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AÇÕES VOLTADAS A INCLUSÃO PRODUTIVA: O MERCADO DE TRABALHO NA MIRA DAS PARCERIAS

4 DESDOBRAMENTOS DAS POLÍTICAS DE INCLUSÃO NO PRESENTE E A ÊNFASE NA PRODUTIVIDADE NA ÓRBITA DO NEOLIBERALISMO

5 A OPERACIONALIZAÇÃO DA ARTICULAÇÃO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA COM A INCLUSÃO E O INVESTIMENTO

5.2 AÇÕES VOLTADAS A INCLUSÃO PRODUTIVA: O MERCADO DE TRABALHO NA MIRA DAS PARCERIAS

Ao pensar sobre as ações resultantes de programas voltados à inclusão produtiva das pessoas com deficiência na Contemporaneidade, meu olhar está endereçado à análise da inclusão enquanto um imperativo de Estado que ao mobilizar a todos está inscrita numa racionalidade política neoliberal. A partir desse entendimento, que perpassou todo o estudo ora apresentado, entendo que o investimento no governamento das condutas da população com deficiência promove a concorrência, a competição, a produtividade.

Ao considerar que as relações na atualidade são marcadas por processos de in/exclusão, em que a todo o momento qualquer um de nós

encontra-se sob a ameaça de ―[...] estar incluído ou ser excluído de determinadas práticas, ações, espaços e políticas‖ (LOPES; FABRIS, 2013, p. 75), tornou-se interessante pensar a respeito de como vão se dando outros investimentos na inclusão produtiva das pessoas com deficiência, com foco no mercado de trabalho. Tais investimentos, mobilizados pela articulação da educação profissional e tecnológica com a inclusão, colocam em operação ações que dizem respeito ao estabelecimento de parcerias.

O termo parcerias é utilizado para pensar a respeito das ações colocadas em funcionamento no âmbito de programas educacionais e assistenciais que conjugam de um objetivo comum – a inclusão produtiva das pessoas com deficiência. O uso da palavra parceria inspira-se no estudo de Dal‘Igna (2011) voltado à análise das relações entre família e escola, considerando o deslocamento da aliança para a parceria na Contemporaneidade. Para a autora, família e escola são posicionadas como parceiras no gerenciamento dos riscos sociais.

Para maximizar o governamento dos sujeitos a um custo político e econômico mínimo, o que importa é investir na parceria, fazendo com que cada um assuma responsabilidades e conduza suas ações para promover mudanças sociais (DAL‘IGNA, 2011, p. 115).

Questão que entendo estar implicada com a rede de parcerias que analiso, cuja intencionalidade volta-se ao desenvolvimento da produtividade dos sujeitos com deficiência na racionalidade neoliberal, procurando maximizar as condições para que mudanças sejam realizadas em suas vidas e, consequentemente, na sociedade a partir da inclusão de todos nas redes de mercado.

Lopes (2009) ao empreender a análise do neoliberalismo como forma de vida tratará de duas grandes regras instituídas para a entrada e permanência no jogo econômico neoliberal, já citadas em outro momento da tese, sendo elas a de manter-se em atividade e a de que todos precisam estar incluídos em diferentes níveis de participação. Nesse momento, por mostrarem-se produtivas para essa discussão, voltarei minha atenção para essas regras, e para as principais condições de participação elencadas pela autora: de que todos precisam ser educados para entrar no jogo; da permanência no jogo; e do desejo de permanecer no jogo.

Na sociedade regida pelo neoliberalismo a educação precisa ser permanente e não se restringe à educação escolarizada, a educação é pensada enquanto mobilização dos indivíduos, portanto está além da institucionalização pedagógica (LOPES, 2009). É preciso, como primeira condição, que possamos desenvolver, cada um de nós, o necessário para dar conta individualmente da inclusão e permanência em redes produtivas.

Na segunda condição, direcionada à permanência no jogo, Lopes (2009) considera que o Estado age de maneira específica sobre parcelas da população. Por meio de políticas de inclusão (escolares, sociais, assistenciais, de trabalho), o Estado investe no governamento das condutas dos sujeitos buscando a segurança da população. E, a última condição para a participação, é de que haja o desejo de permanecer no jogo, portanto

[...] as ações do Estado, quando este opera em consonância com uma lógica de mercado, devem ser desencadeadas para que mesmo aqueles que não possuem formas de gerar seu próprio sustento consigam recursos para girar, mínima e localmente, uma rede de consumo (LOPES, 2009, p. 156).

As regras e condições descritas pela autora permitem-me pensar que as ações que têm sido empreendidas pelo Estado na busca pelo estabelecimento de parcerias no âmbito das políticas de inclusão, assistenciais e de educação tornam possíveis um tipo de governamento das condutas da população com deficiência para que haja o investimento em sua participação produtiva na sociedade. Mesmo que essa participação seja mínima, o importante é que sejam criadas as possibilidades de mobilidade e fluxo dos sujeitos nas tramas sociais e econômicas. E é essa mobilidade e fluxo dos sujeitos com deficiência que venho entendo como inclusão produtiva.

Mas, de que maneira é possível dar ―mais uma volta no parafuso‖ da inclusão produtiva, com o estabelecimento de uma rede de parcerias que toma como mira de suas ações a inserção no mercado de trabalho?

No que diz respeito às pessoas com deficiência, foi possível compreender a partir da análise de dados estatísticos (capítulo 4) que boa parte dessa parcela da população encontra entraves para o desenvolvimento de sua produtividade e participação competitiva na sociedade, tendo em vista serem produzidos como sujeitos que necessitam do investimento do

Estado devido às condições de pobreza, baixa escolarização e inserção precária no mercado de trabalho, estando esses fenômenos relacionados à produtividade dos sujeitos. Para dar conta desses sujeitos, cujas situações são uma ameaça à inclusão no jogo econômico neoliberal, o Estado tem buscado provê-los de políticas sociais, educacionais, de inclusão, assistência e trabalho, buscando a otimização de suas vidas (LOPES, 2009).

Nessa lógica, a população com deficiência é beneficiada pelo Estado por políticas sociais, principalmente de assistência social, que acabam destinando incentivos específicos para que as mínimas condições de vida sejam garantidas a esses sujeitos. Dentre eles encontra-se o Benefício de Prestação Continuada – BPC, que garante o recebimento de um salário- mínimo mensal à pessoa com deficiência e ao idoso com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais, que comprovem não ter condições de prover a própria manutenção e nem por sua família (BRASIL, 2011e).

Esse benefício contribui para criar as condições de consumo para parcelas da população que de alguma forma se encontram sob a ameaça da exclusão dos jogos de mercado, contudo concordo com Lopes (2009) de que é preciso que o Estado lance mão de determinadas estratégias para buscar que os sujeitos se desloquem de uma condição de assistidos para uma posição ativa em favor do mercado. E, entendo que tais estratégias, dentre elas as educacionais citadas pela autora, resultam dos desdobramentos das políticas de inclusão na atualidade, que têm possibilitado a articulação da educação com a assistência social.

Localizo como um desses desdobramentos a criação do Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência: Viver Sem Limite, lançado em 2011. O Plano estabelece propostas de ação voltadas ao acesso à educação, a atenção à saúde, a inclusão social e a acessibilidade, que objetivam contribuir para a inclusão produtiva das pessoas com deficiência (BRASIL, 2011d). Estando definidas entre as diretrizes do Plano Viver Sem Limite, a ―ampliação da participação das pessoas com deficiência no mercado de trabalho, mediante sua capacitação e qualificação profissional‖ (BRASIL, 2011d, Art. 3º, inciso III).

Com a intenção de entender de que maneira a inclusão produtiva da população com deficiência é promovida pelo que considero ser uma rede de

parcerias, proponho analisar as possibilidades criadas por duas frentes do Plano Viver sem Limite: acesso à educação e inclusão social, por compreender que as ações propostas nesses dois eixos estão atreladas aos movimentos da articulação entre a educação profissional e tecnológica com a inclusão.

No que diz respeito à educação profissional e tecnológica, o Plano indica a prioridade da matrícula de pessoas com deficiência nos cursos do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego – Pronatec. Para tanto, está previsto que, ―Todas as vagas do Pronatec poderão ser acessadas por pessoas com deficiência, independentemente do ofertante, do curso e do tipo de deficiência, com atendimento preferencial na ocupação das vagas‖ (BRASIL, 2013a, p. 22).

O Pronatec, instituído pela Lei nº 12.513, de 26 de outubro de 2011, tem como finalidade “[...] ampliar a oferta de educação profissional e tecnológica, por meio de programas, projetos e ações de assistência técnica e financeira‖ (BRASIL, 2011b, Art. 1º). Tendo em vista o atendimento prioritário de parcelas da população, entre elas os beneficiários dos programas federais de transferência de renda, o Pronatec prevê atenção às pessoas com deficiência:

Será estimulada a participação das pessoas com deficiência nas ações de educação profissional e tecnológica desenvolvidas no âmbito do Pronatec, observadas as condições de acessibilidade e participação plena no ambiente educacional, tais como adequação de equipamentos, de materiais pedagógicos, de currículos e de estrutura física.

(BRASIL, 2011b, Art. 2º, parágrafo 2º).

Com a oferta da Bolsa-Formação, no âmbito do Pronatec, regida pela Portaria nº 817, de 13 de agosto de 2015, além da possibilidade de acesso às vagas em cursos de educação profissional e tecnológica, às pessoas com deficiência fica garantida a preferência em cursos ofertados por meio da Bolsa-Formação, sendo essa destinada ao custeio de todas as despesas referentes aos cursos oferecidos em instituições públicas ou nos Serviços