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O atraso ocorrido de maneira injustificada na execução do contrato sujeita o contratado à multa de mora, na forma prevista no instrumento convocatório ou no contrato, não impedindo que a administração rescinda unilateralmente o contrato e aplique outras sanções previstas no art. 87 da lei 8.666/93.

A execução morosa dos serviços contratados, desde que comprovados a impossibilidade da conclusão da obra, do serviço ou do fornecimento, nos prazos estipulados, é motivo para que a administração, valendo-se do que preceitua o art. 78, caput, inciso III, rescinda a avença.

Em caso de rescisão por força de inadimplemento do contratado Vareschini (2014, p. 132) entende que:

[...] não cabe indenização ao particular, já que a rescisão ocorre em razão de seus atos culposos. Aqui, a rescisão aparece como forma de sanção ao particular, obrigando-o a arcar com todas as consequências de seus atos. Poderá ensejar, desde que justificado pela Administração Pública, a assunção imediata do objeto do contrato, no estado e local em que se encontrar, por ato próprio da administração; ocupação e utilização do local, instalações, equipamentos, material e pessoal empregados na execução do contrato, necessários à sua continuidade. Ainda, após regular processo administrativo, a rescisão poderá ensejar a execução da garantia contratual, para ressarcimento da administração, e dos valores das multas e indenizações a ela devidos e a retenção dos créditos decorrentes do contrato até o limite dos prejuízos causados à administração.

É entendimento de Justen Filho (2012, p. 767) que não é toda e qualquer falta contratual que impõe à Administração Pública o dever de rescindir o contrato. Apesar do interesse público envolvido, existem faltas leves, não tão graves, em que apenas com a aplicação de penalidades a administração verá atendido o interesse por ela tutelado. Explica o autor que:

[...] há condutas que ofendem garantias ou deveres fundamentais à execução do objeto do contrato; outras atingem questões de somenos importância. Também por isso, não se pode cominar a rescisão do contrato como a consequência automática para toda e qualquer infração contratual. Essa solução seria mais perniciosa do que benéfica. Rescindir o contrato significa paralisar o atendimento aos interesses fundamentais. A lesão aos interesses fundamentais não é evitada simplesmente através da rescisão do contrato.

Muito evidente que as sanções administrativas em licitações e contratos tem o potencial de reprovar a conduta prejudicial praticada pelo sancionado, desestimular a sua reincidência, bem como prevenir sua prática futura pelos demais licitantes e contratados. Podem ter caráter preventivo, educativo, repressivo ou visar a reparação de danos pelos responsáveis que causem prejuízos ao erário, e constitui- se em um poder-dever da Administração que deve atuar visando impedir ou minimizar os danos causados pelos licitantes e contratados que descumprem suas obrigações.

Ao gestor de contratos é atribuída a responsabilidade pela condução dos processos para aplicação das sançõesque podem ser impostas ao contratado em casos de inexecução total ou parcial do objeto contratado, como é o caso do atraso injustificado na execução da obra, quando de maneira formal for informado pelo o fiscal do contrato das impropriedades cometidas pelo administrado na execução do objeto contratado.

Cabe a ele, gestor de contratos,com a aquiescência da autoridade competente do órgão, a abertura do procedimento punitivo, concedendo sempre ao administrado o direito a defender-se previamente.

Nos casos da aplicação de multa, a contratada poderá efetuar o pagamento conforme estipulado no processo punitivo, em não fazendo o gestor de contratos deverá valer-se da cauçãoe reverter aos cofres públicos a garantiaentregue pela empresa contratada, até o limite da multa. Caso seja insuficiente, o saldo deverá ser descontado de parcelas a vencer e em último caso judicialmente.

O fiscal de contratos apesar de não deter a incumbência da aplicação de penalidades, dadasua funçãode caráter estritamente operacional, com foco na execução, é de extrema importância nesse processo, porque é o principal fornecedor de elementos legítimosque, quando devidamente remetidos ao gestor de contratos, possibilitam a este respaldo amplificado para a correta direção do ato sancionador, pois em suas anotações estão contidas as razões de fato para uma eventual punição, que visa, principalmente, ordenar as ações que foram inicialmente ajustadas entre a Administração Pública e o contratado, na busca constante pelo atendimento pleno ao interesse público.

Relativo a ação do fiscal e gestor de contrato, Pércio (2010, p. 114) acrescenta:

Gestor e fiscal devem atuar em conjunto, harmoniosamente, desenvolvendo um ciclo que inicia na elaboração do plano de trabalho, em momento prévio a efetiva vigência do contrato, e finaliza com o pagamento do contratado, após o recebimento definitivo do objeto. Decisões e providências que ultrapassam a respectiva competência devem ser solicitadas à autoridade hierarquicamente superior em tempo hábil, para evitar qualquer prejuízo.

Para melhor evidenciar as distintas decisões e atividades que cabem a fiscais e gestores de contratos quando da aplicação de penalidades, segue quadro ilustrativo:

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Administração Pública contrata para atender determinadamente às necessidades públicas, daí a imprescindibilidade de que fiscais e gestores de contratos administrativos compreendam com clareza as cláusulas constantes do acordo que vigiam para que tenham plena condição de exigir o seu cumprimento

.

APLICAÇÃO DE PENALIDADES POR ATRASO INJUSTIFICADO

QUADRO COMPARATIVO DAS DISTINTAS ATRIBUIÇÕES DE

FISCAIS E GESTORES DE CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

FISCAL DE CONTRATOS

GESTOR DE CONTRATOS

Verifica a inobservância

contratual

Adverte a contratada

Solicita correções à

contratada

Cobra correção imediata e

justificativa

Comunica formalmente ao

gestor

Acata ou não a justificativa

Informa medidas tomadas

para a correção

Quando não acatada, deflagra o

processo de penalidade

Fornece elementos

legítimos ao gestor

Define a gradação da pena, como

prevista no contrato

Auxilia o gestor na

instrução do processo

Informa à empresa da decisão

Garante o direito à ampla defesa

Solicita autorização da autoridade

competente do órgão

Executa a penalidade

O absoluto controle dos contratos de obras públicas e o conhecimento das diferentes responsabilidades que incidem sobre o fiscal e o gestor destes acordos são de extrema importância, pois a ausência deste domínio pode provocar entraves na condução destes pactos, principalmente quando, por culpa do contratado, ocorrerem práticas irregulares na sua execução, ficando fiscal e gestor de contratos com o dever de recorrer à aplicação das penalidades previstas em lei na tentativa de reconduzir o acordo ao seu curso normal.

Ao gestor de contratos é atribuída a visão global; a gerência; a administração propriamente dita. Encarrega-se da análise de relatórios remetidos pelo fiscal do contrato; liberação de pagamentos; reajustamento de preços; realização de aditamentos, como: prorrogação do prazo de vigência, acréscimos e supressões, reequilíbrio econômico-financeiro; aplicação de penalidades e rescisão contratual, estas últimas com a indispensável anuência da autoridade competente do órgão, concedendo sempre a quem se quer penalizar o direito à prévia defesa.

Ao fiscal de contratos é atribuído o acompanhamento permanente das ações no canteiro de obras. Responsável por apontar falhas e determinar correções e readequações; tirar dúvidas do preposto/representante da contratada para evitar atividades incorretas que possam gerar retrabalho com consequentes atrasos na evolução do cronograma; realizar medições; instruir os processos de aditamentos, penalizações e rescisão, subsidiando o gestor de contratos de elementos substanciais para a realização destes atos; elaborar relatórios periódicos e remetê- los ao gestor; preencher o diário ou livro de obras e atuar no recebimento provisório do objeto contratado.

A tomada de providências adequadas para o correto andamento de um processo punitivo requer o devido conhecimento relativo à legislação aplicável e os corretos encargos dos agentes da Administração Pública envolvidos neste ato, pois ações inapropriadas, que fujam do regulado em lei e ocasionem prejuízo à Administração, sujeitam os servidores implicados a responderem por suas práticas, inclusive com ressarcimento ao erário.

7CONCLUSÃO

Na aplicação de penalidades por atraso injustificado em uma obra pública, cabe ao fiscal de contratos a remessa, de maneira formal, das informações relativas a essa inconsistência contratual diretamente ao gestor de contratos, como também o apontamento das medidas tomadas no âmbito do campo de obra para saná-las. Já a tarefa do gestor de contratos (aquele agente ou setor devidamente autorizado), após ter recebido as informações das impropriedades apuradas pela fiscalização, é transformá-las em advertências direcionadas à empresa contratada cobrando medidas corretivas, e quando não atendidas, prosseguir com medida punitiva justa, aquelas legalmente previstas no edital e no contrato, comunicando oficialmente à empresa dessa decisão, garantindo o direito amplo a sua defesa.

Apercebe-seque fiscais e gestoresde contratos administrativostrabalhando de forma harmoniosae sabendo exatamente o que distintamente lhes competem na condução das atividades operacional e administrativa,serão capazes de constatar de forma mais precisa os casos de inadimplemento e irregularidades,e utilizar-se das ferramentas legais para inibir condutas lesivas às atividades contratuais, que na maioria das vezes geram prejuízos à economia com consequências negativas ao principal objetivo de um contrato administrativo: o pleno atendimento ao interesse público.

Por fim, recomenda-sequeórgãos, unidades ou entidades administrativas implantem setores dotados de estrutura suficiente, material e humana, devidamente capacitada, que tenham a finalidade específica de atribuição: a gestão de

contratos, o que facilitaria sobremaneira a gerência e fiscalização dos ajustes

celebrados entre terceiros e a Administração, gerando, consequentemente, benefícios importantes ao interesse precípuo dos contratos públicos.

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