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Ações de governança compartilhada: possibilidades para a formação

2.4 FORMAÇÃO CONTINUADA NA REUNIÃO PEDAGÓGICA: POSSIBILIDADE DE

2.4.2 Ações de governança compartilhada: possibilidades para a formação

Governança é o sistema pelo qual as organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas, envolvendo o relacionamento entre conselho, equipe executiva e demais órgãos de controle. As boas práticas de governança convertem princípios em recomendações objetivas, alinhando interesses com a finalidade de preservar a reputação da organização e otimizar seu valor social, facilitando seu acesso a recursos e contribuindo para sua longevidade. Os princípios básicos da governança são: transparência, equidade, prestação de contas e responsabilidade.

As ações de governança estão inicialmente atreladas às duas espécies de campo científico defendidas por Bourdieu (2004). Enquanto um seria puro, relativo ao capital científico adquirido com uma qualificação e suas contribuições para a ciência, o outro seria uma estratégia política.

Em relação à formação continuada no espaço da reunião pedagógica, pode-se afirmar que quem se beneficia com um poder cultural maior são os professores, pois estão destinando seu tempo a debater a educação, no sentido de buscar meios para torná-la mais eficiente e significativa. Com isso, também estão ganhando um capital científico puro e que deve ser qualificado continuamente.

No entanto, não se pode esquecer que, para esta formação acontecer, é necessário vincular profissionais de diferentes níveis. Esses profissionais nem sempre apresentam um capital científico puro, com qualificação suficiente para o papel que executam, mas que estão naquele lugar devido a uma estratégia política baseada em interesses externos. É aqui que entram as relações de força do campo, que podem prejudicar ou não o processo de formação continuada. Com isso, é necessário buscar, assim como pressupõe Bourdieu (2004, p. 66), ter uma visão

[...] não desencantada da vida científica, preceitos ou máximas, procedimentos e processos, especialmente em matéria de organização da discussão e da circulação da informação que permitiram tornar a prática e a vida científica ao mesmo tempo mais eficazes e mais felizes ou menos infelizes [...].

Além de compreender as relações de força do campo, é preciso compreender as ações de governança destes diferentes profissionais em um contexto de formação continuada no

espaço da reunião pedagógica. No sentido de facilitar esta compreensão foi criado o quadro abaixo, a fim de elucidar as funções de cada sujeito num determinado campo, porém relacionados à grande conjuntura da formação continuada de professores, exemplificados e ordenados conforme a hierarquia do contexto municipal:

Sujeitos do campo Função

Prefeito Municipal

 Oferecer subsídios à Secretaria Municipal de Educação para que esta possa desenvolver um adequado trabalho de formação continuada de professores da rede.

 Acompanhar os resultados obtidos com a formação continuada.

 Oportunizar uma base legal para esta formação, assim como valorizar o processo em relação ao Plano de Carreira.

Secretária Municipal de Educação

 Acompanhar o trabalho das escolas de sua rede em relação à formação de professores na reunião pedagógica.

 Normatizar a reunião pedagógica como espaço de formação continuada.

 Analisar os resultados desta formação e criar estratégias para superar dificuldades.

 Oferecer formação continuada aos professores da rede através de palestras ou seminários.

 Prestar contas ao Poder Público Municipal sobre os investimentos relativos à formação continuada, assim como os resultados atingidos.

 Apoiar pedagogicamente as escolas e suas equipes a fim de desenvolverem um adequado trabalho de formação continuada.

Direção da Escola

 Acompanhar o trabalho da coordenação pedagógica e criar um trabalho de parceria por uma escola com professores qualificados e constantemente atentos ao dia a dia da escola.  Manter a Secretaria Municipal de Educação informada sobre

a formação continuada da escola, apresentando resultados e buscando apoio.

 Avaliar as ações desenvolvidas pelos professores provenientes de formação continuada e perceber quais avanços foram possíveis no processo ensino-aprendizagem.

Coordenação Pedagógica

 Organizar a formação continuada na reunião pedagógica, fomentando o desejo dos professores em debater, refletir e construir um processo ensino-aprendizagem de qualidade e eficiência.

 Manter uma relação de parceria com a direção da escola, buscando atender as necessidades da mesma.

Quadro 3 – Função na Escola e os diferentes campos na formação continuada Fonte: elaborado pela pesquisadora.

Definidas as funções de cada sujeito nesta trama em busca da formação continuada mais eficaz, pode-se afirmar que há extrema necessidade de ações de governança para que isso tenha a possibilidade de acontecer. Sendo assim, governança é o sistema pelo qual as organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas, buscando otimizar o tempo e suas atividades, trazendo uma contribuição social.

Para que a ação de governança tenha sucesso, é necessário estar atrelada a princípios básicos. São eles: transparência, equidade, prestação de contas e responsabilidade. Conforme o Guia das Melhores Práticas de Governança para Fundações e Institutos Empresariais (2009, p. 19-20), do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa, entende-se que

Transparência: Mais do que a obrigação de informar, é o desejo de disponibilizar para as partes interessadas as informações que sejam do seu interesse e não apenas aquelas impostas por disposições de leis ou regulamentos. A adequada transparência resulta em um clima de confiança, tanto internamente quanto nas relações da organização com terceiros. [...]

Equidade: Caracteriza-se pelo tratamento justo de todas as partes interessadas (stakeholders). Atitudes ou políticas discriminatórias, sob qualquer pretexto, são totalmente inaceitáveis.

Prestação de Contas (accountability): Os agentes de governança – associados, conselheiros, executivos, conselheiros fiscais e auditores – devem prestar contas de sua atuação, assumindo integralmente as consequências de seus atos e omissões. Responsabilidade: Os agentes de governança devem zelar pela sustentabilidade das organizações, visando à sua longevidade, incorporando considerações de ordem social e ambiental na definição dos programas, projetos e operações.

Cada um dos segmentos de sujeitos apresentados pelo quadro devem ter clareza destes princípios dentro do contexto em que estão inseridos, a fim de tornar o processo formativo válido.

Quando se pressupõe transparência, espera-se uma governança aberta e disposta a compartilhar informações, na busca de um clima de confiança na relação. Equidade, com o objetivo de tratar todos os envolvidos de maneira justa e igualitária. Também prestar contas da governança realizada, com o compromisso de assumir consequências dos seus atos, sejam eles positivos ou negativos. E, por último, a responsabilidade com o processo e os sujeitos envolvidos nele.

Os diferentes campos aqui analisados, assim como seus sujeitos, precisam ter clareza daquilo que é esperado de uma governança compartilhada. Pelo fato de estarem interligados uns aos outros pelo mesmo objetivo,

estas realidades desafiam todos os participantes a dividirem a governança para entender o que significa ser o mercado inteligente e considerar se suas prioridades são uma missão centrada; elas também exigem que todos, mas especialmente os líderes institucionais, sejam politicamente esclarecidos. (MORTIMER, 2010, p. 111).

Mortimer (2010) também destaca que não se pode concentrar em apenas um dos campos, pois assim não estaríamos trabalhando com o conceito de governança compartilhada, mas, sim, percebendo a interação dos diferentes campos e os desafios impostos a esta interação. A formação continuada na reunião pedagógica só será viável se houver esta governança compartilhada. Todos os segmentos precisam estar conectados e operacionalizando para que a formação tenha êxito no dia a dia da escola, cada qual no seu contexto e conforme seu grau de poder. Com isso, não se quer afirmar que um é mais ou menos importante que outro, mas são diferentes campos em relação a uma mesma atividade.

De maneira mais concreta e ilustrativa, pode-se dizer que os professores contam com a coordenação pedagógica na formação continuada in loco. E também partilham com ela o compromisso de estudar, refletir e desenvolver um bom debate em torno de temas pertinentes ao universo da escola. Estando esta partilha bem definida, o compromisso em estabelecer um processo de formação eficiente torna-se muito mais viável e prazeroso.

Tendo os professores clareza da necessidade de partilhar responsabilidades e compromissos com a formação continuada, a coordenação pedagógica também deve ter esta mesma clareza em relação à direção da escola, colocando-a a par de tudo que está sendo desenvolvido e construído. Já a direção deve partilhar com a coordenação suas necessidades, anseios e preocupações. A direção, por sua vez, tem o compromisso de partilhar com a Secretaria de Educação o processo de formação continuada que está acontecendo na escola, bem como os resultados obtidos com esta atividade. A Secretaria, estando ciente da situação, pode e deve compartilhar com outras escolas as experiências positivas, demonstrar seu interesse em resultados e metas a serem atingidas, assim como estabelecer junto ao governo políticas públicas de formação, a fim de beneficiar os professores da rede e, consequentemente, os alunos e a comunidade.

Mortimer (2010, p. 113) define a governança compartilhada com muita clareza ao dizer que ela “significa formulação e implementação de formas significativas para envolver grande número de pessoas no processo de partilha”. É o que se evidencia no processo de governança em que diferentes sujeitos e campos interagem em torno de um único processo comum a todos. No caso da formação continuada na reunião pedagógica da escola, para que ela tenha êxito em si mesma, há a necessidade em estabelecer vínculos de confiança entre os sujeitos envolvidos, permitindo, com isso, a eficácia das futuras decisões e intervenções no processo formador já instituído.

Na governança compartilhada todos têm um papel a executar, sendo que se tentará equilibrar a participação máxima na tomada de decisões com responsabilidade clara e manter

uma comunicação ampla e sem fim. Nessa perspectiva, onde professores, coordenação pedagógica, equipe diretiva escolar, Secretaria de Educação e Poder Público juntos poderão manter um diálogo, mais aberto possível, na perspectiva de construir processos formativos in