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CAPITULO II – EDUCAÇÃO EM MUSEUS: UNINDO LINGUAGENS,

2.6 AÇÕES EDUCATIVAS E MUSEUS

A tese de Seibel-Machado, (2009) contribui para a compreensão dos estudos realizados sobre ações educativas desenvolvidas nos museus brasileiros, a pesquisadora realiza um levantamento analisando teses, dissertações e monografias produzidas no Brasil entre 1987 e 2006, nos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro.

Essa pesquisa contribui para uma reflexão sobre o papel do setor educativo nos museus de ciências, apresenta também uma pesquisa histórica sobre a evolução dos setores educativos e sobre as discussões das práticas educativas museológicas, realizadas em âmbito internacional e nacional.

Nas palavras de Seibel-Machado (2009, p. 32),

[...] a prática educativa nos museus é entendida como: (...) prática intencionalizada, portanto, não neutra, e como tal, responde a interesses, intencionalidades e objetivos que determinam o direcionamento político/filosófico e pedagógico das ações educativas nos museus. Considerando que os museus estão inseridos uma sociedade cindida por profundas desigualdades econômico/sociais, políticas e culturais, a identificação e explicitação dos referenciais que informam a sua prática educativa nos ajudam a compreender os interesses que eles priorizam nas ações educativas que oferecem ao público visitante.

Alguns museus desenvolvem ações, oferecendo cursos de formação, oficinas e serviços de visita prévia a professores; a intenção dessas ações é que o trabalho desenvolvido nos museus não seja apenas complementar ao conhecimento construído em sala de aula, mas sim se apresente como suporte na construção de um olhar crítico na atuação e ação social dos grupos envolvidos no processo ensino aprendizagem.

No pensamento de Seibel-Machado (2009), é preciso focar o estudo na questão pedagógica, nas práticas educativas e no papel que o setor educativo vem desempenhando nos museus, podendo permitir que seja colocada em discussão a importância e a pertinência de explicitar os pressupostos teóricos que orientam as práticas educativas e ampliam a visão do público visitante dessas instituições.

Afirma ainda o mesmo autor (2009) que os museus cumprem a função de manutenção da cultura e das relações sociais dominantes, mas que podem também contribuir para sua transformação, quando buscam possibilidades de construir propostas e situações educativas que favoreçam a construção de relações sociais voltadas para outro tipo de sociedade.

A literatura consultada proporcionou o reconhecimento de que ações educativas tornaram-se uma prática comum nos museus, sejam eles quais forem, com algumas exceções necessárias pela especificidade do museu.

Neste sentido, repensar os museus na perspectiva comunicacional – diálogo entre emissor e receptor – sugere a reformulação da maneira de conceber as exposições e alimentar a pesquisa museológica e enfatiza a necessidade de conscientizar os educadores e museólogos para uma mudança de postura quanto à educação em museus, impedindo que estes se transformem em estabelecimentos de ensino (MARQUES, 1999).

Observamos nas palavras de Vygotsky (2000a, p. 76) que “a internalização das atividades socialmente enraizadas e historicamente desenvolvidas constitui o aspecto característico da psicologia humana”.

Os objetos nos museus são fontes de informação e comunicação, não se tratando de simples coisas, mas sim de traços peculiares extraídos de uma determinada realidade com o objetivo de reconhecê-la e documentá-la, o que nos remete a Vygotsky (1988), que dedica especial atenção à formação de conceitos científicos; segundo ele, o domínio desses conceitos é tão determinante em transformações no homem, quanto o domínio da escrita e do desenvolvimento da capacidade comunicativa, que aqui será identificada com o termo

comunicação, que sugere a ideia do estabelecimento de um campo comum com outras pessoas, de divisão de informações, valores e sentimentos, ou seja, troca.

O estudo documental e a análise do acervo do museu revelam-se uma grande fonte de informações, uma vez que todos os documentos e artefatos são a expressão de sua época, marcos de descobertas e questionamentos científicos de diferentes pontos de vista, sendo possível um olhar investigativo e de análise, por conta dos diferentes objetos existentes, desde pintura, fotografias, registros escritos, aparelhos, indumentárias, coleções etnográficas, entre outros, um verdadeiro local do ato educativo que possibilita uma aprendizagem significativa.

O documento é resultado de uma montagem, consciente ou inconsciente, da história, da época, da sociedade que o produziu e também das épocas sucessivas durante as quais continuou a existir. O documento é monumento, resulta do esforço das sociedades históricas para impor ao futuro determinada imagem de si própria. O documento é produto da sociedade, que o fabricou segundo as relações de forças que nela detinham o poder (ABREU, 2010, p. 35).

A qualificação, para a transformação da realidade, passa pelas diversas possibilidades de leituras do mundo e do entendimento das forças de poder que o objeto histórico pode desencadear, de tal forma que o conhecimento faça parte de nossas vidas34, de nossa cultura, de nossa identidade, não sendo somente o conhecimento legitimado por outros grupos, mas sim faça parte de nossa rotina de trabalho, da nossa atuação dentro da coletividade, utilizando todos os dados, desde o mais simples, para entender o que a sociedade apresentou e construiu.

Trata-se de ficar atento aquilo que acontece de miúdo, de aparentemente secundário, na existência corrente da sociedade, è em, suas pequenas formas de manifestação, nos fenômenos que habitualmente escapam à atenção que, de certo modo, a sociedade trai a sua índole mais íntima (ADORNO, 2012, p. 26).

Entender a utilização e a forma de divulgação dos documentos e artefatos do museu se faz importante, pois, diante de nossa história, realizamos reflexões e nos percebemos como partícipes dela e de nossa sociedade.

34 Vida entendida como vida cotidiana, “é a vida do homem inteiro: ou seja, o homem participa na vida cotidiana com todos os aspectos de sua individualidade, de sua personalidade. Nela, colocam-se em funcionamento todos os seus sentidos, todas as suas capacidades intelectuais, suas habilidades manipulativas, seus sentimentos, paixões, idéias, ideologias”. Agnes Heller. O Cotidiano e a história. Editora Paz e Terra. Rio de Janeiro – RJ. p.17.

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