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Ações tributárias: definição do conceito

2.3. As categorias fundamentais da Teoria Geral do Processo no contexto do

2.3.2. Direito de ação, ação e ações tributárias

2.3.2.2. Ações tributárias: definição do conceito

Os cortes analíticos perpetrados neste plexo normativo que materializa o “instituto da ação”, realizados no item anterior com o intuito de enumerar as várias acepções em que o termo é usado pelos textos jurídicos positivos, têm, no contexto deste trabalho, a

91 finalidade precípua de possibilitar a identificação do sentido adequado do termo nas circunstâncias em que este estiver qualificado pelo adjetivo “tributária”. A pergunta a ser posta neste momento é: em que sentido (dentre aqueles propostos) é possível falarmos em ações tributárias?

Há, conforme mencionamos anteriormente, sentidos do termo “ação” que referem normas jurídicas processuais cuja eficácia independe de qualquer conteúdo jurídico- material. Assim, a ação, enquanto direito de provocação (ação-petição) ou, até mesmo, direito à resposta do Órgão jurisdicional (ação-resposta), prescinde de qualquer juízo relativo ao direito material controvertido para que seja efetivamente exercida. Dessa maneira, qualquer vinculação do termo “ação” a uma adjetivação jurídico-material será inadequada, não havendo que se falar, portanto, em tipificação dos direitos constitucionais de petição e à prestação jurisdicional, já que para propor ação (exercitar o direito de ação- petição) e obter uma resposta do órgão jurisdicional (exercício do dever de prestação jurisdicional), não é preciso que o direito material dito violado seja efetivamente apreciado.

O mesmo não pode ser afirmado, no entanto, sobre os atos concretos por meio dos quais o direito constitucional de ação é exercido, atos estes que, conforme anotamos, têm sua disciplina veiculada nos diplomas normativos infraconstitucionais, especialmente no regime geral de direito processual do Código de Processo Civil.

Nessa medida, a ação-demanda, na condição ato de concretização do direito de ação-petição, tem, por definição legal (art. 301, § 2º, do Código de Processo Civil), vínculo direto com a relação jurídica de direito material controvertida, pois é ela a responsável pela constituição da lide tributária.

Com relação aos atos de concretização do direito de ação-resposta (ação-prestação jurisdicional), a mera manifestação do órgão jurisdicional pode dar azo, mesmo que superficialmente (art. 267, VI e V, do Código de Processo Civil – ausência das condições da ação, litispendência ou coisa julgada), a juízos relativos ao direito material afirmado, muito embora seja possível, também, a prolação de sentença extintiva que não traga em seus fundamentos qualquer referência às questões de mérito (art. 267, I, II, III, IV, VII, VIII e X, do Código de Processo Civil).

92 No que diz respeito aos atos que materializam a chamada ação-tutela (art. 352, I e II, do Código de Processo Civil), concretizados nas circunstâncias em que a pretensão deduzida é efetivamente concedida (procedência do pedido), parece-nos intuitiva a constatação de que o acolhimento do pedido formulado pressupõe o conhecimento das questões de mérito discutidas no processo, de sorte que, nesta acepção, ação e direito material estão necessariamente vinculados.

Nesse contexto, cremos que a acepção do termo “ação” que deve ser adotada na interpretação da expressão “ação tributária” é aquela que refere o ato concreto por meio do qual o contribuinte exerce seu direito constitucional de ação-petição, que se confunde, aliás, com a noção de demanda (ação-demanda). A opção se dá, em primeiro lugar, em razão de os conceitos relativos às duas outras acepções (ação-resposta e ação-tutela) guardarem similaridade com a noção de “tutela jurisdicional”, expressão esta que, em tempos atuais, vem sendo utilizada com maior frequência pelos textos jurídicos positivos e doutrinários para designar o ato concreto final do processo, por meio do qual a autoridade jurisdicional cumpre com seu dever funcional e põe fim ao conflito deduzido.

Por se referir à forma de concretização de um direito subjetivo absoluto, que regula diretamente a conduta do agente provocador (poder-faculdade de dirigir-se ao órgão judicial), a ação-demanda traduz, com maior precisão, algo que realmente se encontra sob total disponibilidade do cidadão, isso para não falar no fato de ser essa a acepção do termo mais usada na práxis jurídica.

Além disso, é o ato de provocação (ação-demanda) que, por expressa determinação legal (art. 2º do Código de Processo Civil), tem o condão de desencadear a atividade jurisdicional (princípio do dispositivo), não havendo que se falar, por esse motivo, em prestação jurisdicional sem que seja verificada a demanda concretamente deduzida pelo titular do direito constitucional de ação-petição.

Note-se que é somente por meio da análise do conteúdo da ação-demanda, isto é, de seus elementos identificadores – para usarmos a linguagem do legislador processual (partes, causa de pedir e pedido – art. 301, § 2º, do Código de Processo Civil) –, que se tem acesso ao próprio direito material controvertido, não sendo incorreto afirmar que o fato jurídico conflituoso se confunde com o próprio conteúdo da demanda. Daí, também, a conveniência

93 de adotarmos esta acepção como a mais adequada à interpretação da expressão “ação tributária”.

Pensamos ser conveniente, neste instante, até para que não haja dúvidas sobre o que realmente pretendemos expressar, fazer uma breve elucidação de índole teórico-geral. Quando falamos em ato de provocação – ação-demanda –, pretendemos referir o ato-norma (enunciado-enunciado) veiculado no ato-fato (enunciação-enunciada) designado por petição inicial (veículo introdutor da ação-demanda). Os elementos da ação perfazem, portanto, o conteúdo (sentido) dos enunciados constantes de um específico veículo normativo, qual seja: a petição inicial.

Posto isso, parece-nos ser possível definir “ação tributária” como o ato-norma constitutivo do fato jurídico tributário conflituoso (antecedente), que impõe à autoridade jurisdicional o dever jurídico (obrigação) de desencadear os subsequentes atos jurisdicionais que darão azo à produção do ato final responsável pela composição da lide tributária, constituída e delimitada pelo autor no ato inicial de provocação.

Sob esta óptica, ter-se-á ação tributária quando um dos sujeitos de uma dada relação jurídica tributária se dirigir ao Judiciário (parte ativa – autor) para afirmar uma situação conflituosa (causa de pedir) e deduzir a pretensão (pedido) que entender adequada para suplantar os efeitos do ato violador perpetrado pelo outro sujeito da relação jurídico- tributária (parte passiva – réu).