• Nenhum resultado encontrado

Ações Governamentais Estaduais voltadas para a Agroindustrialização Familiar Rural

SUSTENTABILIDADE PARA AGROINDÚSTRIAS FAMILIARES DA REGIÃO DE CAMPO MOURÃO (PR) CONSTRUCTO

2.4 POLÍTICAS PÚBLICAS E AÇÕES GOVERNAMENTAIS

2.4.2 Ações Governamentais Estaduais voltadas para a Agroindustrialização Familiar Rural

A década de 1990, pode ser considerada o marco do escopo de atuação dos mecanismos de intervenção governamentais, voltados ao meio rural, e mais precisamente para segmentos até então renegados pelas políticas agrícolas (agricultores familiares, pescadores, indígenas, quilombolas, ribeirinhos, extrativistas, etc.) e pela inserção, reconhecimento e legitimação de atividades diferenciadas no campo (agroindustrialização em escala familiar, turismo rural, artesanato, geração de energia, etc.) (WESZ Jr., 2010).

Esse aumento nos novos modelos de intervenção no meio rural brasileiro, bem como a ampliação no número dos empreendimentos rurais de beneficiamento da produção agropecuária, contribuiu para nascer, também nos estados, iniciativas governamentais de políticas e programas voltados exclusivamente para as propriedades rurais familiares, que, dentre outros, tem por objetivo o apoio ao próprio processo de agroindustrialização e/ou profissionalização do negócio.

Para Wesz Jr. (2012), essas políticas públicas para o processo de agroindustrialização, voltados à agricultura familiar, “têm uma importante contribuição às novas formas de intervenção no meio rural, pois atuam de modo diversificado ao aplicar diferentes instrumentos de apoio de forma multisetorial, não os restringindo a base agrícola”.

O autor realizou um estudo, no qual investigou os programas estaduais direcionados para as agroindústrias familiares rurais no Brasil, que estiveram em vigor entre 1995 e 2010. Em sua pesquisa, identificou oito programas presentes nos estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal (região Centro-Oeste), Minas Gerais e Rio de Janeiro (região Sudeste) e Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul (região Sul), que representam 72% dos Estados pertencentes à essas regiões. No entanto, o autor não encontrou nenhum programa nas regiões Norte e Nordeste do Brasil e, aponta como possíveis problemas “a falta de interesses políticos para desenvolver a agregação de valor, presença de outras prioridades de incentivo pelas políticas públicas, baixa mobilização das organizações sociais no apoio a esta atividade, insuficiência de recursos financeiros mobilizados pelos estados, entre outros”.

A tabela 1 apresenta os Programas Estaduais de Agroindustrialização, direcionados para a agricultura familiar brasileira, elencados por Wesz Jr. (2012), contendo o nome do programa, a sigla utilizada, o Estado ao qual o programa pertence e o ano de atuação, pois algumas políticas ficaram restritas a um determinado governo, o que provocou o encerramento do programa após a mudança da gestão. Tabela 1: Programas Estaduais de Agroindustrialização na Agricultura Familiar Brasileira

Nome do Programa Sigla Estado Ano de

Atuação 1 Programa de Verticalização da Pequena Produção Agrícola PROVE DF 1995-1998 2 Programa de Verticalização da Pequena Produção Agropecuária PROVE – PANTANAL MS 1999-2006

3 Programa Agroindústria Familiar da PAF RS 1999-2002

4 Programa de Desenvolvimento da Agricultura Familiar pela Verticalização da Produção DESENVOLVER SC 1998-2001 5 Programa da Agroindústria Familiar Fábrica do Agricultor FÁBRICA DO AGRICULTOR PR 1999-2013 6 Programa Social de Promoção de Emprego e Renda na Atividade Rural PROSPERAR RJ 2002-2010

7 Programa de Apoio à Agregação de Valor e

Desenvolvimento Rural PROVEMAIS MT 2003-2010

8 Programa de Desenvolvimento da Agroindústria Artesanal de Alimentos e do Artesanato Rural MINAS ARTESANAL MG 2006-2010 Fonte: Wesz Jr. (2012)

A implantação dos oito programas estaduais voltados para as agroindústrias familiares apresentaram um saldo positivo, pois beneficiaram aproximadamente 4 mil empreendimentos desta natureza (90% na região Sul do país). No entanto, a descontinuidade de alguns programas trouxe, para as famílias menos estruturadas, “a paralisação do empreendimento diante das dificuldades estruturais que envolvem a atividade, as quais não podem ser eliminadas sem ferramentas de médio e longo prazo” (WESZ Jr., 2012).

As características do público beneficiário dos oito programas estão descritas na tabela 2. Destaca-se que, apenas, os programas Prove/DF e Prove/Pantanal, tem como público-alvo, também, agricultores marginalizados e/ou sem nenhuma experiência no processamento dos produtos agropecuários.

Tabela 2: Síntese do Público Beneficiário dos Programas Estaduais de Agroindustrialização

Fonte: Wesz Jr. (2012)

Das políticas estaduais apresentadas pelo autor, 75% delas concentram seus esforços nos agricultores familiares organizados, capitalizados e com vivência na atividade de agroindustrialização. Wesz Jr. (2012) ressalta, ainda, que 1/3 dos programas passaram a incorporar, em suas políticas, “os estabelecimentos localizados no meio urbano, que operavam com mão-de-obra contratada, que não detinham matéria-prima

Grupos Programas Estaduais Características do Público Beneficiário dos Programas

1º grupo Prove/DF Prove/Pantanal (1999-2002)

 Agricultores mais

marginalizados, com baixa renda e reduzida escolaridade;

 Agroindústrias que operam, na grande maioria dos casos, de forma individual;

 Produtores com pouca ou nenhuma experiência na atividade; 2º grupo PAF/RS Fábrica do Agricultor/PR Desenvolver/SC Prosperar/RJ Prove/Pantanal (2003/2006) Minas Artesanal/MG  Agricultores familiares enquadrados nos critérios do Pronaf;

 Produtores capitalizados, com experiência na atividade e com infraestrutura prévia;

 Agricultores familiares que, na maioria das vezes, já estão organizados em grupos formais ou informais;

3º grupo Fábrica do Agricultor/PR Prosperar/RJ ProveMais/MT

 Agricultores familiares não são o público exclusivo dos programas;

 Compreendem-se

estabelecimentos localizados no meio urbano e que operam com mão-de-obra contratada;

 Agroindústria poderia comprar toda a matéria-prima utilizada.

própria e que possuíam uma renda bruta bem acima do que foi delimitado no Pronaf”.

A tabela 3 traz uma síntese das linhas de intervenção dos programas estaduais de agroindustrialização na agricultura familiar brasileira. Os instrumentos de ação disponibilizados pelos programas são o crédito (via PRONAF e em alguns programas linhas próprias); alteração de legislações e acompanhamento dos agricultores na obtenção de registros; capacitação (como cursos de boas práticas de fabricação, legislação, gestão, comercialização, dentre outros); tecnologia (adaptação de máquinas e equipamentos, financiadas pelo CNPQ); infraestrutura (para aqueles que estão iniciando na atividade); e mercados (comercialização do produto e acesso aos mercados, disponibilizando espaços de venda e criação de selo de identificação para os produtos apoiados).

Tabela 3: Síntese dos instrumentos de ação (linhas de intervenção) dos programas estaduais de agroindustrialização na agricultura familiar brasileira

Programas Estaduais Crédito (Pronaf) Crédito (linhas próprias) Legis- lações Capa- citaçãoTecnologia Infra- estrutu- ra Merca- dos Prove/DF X X X X X X X Prove - Pantanal/MS X X X X X X PAF/RS X X X X X Desenvolver/ SC X X X Fábrica do Agricultor/P R X X X X Prosperar/RJ X X X X X Minas Artesanal/MG X X X ProveMais/ MT X Fonte: WESZ Jr. (2012)

O padrão tradicional das políticas públicas voltadas para a agricultura familiar, baseado somente no financiamento da produção, caiu por terra, com o conjunto de ações e ferramentas utilizado pelos programas estaduais, apresentando uma importante inovação para esse segmento (WESZ Jr.,2012).

Para finalizar, o autor conclui que os oito programas estaduais de agroindustrialização familiar estudados e apresentados “desempenharam um papel importante no apoio às novas estratégias de reprodução dos agricultores no meio rural, embora sua cobertura tenha se centrado fundamentalmente em um público restrito”.

Nesse sentido, fica registrado que o desafio destas políticas está em buscar alternativas que procurem ampliar o raio de atuação para “estratos da população rural que atualmente se encontram à margem destes processos e destes instrumentos” (WESZ Jr.,2012).

2.4.3 Programa Fábrica do Agricultor (PFA) do Estado do Paraná