• Nenhum resultado encontrado

AÇÕES DE INTERVENÇÃO PARA PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA NO

2 REVISÃO DE LITERATURA

2.4 AÇÕES DE INTERVENÇÃO PARA PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA NO

À medida que se analisam as variadas causas e dimensões da violência nas relações de intimidade, considerando seus fatores de risco, impactos e consequências, maior se torna a informação disponível no sentido de intervir de forma eficaz na sua prevenção. Especialistas na área de intervenção consideram que a educação é a forma de prevenção mais importante, sendo que expõe as causas diretas e subjacentes à violência. A informação/educação acerca do fenômeno da violência, através de programas de intervenção direcionadas para a prevenção, apresenta variados benefícios, particularmente porque permite o acesso a um grande número de jovens e incentiva à concepção de métodos de resolução de conflitos sem recorrer à violência (MURTA et al., 2016).

As primeiras referências na literatura a programas de prevenção da violência nas relações de namoro surgem a partir da década de 1990, com conteúdo e metodologia adequados às diferentes populações alvo. Os programas de intervenção devem ser planejados de acordo com as necessidades dos indivíduos ou grupos para quem se dirige a ação, sendo importante conhecer a idade, o nível de desenvolvimento e a cultura, antes da sua implementação (MANSO et al., 2011). A

sua aplicação deve ser orientada para a prevenção de conflitos nos relacionamentos, através da abordagem de conteúdos fundamentados na aprendizagem de competências, que favoreçam as mudanças de atitude e comportamento e que promovam capacidades intrapessoais como autoconceito, assertividade e independência, habilidades interpessoais como empatia e cuidado, responsabilidade, motivação e capacidade de resolução de problemas (MATOS et al., 2009; SAAVEDRA, 2010).

Diversos pesquisadores na área de violência afetiva, afirmam que é fundamental a realização de ações de intervenção com os adolescentes e jovens desde cedo, quando iniciam essas primeiras relações, reforçando a importância da desconstrução de crenças que legitimam os comportamentos violentos, e prevenindo a banalização da violência no sentido de uma maior compreensão da gravidade deste problema, sensibilizando os mesmos para a utilização de comportamentos não violentos nas suas relações de intimidade (SHOREY et al., 2012; MURTA et al., 2013a; MURTA et al., 2015).

Nas últimas décadas, houve um aumento da consciência de que a violência pode ser prevenida e o seu impacto reduzido. Da mesma forma que os esforços de saúde pública têm impedido e reduzido complicações relacionadas com múltiplas doenças, os fatores que contribuem para respostas violentas, sejam eles fatores de atitude e de comportamento, relacionados com o meio social, condições econômicas, políticas e culturais, podem ser alterados (SHOREY et al., 2012).

Diferentes formas de intervenção podem ser utilizadas no sentido da prevenção da violência nas relações de intimidade. A inclusão no currículo das escolas de programas de prevenção da violência favorece o impacto no conhecimento e consequentemente na procura de ajuda pelos adolescentes e jovens, contribuindo para a intervenção precoce na diminuição das condutas violentas (SILVA; METTRAU, 2010; MURTA et al., 2013b). Nesse contexto, a escola apresenta-se como um espaço importante na socialização desses grupos, assim como um local privilegiado para o aparecimento e necessária sinalização de comportamentos violentos.

A prevenção da violência pode ser concretizada através de programas de informação que incluam, nomeadamente, o relacionamento seguro e estável, o desenvolvimento de competências nos adolescentes e jovens e a promoção da

igualdade de gênero. O planeamento e aplicação de programas de intervenção emergem da necessidade de agir através de estratégias que sejam eficazes na sensibilização acerca importância da utilização de comportamentos saudáveis nas relações de intimidade e que ajudem no esclarecimento e na desconstrução de mitos, crenças e estereótipos de género (WHO, 2009; MURTA et al., 2015).

Os programas de intervenção baseados na divulgação de informação aos adolescentes e jovens sobre as consequências da violência no namoro revelam que estas intervenções conduzem os mesmos a refletirem sobre os comportamentos violentos, porém alguns desses programas têm reduzidos efeitos na mudança das atitudes e crenças sobre a violência, decorrente da abordagem realizada. Ademais, a maioria dos estudos efetuados apontam para a eficácia dos programas de intervenção, evidenciando mudanças positivas, como o aumento do conhecimento e a diminuição a nível das atitudes de legitimação da violência (VAGI et al., 2013; SANTOS; MURTA et al., 2016).

As lições aprendidas com a implementação e avaliação de programas de intervenções indicam direções para o aprimoramento de sua efetividade, especialmente quando realizadas em novos contextos. Esse é o caso do Brasil, onde são ainda poucos os estudos sobre violência no namoro (ANTÔNIO; KOLLER; HOKODA, 2012; ASSIS, et al., 2011) e escassos os programas desenvolvidos para esse fim (MURTA et al., 2013a).

Aqui no país, programas preventivos com esse foco são urgentes, conforme revelam diversas pesquisas realizadas no contexto brasileiro (ASSIS, et al., 2011; OLIVEIRA et al., 2011). Um estudo de âmbito nacional que avaliou 3.205 adolescentes em dez capitais brasileiras, encontrou que 86,9% dos jovens foram vítimas e 86,8% já praticaram, em algum momento da vida, algum tipo de agressão contra o parceiro, seja física, sexual, psicológica ou verbal (OLIVEIRA et al., 2011). As autoras verificaram ainda que 76,6% dos participantes são tanto vítimas como autores das diversas formas de violência.

A bidirecionalidade da violência e as altas taxas de prevalência indicam que adolescentes e jovens brasileiros necessitam fortemente de ações preventivas. Todavia, pesquisas em desenvolvimento e avaliação de programas de prevenção primária à violência no namoro são escassas no Brasil, ainda que seja abundante a

produção em violência de gênero na conjugalidade e na fase adulta (SANTOS & MURTA, 2016). Desenvolver e avaliar sistematicamente programas preventivos para adolescentes por meio do uso de avaliações abrangentes e rigorosas, com grupos de comparação e associação entre múltiplas medidas, é claramente uma das necessidades existentes.

2.5 INSTRUMENTOS CONSTRUÍDOS E VALIDADOS SOBRE VIOLÊNCIA

Documentos relacionados