todos os períodos da história desses dois países; 2. obter grande apreciação da contribuição dos EUA para o desenvolvimento econômico e social do Brasil através do ICA (Ponto IV), programa de assistência técnica e outros projetos colaborativos; 3. explicar as políticas de suporte dos EUA para o mundo livre; 4. publicizar os variados esforços dos EUA para o desenvolvimento e o compartilhamento de conhecimento e materiais para o

65 uso da energia atômica em tempos de paz; 5. promover o entendimento e apreciação da cultura e modo de vida democráticos dos EUA; 6. expor que a penetração comunista e ultranacionalista são ameaças ao desenvolvimento econômico e social do país; 7. mostrar as vantagens dos investimentos privados para o desenvolvimento econômico brasileiro; 8. promover grande entendimento de todas as fases da democracia como chave para a estabilidade política e bem- estar nacional.

Dentre os objetivos específicos, os de curto prazo eram: 1. criar atitude favorável para a modificação da lei da Petrobras; 2. encorajar estabelecimento de condições de atração do capital privado estadunidense para investimentos no Brasil (em setores necessários ao desenvolvimento econômico do Brasil); 3. expor as implicações políticas da assistência técnica oferecida pela URSS.

Para cada um desses objetivos imediatos, uma justificativa foi apresentada. De modo geral, as justificativas giravam em torno da necessidade de contra-atacar as acusações, vindas especialmente dos setores nacionalistas do país, sobre tentativas de interferência e exploração indevida por parte dos EUA aos países do hemisfério, assim como a necessidade de convencer os brasileiros sobre os benefícios do capital privado.

Os obstáculos ao investimento estrangeiro e o descrédito da ajuda dos EUA ao Brasil, atribuíveis tanto à penetração comunista, em todos os níveis de governo, quanto ao ultranacionalismo continuam a ameaçar gravemente o progresso social e econômico do Brasil. Entre muitos brasileiros, ainda não há uma conscientização adequada sobre essa ameaça em seu país. Segue-se, é claro, a contínua necessidade de encorajar uma unificada contra-ação dos brasileiros. [...] Pesquisas de opinião pública (patrocinadas pelo USIS Rio e pela indústria) evidenciam a permanência do crédito ao governo para o desenvolvimento industrial, o que indica claramente a necessidade de conscientizar os brasileiros das vantagens da iniciativa privada no desenvolvimento econômico do Brasil55. (USIA. RG 360. COUNTRY... 1957,

tradução própria).

55 “The obstacles to foreign investment and the discrediting of US aid to Brazil, attributable to both Communist penetration, at all levels of government, and to ultra-nationalism continue to severely threaten the social and economic progress of Brazil. Among many Brazilians there is not yet adequate awareness of this threat to their country. It follows, of course, that there continues to be great need for the encouragement of united counter-action by all Brazilian. […] Public Opinion surveys (both USIS Rio and industry-sponsored) give evidence of continued ‘looking to the Government’ for the development of various industries which clearly indicates the need to give Brazilians greater awareness of the advantages of private enterprize [sic] in the economic development of Brazil”.

Fonte: Country Plan for Brasil Fiscal Year 1957. In: NARA II. USIA, RG 306, Office of the Assistant Director

for Latin America. Country Files for Brazil 1953-1971. Entry P 404. NND 54186. Box 1. Folder Brazil Country Plan.

66 O plano de ação para o ano de 1958 apresentou os mesmos objetivos já anunciados nos planos para o ano fiscal anterior, transitando entre a necessidade de apresentar os EUA como defensores da paz mundial, promotores do desenvolvimento através do capital privado, a interdependência econômica entre países do hemisfério e a necessidade de união no combate à ameaça comunista.

Para as ações direcionadas exclusivamente ao Brasil, permanecia a orientação para vincular o nacionalismo ao comunismo e para convencer a opinião pública brasileira de que o nacionalismo era prejudicial ao desenvolvimento econômico do país. Cabem duas observações importantes em relação ao conteúdo “analítico” apresentado pelo documento: 1. a explícita declaração da importância estratégica do Brasil para os interesses estadunidenses; 2. a afirmação de que a Petrobras era a responsável, além dos comunistas, pelos recursos financeiros que sustentavam o movimento de “extremo” nacionalismo.

O Brasil é o único país da América Latina capaz de se tornar uma potência mundial. Por isso, tanto no econômico quanto no estratégico, o Brasil é importante para os EUA. Um Brasil hostil ameaçaria a posição dos EUA no hemisfério inteiro. [...] As agitações dos comuno-nacionalistas são evidentemente bem financiadas. As fontes de alguns fundos são comunistas. Interesses comerciais contribuem. Há motivos para suspeitar que muito dinheiro vem da Petrobras, cujo orçamento de propaganda é estimado de US $ 14 a US $ 22 milhões por ano56. (USIA. RG 306. COUNTRY... 1958,

tradução própria).

A importância do Brasil para os objetivos imperialistas dos Estados Unidos na América Latina reaparece no plano de ação para o ano de 1959, e as análises sobre a situação política e econômica que apresenta revelam que a observação dos analistas do posto USIS Rio de Janeiro se tornou mais acurada (ou mais bem informada). Havia uma grande preocupação em informar Washington sobre as especificidades do governo de Juscelino Kubitschek, apontando as suas dificuldades econômicas, a presença de comunistas em seu governo, os aspectos de seu projeto nacionalista e o seu esforço em conduzir a Operação Pan-Americana (OPA). O nacionalismo continuou a ser considerado um problema e o documento nomeava os setores institucionais

56 “Brazil is the only Latin American country capable in this country of becoming a world power. For this reason, as for economic and strategic ones, Brazil is all important to the US. An unfriendly Brazil would threaten the US entire hemisphere position. […] Communo-nationalism agitprops are evidently well financed. The sources of some funds are Communist. Business interests contribute. There is reason to suspect that much money comes from Petrobras, whose propaganda budget is variously estimated at $14 to $22 million annually”. Fonte: Country Plan for Brasil Fiscal Year 1958. In: NARA II. USIA. RG 306, Information Center Service. Bibliographic Division. Copies of Country Plans, 1952-1959. Entry P 327. NND 36961. Box 2.

67 brasileiros considerados responsáveis por alimentá-lo: o Conselho de Segurança Nacional, o Estado-Maior das Forças Armadas, a Escola Superior de Guerra (ESG), a Escola do Comando e Estado-Maior do Exército, o Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB) e a Petrobras.

Ameaçadoras, as forças que tendem a distorcer o nacionalismo saudável no chauvinismo poderiam ser identificadas dentro do governo. Como a Embaixada informou recentemente em detalhes (Despacho 1431, 12 de junho de 1958), quatro fortes proponentes e promotores do nacionalismo são: o Conselho de Segurança Nacional, o Estado-Maior das Forças Armadas, a Escola Superior de Guerra (que ao contrário dos EUA, seleciona a maioria - dois terços - de seu corpo de estudantes entre civis, empresários, jornalistas e funcionários do governo) e a Escola do Comando e Estado-Maior do Exército. O Instituto Superior de Estudos Brasileiros do Ministério da Cultura e da Educação, um organismo relativamente novo, que mantém estreitas relações com líderes de universidades e representantes trabalhistas, é também um

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