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2.6 Coleta e análise dos dados

2.6.3 A 3ª etapa – tratamento e interpretação dos resultados

Os resultados brutos são submetidos a operações estatísticas simples (porcentagens) ou complexas (análise fatorial) que permitem colocar em relevo as informações obtidas.

O pesquisador propõe inferências e realiza interpretações, inter-relacionando- as com o quadro teórico desenhado inicialmente, ou abre outras pistas em torno de novas dimensões teóricas e interpretativas sugeridas pela leitura do material.

Em síntese, é uma técnica confiável pelas ciências humanas e sociais, pois facilita a interpretação e análise dos dados coletados.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

No processo da fala e da escuta a disciplina do silêncio a ser assumida com rigor e a seu tempo pelos sujeitos que falam e escutam é um “sine Qua” da comunicação dialógica. O primeiro sinal de que o sujeito que fala sabe escutar é a demonstração de sua capacidade de controlar não só a necessidade de dizer a sua palavra que, é um direito, mas também o gosto pessoal, profundamente respeitável, de expressá-la. Quem tem o que dizer tem igualmente direito e deve dizê-lo. É preciso, porém, que quem tem o que dizer saiba, sem sombra de dúvida, não ser o único ou a única a ter o que dizer (FREIRE, 1996, p.116).

Alguns teóricos confirmam positivamente às vantagens da técnica de filmagens das dramatizações dos encontros clínicos para o ensino das habilidades de comunicação (Humphris, Kaney, 2000; Júnior et al. 2014; Maguire et al., 1986). Por outro lado, outros autores indicam desvantagens a respeito desta prática durante o processo de ensino-aprendizado, devido ao medo de crítica dos alunos frente ao julgamento e exposição perante a turma (Nielsen e Baerheim, 2005).

Neste contexto, as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação de Medicina (2001, p.02) reforçam a necessidade de incorporar ao currículo médico estratégias pedagógicas, que estimulem os estudantes práticas humanísticas do atendimento clínico, ou seja, que facilitem o desenvolvimento de suas habilidades e competências, por meio da articulação entre teoria-prática:

[...] os profissionais devem ser capazes de aprender continuamente, tanto na sua formação, quanto na sua prática. Desta forma, os profissionais de saúde devem aprender a aprender e ter responsabilidade e compromisso com a sua educação e o treinamento/estágios das futuras gerações de profissionais, mas proporcionando condições para que haja benefício mútuo entre os futuros profissionais e os profissionais dos serviços, inclusive, estimulando e desenvolvendo a mobilidade acadêmico/profissional, a formação e a cooperação por meio de redes nacionais e internacionais.

Promover um processo facilitador de ensino-aprendizagem que se desenvolva mediante a articulação entre academia e o contato com a comunidade é um dos principais objetivos da grade curricular; a fim de aproximar os estudantes de medicina da vida cotidiana das pessoas, propiciando desta forma, um olhar crítico voltado para a reflexão da situação de saúde da população e dos serviços de saúde (Bascunan, 2005; Grosseman, 2001; Grosseman, Patrício, 2004).

As atividades práticas durante a graduação médica tendem a favorecer aos estudantes a adesão de novos conhecimentos, como também propiciar maior

autonomia frente às tomadas de decisões por meio das discussões de casos clínicos (Sisson, 2009; Waitzkin, 1984).

Isto exige um grande esforço aos educadores que desejam pautar as suas metodologias no conceito de interdisciplinaridade, na qual o professor é um mediador do conhecimento e não o dono do saber, valorizando o contexto histórico, e principalmente enfatizando as competências e habilidades de cada aluno em sua individualidade, respeitando a diversidade (Tonhom et al. 2014; Machado et al. 2012; Furnanetto et al., 2002).

A interdisciplinaridade, a meu ver, surge como esse conhecimento que se produz nas regiões em que as fronteiras se encontram e criam espaços de interseção, onde o eu e o outro, sem abrir mão de suas características e de sua diversidade, abrem-se disponíveis à troca e à transformação. Qualquer prática interdisciplinar acontece a partir dessa postura de expansão de campos e de abertura de fronteiras. É necessário enfatizar, no entanto, que a interdisciplinaridade não implica somente criar espaços de encontros e de interseções entre as áreas do conhecimento, mas constitui uma postura interdisciplinar que permite esse movimento de aproximação e transformação que vai além das disciplinas (FURNANETTO, 1998, p.38).

A ideia de interdisciplinaridade visa integrar os conhecimentos de diversas áreas de atuação (disciplinas), buscando facilitar o processo prático de ensino- aprendizagem dos discentes de forma crítica e reflexiva.

“Reformular a programação curricular” para que possa favorecer a integração aluno-comunidade, com uma “capacitação geral”, surge decorrente da nova visão do sistema de saúde, alicerçada na interdisciplinaridade, no qual o médico é um profissional que convive com novos colegas da área da saúde, devendo respeitá-los, admitindo limites do conhecimento e atuação que no passado estavam centrados na sua autoridade absoluta. Para que houvesse “a recuperação da prática do contato professor-aluno-doente”, associado ao trabalho de comunidade (JOSÉ CARLOS SEBE BOM MEIHY apud GALLIAN et al., 2009, p.138).

Procurar elaborar uma disciplina que possa contemplar esta complexidade onde se insere a conceituação de interdisciplinaridade como modelo de assistência a saúde, associada a uma dinâmica que permita ao aluno expor suas percepções, sentimentos e opiniões dentro de um ambiente acadêmico de sala de aula, é uma proposta desafiadora e de risco. A escolha por uma metodologia e didática adequadas para cumprir estes objetivos podem colidir com modelos já apresentados aos alunos por outras disciplinas, baseados em conceitos e práticas totalmente diferentes. O respeito à convivência com a diversidade do perfil dos alunos e

professores pode criar adversidades que, ao invés de favorecer o aprendizado, conduzam-no para a angústia de perguntas sem respostas previamente estabelecidas no seu conteúdo programático.

A pesquisa realizada procurou abarcar esta condição onde uma disciplina, denominada Laboratório de Comunicação, se lançou a este desafio com o envolvimento de seus docentes, utilizando uma metodologia própria aplicada aos estudantes do 2º ano de Medicina.

Os resultados apresentados são decorrentes da análise a partir da observação participante, do caderno de campo e das entrevistas semiestruturas aplicadas aos estudantes. O estudo do conjunto deste material permitiu ao pesquisador verificar diferentes aspectos que foram agrupados em categorias; não previamente estabelecidas pelo pesquisador. Para melhor compreensão as categorias foram subdivididas, de acordo com o conteúdo encontrado nas falas dos participantes.

Desta maneira, serão apresentadas as linhas que emergiram da pesquisa, elencadas em quatro categorias temáticas e dezesseis subcategorias com base nas vinte e oito entrevistas individuais realizadas com os alunos do 2º ano de Medicina da UNIFESP.

Foram selecionadas as categorias de análise segundo Bardin (2011), na medida em que se repetiram os temas com maior frequência, sintetizados para maior compreensão dos objetivos propostos neste trabalho de cunho qualitativo.

Fonte: Bardin (2011).

Figura 1. Plano de análise

3.1 A percepção dos alunos sobre a dinâmica do laboratório de