• Nenhum resultado encontrado

Em um contexto como o da referida escola municipal, exercitar o diálogo e a amizade, resolver problemas de maneira pacífica, valorizar as qualidades pessoais de cada um são ações que devem ser promovidas na tentativa de mediar os conflitos que se manifestam no local, compreendendo suas causas e criando espaços para que se possa discuti-las. Entendemos que a criação de relações sociais cada vez mais pautadas pela palavra auxilia na resolução de atos de violência, já que a maior parte destas situações dentro da escola parece decorrer da dificuldade de mediar conflitos ou da ausência de canais claros de expressão e escuta.

Em pesquisas realizadas com os sujeitos de uma comunidade escolar do Distrito Federal que vivenciam situações de violência, Abramovay; Cunha; Calaf (2009, p. 437) elencam uma série de ações que podem ser desenvolvidas pela escola,

- Criar oficinas de debates, sobre temas de interesse dos próprios alunos, que os estimulem a se pensar como um grupo digno de ter suas opiniões respeitadas e levadas em consideração;

- Criar atividade extraclasse, tais como passeios, filmes, danças, gincanas e eventos variados, porque proporcionam a vivência e o diálogo em g rupo, podendo transformar relações conflituosas em amistosas;

- Pro mover a interação entre os diversos grupos formados nas escolas, além de criar canais de diálogo entre estes e os alunos que não fazem parte deles, como festas, gincanas, brincadeiras em grupo;

-Fortalecer o sentimento de respeito ao outro nas escolas para que as violências sejam evitadas.

- Ro mper com a dinâmica silenciadora que muitas vezes acontece nas escolas (lei do silêncio).

Estas são algumas das medidas que podem ser trabalhadas diante das situações de violência, todas elas centradas em um investimento no uso da palavra para mediar relações entre os atores da escola. Embora Blaya (2002, p. 246) afirme que “a escola não seja capaz de resolver todos os problemas, nem compensar as desvantagens sociais”, a “introdução dos fatores organizacionais na própria escola” pode influenciar o clima escolar e a violência.

Esta ideia é compartilhada por Abramovay e Rua (2003, p. 28) ao se referirem à escola como uma instituição que “não tem mais apenas o papel de ensinar conteúdos acadêmicos, mas também de ensinar comportamentos e cidadania, colaborando na formação do caráter dos estudantes”. Deste modo:

Escolas (...) onde existe um clima de entendimento, valorização dos alunos e dos professores, diálogo, sentimento de pertencimento e poder de negociação entre os diferentes atores podem mudar situações críticas. Assim como cultivar os vínculos com a co munidade, abrir as escolas nos finais de semana, para atividades sociais, culturais e esportivas, e ainda contar com a participação ativa dos pais dos alunos pode tornar as escolas espaços mais seguros e novamente respeitados na sociedade (ABRAMOVA Y et al., 2002, p.85).

Abramovay e Rua (2003) destacam, ainda, a necessidade do apoio dos governos federal, estaduais e municipais e da sociedade civil para o desenvolvimento de políticas públicas direcionadas a questões que envolvem a violência nas escolas. No que se refere às escolas, o envolvimento de todo o corpo docente, alunos, pais, funcionários, mídia, polícia etc. é indispensável. Para as autoras, a escola precisa ter as seguintes características:

1. Lugar de encontro de diversidade cultural e habilitado para formas criativas de solidariedade.

2. Potencial estratégico para tecer relações com a comunidade, especialmente a família, tendo os pais como parceiros para tal fim.

3. Possibilidade de experimentar med idas de prevenção e de acompanhar tanto a população-foco como as experiências implementadas de políticas públicas.

4. Fo rmação de valores e transmissão de conhecimentos, o que tem prosseguimento nos processos de interação não somente entre professores e alunos, mas também entre os próprios estudantes (ABRAMOVA Y; RUA, 2003, p. 74).

Na escola municipal, alguns movimentos nessa direção já aconteceram. Reflexo de ações pedagógicas desenvolvidas pelos professores no ano letivo de 2013. A escola, atualmente, desenvolve o Projeto “Mais Educação”, o qual ocorre aos sábados com a oferta de oficinas de vôlei, de horta, de inglês e de banda marcial.

A proposta de implementação de projetos pedagógicos na escola foi uma das estratégias suscitadas pela instituição durante o período de 2014. A instituição, neste ano, incluiu em seu calendário escolar, atividades pedagógicas que no ano anterior não fizeram parte de seu planejamento anual.

Exemplo desse tipo de atividade foi a promoção de um baile de carnaval em fevereiro de 2014. Nele, os alunos desfilaram pela quadra da escola, cantando marchinhas de carnaval consagradas, ainda houve concurso de máscaras, de fantasias e gincana sobre o tema. Outro exemplo foi a atividade pedagógica sobre a páscoa, com apresentação de cartazes e performances das turmas, como dramatização, declamação de poemas, leitura de narrativas, canções e outros.

Tivemos ainda a culminância sobre a copa do mundo, em que houve a apresentação de danças e curiosidades sobre ícones que fazem parte do evento, além da apresentação do hino nacional. Estas atividades extras ocorreram ao longo do primeiro semestre e tiveram um “saldo positivo” no que diz respeito ao entusiasmo e envolvimento dos alunos e professores da escola.

As datas comemorativas e outros eventos tiveram como propósito a promoção de um ambiente em que os alunos, em suas pluralidades de expressões, pudessem ter momentos de integração, de criatividade e aprendizagem uns com os outros, bem como de apreciação de trabalhos em que todos tivessem sua parcela de contribuição. Percebemos, assim, que a escola tomou algumas medidas para proporcionar um lugar de encontro de diversidade cultural, de formação de valores e transmissão de conhecimentos entre os próprios alunos.

Por outro lado, entendemos que eventos como esses não podem ser pensados como única solução para os problemas encontrados no ambiente escolar, uma vez estas questões de conflito decorrem da falta de discussão sobre seus agentes causadores. Portanto, há que se pensar para além da promoção de ações pedagógicas como busca efetiva de solução para as dificuldades encontradas na escola. Logo, acreditamos que além do investimento em projetos e eventos “extraordinários”, existe a necessidade de se investir nas transformações das relações cotidianas da escola, ou seja, é preciso investir na revalorização da palavra como “moeda de troca”, dentro da própria sala de

aula, a qual também deveria estar articulada com essas ações mais coletivas da escola. Entendemos que o trabalho de sala de aula desenvolvido dentro dessa perspectiva favoreceria o diálogo e a troca de conhecimento entre os sujeitos da comunidade escolar na busca pela construção da aprendizagem.

2 O PROCESSO DE ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA NO ESPAÇO DE SALA DE

Documentos relacionados