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Os estudos no domínio da Didática dos conhecimentos científicos demonstram que, apesar de se ter feito grandes avanços na compreensão dos processos de aquisição de conhecimentos, com especial progresso nos campos da aprendizagem da língua materna e da matemática, diversos problemas persistem no ensino-aprendizagem de várias disciplinas escolares. No caso de Ciências Naturais, persiste, ainda hoje, um ensino muito centrado em atividades que exigem dos alunos não mais que a memorização, a repetição de definições relativas a conceitos científicos e a aplicação de fórmulas à solução de pretensos problemas.

Ao basear-se na repetição de modelos que se expõem ao aluno, tal estilo de ensino deixa de dotar o aprendiz de um conhecimento que mantenha vínculos com a sua experiência social e cotidiana, o que concorre para torná-lo destituído de significado. Desse modo, apesar de um grande número de estudos, já há algumas décadas, indicarem que a aprendizagem deva tomar vias distintas da simples memorização, estamos longe ainda de ver um ensino de Ciências Naturais que se baseie em atividades mais compreensivas dos fatos e conceitos. Estamos longe ainda de superar os problemas que aponta Nélio Bizo (1998, p.13) em sua análise sobre o ensino da área:

A democratização do ensino de ciências, objetivo declarado de muitos governos e autoridades, aguarda ainda soluções de diversos problemas nas relações ensino-aprendizagem, uma vez que é forçoso admitir que o resultado educacional não tem sido muito promissores. [...] estudos têm demonstrado que os estudantes não atingem os objetivos planejados.

Longe estamos ainda do que propugnam os Parâmetros Curriculares Nacionais da área, que expressam os seus objetivos nos termos a seguir:

[...] não é possível pensar na formação de um cidadão crítico à margem do saber científico. Mostrar a Ciência como um conhecimento que colabora para a compreensão do mundo e suas transformações, para reconhecer o

homem como parte do universo e como indivíduo, é a meta que se propõe para o ensino da área na escola fundamental. A apropriação dos seus conceitos e procedimentos pode contribuir para o questionamento do que se vê e ouve, para a ampliação das explicações acerca dos fenômenos da natureza, para a compreensão dos recursos tecnológicos que realizam essas mediações, para a reflexão sobre as questões éticas implícitas nas relações entre ciência, Sociedade e Tecnologia. (BRASIL-MEC/SEF, 1997,p.23).

Frente a essas questões, colocamos a pergunta de como poderíamos tornar significativo o ensino-aprendizagem dessa área? Tem a escola proposto experiências pedagógicas em Ciências Naturais em que se garanta a vinculação entre os conteúdos de ensino e as experiências sociais anteriores e cotidianas do aluno? Como têm sido tratados os conhecimentos prévios dos alunos em situação de ensino-aprendizagem de conhecimentos científicos da área em questão?

A despeito de um quadro pouco encorajador, novas abordagens e metodologias, tal como a chamada ―Pedagogia de Projetos‖, têm proposto a organização dos conteúdos escolares baseada em projetos de trabalho, apresentando-se comoum importante aliado na busca de sentido e significação exigidos pelas novas tendências pedagógicas.

Essa abordagem consiste em deslocar os conteúdos formais da escola para grandes blocos temáticos que não estão à priori predeterminados por um currículo, como defendem Hernandez e Ventura (1998)

um projeto pode organizar-se seguindo um determinado eixo: a definição de um conceito, um problema geral ou particular, um conjunto de perguntas inter-relacionadas, uma temática que valha a pena ser tratada por si mesma [...]

O tratamento desse eixo exige, por parte do professor, a articulação de informações necessárias a sua explicitação, originadas de diversas disciplinas e o domínio, por parte dos alunos, de procedimentos que possibilitem o seu desenvolvimento.

O ensino por projetos de trabalho define-se como uma alternativa de organização do conhecimento de forma relacional e integrada. Ele é, de um lado, uma estratégia, de caráter interdisciplinar, de organização dos conteúdos escolares e, por outro lado, uma maneira de se facilitar aos alunos a construção de seus conhecimentos, pela transformação “da informação procedente dos diferentes saberes disciplinares em conhecimento próprio.‖

É sabido que algumas escolas, em diversas regiões do país, têm realizado experiências baseadas em tal ideia pedagógica. Assinala-se como expressão da importância que tem sido dada a essa ideia, a realização, em Recife, do Encontro Norte-Nordeste de Educação, em 1998, para troca, entre escolas de diversos estados da região, de experiências curriculares que se organizaram em torno de projetos de trabalho e, dois anos depois, do I Seminário Pedagógico Internacional, reunido sob a temática ―Reorganização Curricular por Projetos de Trabalho‖, que contou com a presença dos pesquisadores espanhóis Fernando Hernández e Juana Sancho.

Sabe-se ainda que algumas dessas experiências referidas têm sido feitas envolvendo temas que se situam na área de Ciências Naturais. Esse dado nos leva a colocar com questão: experiências didáticas inovadoras, a exemplo do emprego de projetos de trabalho, como entendem Hernández e Ventura (1998) têm sido levados a cabo por escolas no ensino de conteúdos da área de Ciências Naturais, como se tem relatado? Que resultados estão sendo colhidos? Como se comporta o professor e aluno que experimentam tal estratégia pedagógica? A adoção dessa metodologia tem representado a ressignificação do ensino de conteúdos conceituais na área de Ciências Naturais?