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A abertura do Ensino Superior a alunos com mais de 23 anos

trabalhadoras, bem como a quase toda a população feminina. A partir dos anos 70, as universidades começaram a abrir-se a alunos oriundos de classes sociais mais desfavorecidas e às mulheres. Com a massificação do ensino ao longo destas últimas décadas, o número de estudantes no ensino superior aumentou, devido ao facto de as pessoas se quererem valorizar e darem porventura um novo rumo às suas vidas.

Na sociedade em que vivemos hoje, o acesso à educação é um direito de todos os cidadãos, consignado no artigo 73.º da Constituição da República Portuguesa de 1976.

Através deste documento, o Estado criou diferentes modalidades de ensino, que possibilitaram “a igualdade de oportunidades, para a superação das desigualdades

económicas, sociais e culturais, para o desenvolvimento pessoal e social dos cidadãos, bem como para a promoção do espírito de tolerância, de compreensão mútua, de solidariedade e de responsabilidade, para progresso social e para a participação democrática na vida coletiva” (Guimarães, 2009).

Cada vez mais é pedido aos cidadãos níveis de certificação académica e qualificações profissionais mais elevados, o que leva as pessoas a investirem na sua educação e na sua formação. Assim, aprender é um pré-requisito fundamental na sociedade em que vivemos, pois esta tornou-se mais competitiva, exigindo cada vez mais competências das pessoas.

Com o decorrer do Processo de Bolonha e do Memorando da Aprendizagem ao Longo da Vida, o XVII Governo Constitucional publicou a 21 de março o Decreto-Lei n.º 64/2006, onde foi introduzido o processo “maiores de 23 anos”, e que veio promover

“uma flexibilidade do ingresso no Ensino Superior para aquelas pessoas que, mesmo não possuindo habilitações específicas, possuem experiência profissional ou competências que permitem ingressar numa faculdade”. Assim, é neste contexto que,

em 2006, as instituições de Ensino Superior passaram a ter a responsabilidade de selecionar os estudantes com mais de 23 anos que se candidatam ao Ensino Superior. “Maiores de 23 anos” é neste momento considerada como a iniciativa política mais

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significativa, mas não é a primeira iniciativa política destinada ao acesso de adultos ao Ensino Superior (Amorim, Azevedo, & Coimbra, 2011, p.212), pois no n.º1 do Decreto-Lei nº198/79, de 29 de junho, há referência aos exames “Ad Hoc”, como tendo sido uma experiência pedagógica que surgiu com base no Decreto-Lei 47 587/67, de 10 de março, juntamente com outras experiências, e que era possível ler- se que os exames “Ad Hoc” serviam “para acesso ao Ensino Superior de indivíduos que tendo mais de 25 anos de idade não possuíssem a adequada habilitação escolar”. Tempos mais tarde esta situação veio a ser regulamentada através da Lei de Bases do Sistema Educativo (Lei n.º 46/86, de 14 de outubro). Assim sendo, só podiam ter acesso ao Ensino Superior: a) “Indivíduos habilitados com curso secundário, ou equivalente; b) Indivíduos com mais de 25 anos que, não possuindo aquela habilitação, façam prova especialmente adequada de capacidade para a sua frequência” (Amorim et al., 2011, p. 2013).

Os exames “Ad Hoc” eram divididos em duas fases. A primeira fase, consistia na realização de uma prova de Língua Portuguesa, à qual era obrigatória a presença de um júri nacional constituído por seis pessoas responsáveis pela elaboração e pela classificação das provas. Nesta prova, o candidato era logo eliminado caso não dominasse bem o Português. A segunda fase, residia na realização de provas específicas cujos conteúdos avaliados eram os relativos aos programas do ensino secundário. Cada Instituição de ensino escolhia as provas de conhecimento que queria aplicar aos seus alunos. Em 2001, inscreveram-se 3658 pessoas no Ensino Superior através dos exames “ad hoc”, mas só foram admitidos na prova de Língua Portuguesa 1135 pessoas, sendo que só 647 foram aprovadas (Batista, 2011).

Com a implementação das medidas políticas educativas advindas do Processo de Bolonha, a idade mínima para os candidatos deste regime passa de 25 para 23 anos, e terminam assim os exames “Ad Hoc” que eram até então o único meio de entrada no Ensino Superior para públicos adultos. Assim em substituição aos “Ad Hoc” o Ministério da Ciência, Tecnologia e do Ensino Superior, criou o Programa Maiores de 23 anos. O antigo Ministro do Ensino Superior, Ciência e Tecnologia, Mariano Gago, afirmou que a aprovação do fim dos exames representava “um passo para a

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acrescentou ainda que os antigos exames “Ad Hoc” eram responsáveis por “uma das

causas de atraso de Portugal em relação a outros países da União Europeia e que se revelava desadequado” (Fernandes, 2006).

Para estes estudantes ingressarem no Ensino Superior é necessário que passem por diversas fases, mas há um critério que é obrigatório para que a sua inscrição seja válida: que no ato da candidatura todos os indivíduos tenham completado os 23 anos até ao dia 31 de dezembro do ano anterior à realização das provas de ingresso. Depois de terem cumprido o critério anterior, os indivíduos passam para a fase seguinte que é a realização na Universidade/ Instituto ao qual se estão a candidatar, de provas escritas. Só depois é que passam para a fase do concurso. Esta última, é dividida em três etapas: a primeira é a apreciação do currículo escolar e profissional do candidato que é entregue no ato da candidatura, para que possa ser analisada toda a história de vida profissional dos candidatos; a segunda, é a prova escrita de conhecimentos relativo ao curso escolhido, isto é, os alunos têm de realizar uma prova escrita que tem como objetivo avaliar os conhecimentos dos conteúdos programáticos em função do curso escolhido; a terceira é a fase das entrevistas. Após a aprovação nas provas escritas, os alunos passam para a fase da entrevista pessoal, de modo a saber quais são as principais razões e as motivações que levaram as pessoas a escolher o curso ao qual se candidataram (Lei de Bases do Sistema Educativo, 2014, cap. I).

Segundo dados da Direção Geral de Estatística da Educação e Ciência – Divisão de Estatística do Ensino Superior (DGEEC-DEES) o número de estudantes que entram para o ensino superior universitário e para o ensino superior politécnico, tanto privado como público, pela via “maiores de 23 anos”, tem vindo a diminuir nos últimos seis anos. Só no último ano letivo é que aumentou, como se pode ver no Figura 1.

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Figura 1- número de estudantes inscritos no ensino superior no 1º ano, pela 1ª vez, através das provas maiores de 23 anos, entre os anos letivos de 2010/2011 e 2016/2017.

Fonte: Dados DGEEC/DEES, fornecidos a 27 de Outubro de 2017 via e-mail

No gráfico acima apresentado (Gráfico 1), podemos observar o número de estudantes inscritos no ensino superior no 1.º ano, pela 1.ª vez, através das provas maiores de 23 anos, entre os anos letivos de 2010/2011 e 2016/2017.

Fazendo uma análise ao Gráfico 1 pode-se observar que do ano letivo 2010/2011 para o ano letivo 2015/2016 os alunos inscritos no Ensino Superior no 1.º ano, pela 1.ª vez, através das provas maiores de 23 anos diminui para mais de metade, ou seja, no ano letivo 2010/2011 eram 10 242 e no ano letivo 2016/2017 eram apenas 4909 estudantes.3

3 2010/2011 – 10242 estudantes inscritos; 2011/2012 – 7907 estudantes inscritos; 2012/2013

– 5667 estudantes inscritos; 2013/2014 – 5034 estudantes inscritos, 2014/2015 - 4826 estudantes inscritos; 2015/2016 – 4680 estudantes inscritos; 2016/2017 - 4909 estudantes inscritos. 10242 7907 5667 5034 4826 4680 4909 0 2000 4000 6000 8000 10000 12000 2010/2011 2011/2012 2012/2013 2013/2014 2014/2015 2015/2016 2016/2017

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Em suma, o Processo “maiores de 23 anos” teve a sua 1.ª edição em 2006/2007, e, segundo Barros e Lopes (2015, p. 371), veio contribuir para que a população estudante do Ensino Superior se tivesse tornado numa população mais diversa, e veio procurar “repor uma oportunidade de frequência daquele nível de ensino que, por um passo muito importante para a democratização do acesso a Ensino Superior em Portugal” (Fragoso, Quintas, & Gonçalves, 2016, p.98).

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