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A ação reflexiva como fator contribuinte na continuidade dos processos

No documento 2007VereniceTeresinhaLipsch (páginas 84-87)

Como terão continuidade os processos implementados nos municípios a partir da relação entre as Secretarias Municipais de Educação e o CEPO, uma vez que em determinado período muda a gestão administrativa?

Por mais que muitas vezes a educação popular é confundida com uma ação partidária, o trabalho, desde o seu princípio, é desenvolvido como uma política pública e

não como uma política de governo, de modo que os processos metodológicos implementados possam ter sua continuidade ao mudar a gestão administrativa e/ou, então, o CEPO deixar de assessorar.

A problemática da mudança das políticas educacionais, quando ocorre a troca de gestão administrativa, também está presente nos pequenos municípios, entretanto, pelos processos estarem enraizados numa prática reflexiva, a metodologia instituída e implementada, uma vez construída na consciência dos educadores, permanece. O sistema pode mudar, mas os professores, ao experienciarem o processo de participação coletiva, não deixam de realizar o trabalho, este está na sua consciência.

Nesse sentido, fazemos relação dessas realidades com as palavras de Benincá (2002), quando destaca que o agir político deriva-se de uma consciência crítica enraizada na reflexão e esta possibilita a compreensão de mundo e a construção da cidadania e, ainda,

a reflexão, entretanto, mantém a consciência em observação. Daí a necessidade permanente de busca de informações e de instrumentos teóricos para fazer a análise e a compreensão do seu mundo. O agir político será, então, pautado pela compreensão que obtém do mundo. Como se torna sujeito de sua ação ou de sua omissão, torna-se também responsável e, eticamente, passa a construir sua cidadania. [...] A liberdade de agir requer uma decisão da vontade, um querer ou não realizar a ação, mas qualquer decisão será sempre responsável. (BENINCÁ, 2002, p. 61-62).

Se os educadores, diz Benincá, no seu agir político, mantiverem um processo reflexivo, uma vez que “a ação sistemática da reflexão pode ser identificada com o processo pedagógico” (p. 61), os processos implementados nos municípios, mais especificamente nas escolas municipais rurais, terão continuidade. No entanto não podemos ser ingênuos e acreditar que tudo permanecerá da mesma forma, mudanças ocorrerão e caminhos novos serão discutidos, ainda mais que cada gestão administrativa tem suas metas e objetivos, como também sua concepção de educação e de sociedade.

Duas entrevistadas dos municípios em que o CEPO não mais acompanha o processo falam sobre a contribuição da educação popular e a continuidade do trabalho:

Com a proposta da educação popular muita coisa mudou na minha escola. As crianças participam mais, pois sempre estão presentes nos encontros com a comunidade. Os assuntos discutidos fazem parte também das conversas entre as crianças. Já organizamos com os pais vários projetos de melhoria tanto da escola como da comunidade. Os resultados aos poucos vão aparecendo. Mesmo com a mudança da administração, eu continuei fazendo os encontros. O que ajuda a escola não pode ser simplesmente ignorado. Não temos mais uma assessoria direta nos encontros, mas estou dando continuidade. Com os pais e a comunidade próximos da escola, eu sei também como conduzir o trabalho. Não estou sozinha, as responsabilidades são divididas. (PROFESSORA 5).

Na minha escola eu mantive o processo. A escola é o lugar que une toda a comunidade. Tem coisas que não dá pra voltar atrás. Discutir os problemas e os sonhos com todos da comunidade me ajuda na minha prática em sala de aula, os alunos também se envolvem. Temos algumas orientações da SMEC, mas na escola nós temos autonomia. (PROFESSORA 9).

Pelas colocações, percebemos que o processo implementado contribuiu para a ressignificação da escola rural, como também da prática educativa. As professoras, independente da gestão administrativa e da assessoria, mantiveram o trabalho. A participação dos pais e da comunidade no processo educativo dinamiza o espaço escolar e possibilita que passos sejam dados na construção de uma escola democrática e popular.

Portanto, construir uma política educacional fundamentada na educação popular, a qual se compromete com seus sujeitos e busca no trabalho coletivo a avaliação da prática e a superação de seus limites, objetivando construir iniciativas que possibilitem reafirmar o processo ensino-aprendizagem a partir da realidade, é desafiar-se a ressignificar a escola, como também o contexto no qual ela está inserida, tendo como pressuposto a emancipação social dos sujeitos. É, outrossim, desenvolver experiências que ultrapassam os interesses individuais e que buscam na coletividade o atendimento das necessidades dos envolvidos. É caminhar juntos, rompendo barreiras e criando alternativas para que a educação do sonho se concretize no cotidiano.

Nesse sentido, acreditamos que os processos desencadeados nos municípios, mais precisamente nas escolas do meio rural, esboçam-se como uma possibilidade na construção de uma nova educação. A metodologia implementada, tendo como fundamentação a educação popular, possibilita que a escola se renove. As iniciativas desenvolvidas mostram-nos que a educação popular pode contribuir com a recriação dos espaços escolares, pois sua dinâmica possibilita a participação efetiva dos educandos, pais e comunidade, tanto no processo educativo, quanto no debate dos problemas sociais, cria

canais para a construção de uma escola democrática, a partir do exercício da cidadania ativa.

Construir uma educação comprometida com os desafios de nosso tempo, tendo como fundamento a educação popular, certamente não se faz com uma única experiência e num curto espaço de tempo, mas sim, através de políticas educacionais que em nosso entender são fundamentais para que a partir do espaço escolar, uma nova sociedade seja construída; a formação permanente e sistemática do educador, onde o diálogo nasce da reflexão sobre a prática, proporcionando a ressignificação do fazer pedagógico e a implementação de processos metodológicos que problematizem a realidade de forma coletiva, na perspectiva da transformação social.

Enfim, a educação popular concebida como um processo coletivo, histórico, de formação e capacitação, que une a dimensão política à pedagógica e que possibilita o empoderamento dos sujeitos, não se apresenta somente como uma contribuição na constituição de políticas educacionais que proporcionam a recriação dos espaços escolares, mas também como uma proposta libertadora que busca a construção de uma nova sociedade, onde os sujeitos tenham voz e vez.

3.3 Das possibilidades, aos desafios e necessidades na implementação de processos de

No documento 2007VereniceTeresinhaLipsch (páginas 84-87)