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4 CONSERVAÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS

4.2.1 Açaí

O açaizeiro (Euterpe olerácea) é um recurso típico da região amazônica brasileira, com predominância no Estado do Pará. Este recurso é aproveitado como produtor de frutos para a fabricação de vinho de açaí e fornecedor de matéria-prima para as indústrias de palmito. Com o aumento considerável da população nas cidades, houve, também, o crescimento do

consumo do vinho de açaí, permitindo aos ribeirinhos, que até então somente consumiam o recurso, passaram a produzir para a comercialização do produo.

Apesar de ter uso integral, seus frutos do açai destacam-se como a parte mais importante economicamente, sendo utilizados pela população amazônica, desde a época pré-colombiana, para a obtenção da bebida denominada de açaí (OLIVEIRA, 2002). No PAE Ilha do Mutum esse fruto torna-se comercializável a partir do momento em que os assentados são orientados por meio de formação produtiva, a manejar o açaizeiro. Isso porque, antes o que se extraia era somente o que brotava de forma natural, quase sem nenhuma interferência intencional humana.

O Assentado B (2016), afirma que hoje tem sua própria plantação de açaí e que no momento (ano 2016), está na fase de manejo, diferente de muitas famílias que iniciaram a cultura do açaí bem anterior a ele e que já estão vendendo suas produções. Como estão em um assentamento, os produtores estão com seus açaizais produzindo, e os que sabem fazer o manejo, ajudam o que não sabem. No assentamento, a produção fica em torno de 12 a 20 rasas por semana, no período de safra que vai de agosto a dezembro, período conhecido como verão, ou seja, é o período que mais dá o açaí (ASSENTADO D, 2016).

As tipologias cultivadas de açaizeiros são conhecidas popularmente como: açaí-branco, açaí-roxo ou comum, açaí-açu, açaí chumbinho, açaí-espada, açaí-tinga e açaí-sangue-de-boi. Essas variedades, na maioria das vezes, se diferenciam pela coloração dos frutos, quando maduros, pelo número de perfilhos na touceira, pelo tamanho e peso dos cachos e de frutos, pela ramificação do cacho ou pela coloração e consistência da bebida, mas ainda necessitam ser caracterizadas e avaliadas morfológica e agronomicamente (OLIVEIRA, 2002).

Na ilha até tem açaí branco, mas é pouco. O que se produz mesmo é o roxo. (ASSENTADO C, 2016). A produção do açaí do PAE Ilha do Mutum é vendido em grãos e comercializado diretamente para os batedores que fazem o vinho e para as geleiras - os atravessadores - de Abaetetuba, Macapá, que vem comprar na casa na ilha, conforme afirma o Assentado A (2016). Esse processo de compra do produto nas casas pelos atravessadores,

Imagem 1: Cachos de açaizeiro dos tipos: a) branco, b) espada e c) roxo.

acontece no período da safra do açaí, que é quando o preço do fruto é sempre mais baixo, devido a lógica da oferta e da procura. Para Corrêa (2016), os preços pagos aos produtores são tabelados pelo exportador com quem o atravessador negocia. Como a oferta de açaí é abundante durante a safra, o preço cai muito, o que tem apresentado um mercado oligopsônico, onde poucas empresas centralizam a compra para a exportação, além do mais a intermediação entre os produtores e as agroindústrias é feita através de muitos atravessadores. No entanto, poucos são aqueles que possuem o contato direto com a agroindústria processadora do fruto.

Segundo o Assentado D (2016), existem dois pontos estratégicos para a comercialização do açaí. Um deles fica próximo à saída da ilha do Mutum e outro está localizado no rio Furo do Abacate próximo a saída da ilha. Nesses locais ficam grandes embarcações que fazem a compra da produção e levam para as fábricas de beneficiamento. Mas se o produtor não quiser se deslocar até esses pontos de compra e venda, ele entrega o produto ao atravessador que passa de casa em casa e leva até as embarcações, ganhando um real por cada rasa comercializada.

Essa relação comercial entre famílias e atravessadores, por um lado faz com que os produtores não se desloquem até cidade para vender seus produtos, mas, ao mesmo tempo, acabam se tornando reféns dos atravessadores que não produzem e geram lucros, quase sempre, até mais do que aqueles que trabalham por anos para produzir determinados produtos. Para o Assentado B (2016), “isso acontece, porque aqui cada assentado vende sua produção. Não existe uma cooperativa e nenhum movimento de moradores até agora para que vendam em conjunto o que se produz”. Vasconcellos Sobrinho e Rodrigues (2016), discutem numa outra realidade sobre governança social do espaço, mas cabe neste contexto quando mostram a necessidade de construção de uma governança social do espaço de onde vem o empreendimento, do contrário o agente que está mais próximo do mercado na cadeia de produção, sempre terá mais lucros, ou seja, os contextos são distintos, mas há convergência pois o que se tem na ilha em discussão, são pessoas tentando manter-se no mercado, mas sem nenhum processo de organização formal.

No PAE Ilha do Mutum o estudo não registrou informações da existência de cooperativa, mas na narrativa do Assentado D, verificou-se a vontade de que os produtores se reunissem para vender a produção do açaí em Breves, pois assim, segundo ele, evitariam que os atravessadores ficassem com parte do lucro da venda que deveria vir a quem produz.

Para esse mesmo assentado, “se o grupo de produtores tivesse embarcação e combustível e juntassem a produção, que fica em torno de duzentas rasas de açaí a gente

poderia vender em Breves. Ao mesmo tempo, geraria mais lucros, a união entre produtores fortalecia-se e poderia ser o início de uma possível cooperativa” (ASSENTADO B, 2016).

Muito embora com as novas técnicas para a produção e expansão do açaí no PAE Ilha do Mutum, ainda não há dados que mostrem relativamente a expansão, ao contrário, os assentados afirma que a produção tem gerado poucos benefícios econômicos, isto pode estar ligado a lógica de uma tradição constituída na Amazônia, que o favorecido sempre foi o patrão ou os atravessadores.

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