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A abordagem metodológica Investigação-Acção

CAPÍTULO V – METODOLOGIA

5.1. A abordagem metodológica Investigação-Acção

Para a realização do presente trabalho de investigação empírica foi utilizada, como metodologia principal, a Investigação-Acção. O recurso a essa metodologia, baseou-se no facto dela em si mesma, possuir uma dinâmica própria alinhada aos objectivos que nos propusemos alcançar. A metodologia, permitiu ao investigador corrigir de forma oportuna o curso da investigação, valorizando as experiências de campo e da análise dos dados e informação recolhidos com a realização da pesquisa documental, das entrevistas e dos inquéritos.

Tripp (2005) admite que “é difícil definir a Investigação-Acção por duas razões

interligadas: primeiro, é um processo tão natural que se apresenta, sob muitos aspectos, de diferentes modos e, segundo, ela se desenvolveu de maneira diferente para diferentes aplicações e contextos”.

O processo de Investigação-Acção, tal como qualquer outro processo dessa natureza, obedece a um ciclo próprio de maturidade na sua aplicação, caracterizado pelas diferentes etapas que ocorrem no processo de Investigação. No caso concreto, do presente trabalho, foi realizada inicialmente uma pesquisa documental sobre os dados de Governo Electrónico no contexto de Angola e, antes da recolha de dados, foi necessária a selecção dos instrumentos (entrevistas e questionários), que foram aplicados e posteriormente, realizado o tratamento dos dados, o que deu lugar a uma sucessão dos modelos apresentados para o Governo Electrónico Local.

O ciclo referido no parágrafo anterior é descrito por Tripp (2005) ao afirmar que ”é

importante que se reconheça a pesquisa-ação como um dos inúmeros tipos de Investigação-Acção, que é um termo genérico para qualquer processo que siga um

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ciclo no qual se aprimora a prática pela oscilação sistemática entre agir no campo da prática e investigar a respeito dela. Planeia-se, implementa-se, descreve-se e avalia-se uma mudança para a melhoria de sua prática, aprendendo mais, no correr do processo, tanto a respeito da prática quanto da própria investigação”. A maioria

dos processos de melhoria segue o mesmo ciclo (Tripp, 2005): “A solução de

problemas, por exemplo, começa com a identificação do problema, o planeamento de uma solução, sua implementação, a sua monitorização e a avaliação de sua eficácia”. Algumas das vantagens da metodologia do tipo Investigação-Acção, são

descritos por Tripp (2005) apud os autores adiante designados.

Para Lewin (1946) sublinha que “entre alguns dos diversos desenvolvimento do

processo básicos de Investigação-Acção, estão a pesquisa-acção e a aprendizagem- acção”. Por sua vez Revons (1971) sublinha como vantagem, “a prática reflexiva da Investigação-Acção”. Já Schön (1983) refere como vantagem “o projecto-acção”.

Argyris (1985) dá ênfase à vantagem “aprendizagem experimental”. Para Chambers (1983), deve ser destacada a “prática deliberativa”. McCutcheon (1988) defende existir a vantagem de permitir “a prática de pesquisa” e Whyte (1964; 1991), a “investigação apreciativa”. Outros autores como Cooperrider e Shrevasteva (1987), a “prática – diagnóstico”; enquanto Rothman (1999), identifica a “avaliação-acção”. Checkland e Holwell (1998) realçam a “metodologia de sistemas flexíveis” e Marquardt (1999) “a aprendizagem transformacional”.

A Investigação-Acção é iniciada com a pesquisa-acção, que obedece aos seguintes ciclos (Tripp, 2005):

(i) “A pesquisa-acção começa com um reconhecimento e é uma análise

situacional que produz uma ampla visão do contexto da pesquisa-ação, incluindo as práticas actuais dos participantes e envolvidos. Paralelamente a projectar e implementar a mudança para melhoria da prática, o reconhecimento segue exactamente o mesmo ciclo da pesquisa-ação, planeando de como monitorar e avaliar a situação actual, para a seguir, interpretar e avaliar os resultados a fim de planear uma mudança adequada da prática no primeiro ciclo de pesquisa-acção de melhoria.

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(ii) Pesquisa-acção num ciclo iterativo: a natureza iterativa do processo de Investigação-Acção talvez seja sua característica isolada mais distintiva. Muito embora todos os processos de melhoria e desenvolvimento tendam a incluir todas as fases do ciclo básico de Investigação-Acção, nem todos o fazem na mesma sequência nem repetem o ciclo de uma maneira constante para realizar melhorias de modo incremental. A maioria das soluções de problemas, por exemplo, no caso do desenvolvimento organizacional ou da pesquisa experimental, não constituem Investigação-acção, segundo esse critério. A pesquisa-acção, como uma forma de Investigação-Acção, é um processo corrente, repetitivo, no qual o que se alcança em cada ciclo fornece o ponto de partida para mais melhoria no ciclo seguinte.

Portanto, ainda segundo Tripp (2005) a Investigação-Acção é utilizada por fases e em ciclos: “esses ciclos de Investigação-Acção, designados por epiciclos de pesquisa-

acção, porque se procedem mediante repetição de ciclos de Investigação-Acção”. Por exemplo, ao planear, planeia-se o que planear, monitora-se o progresso do plano e avalia-se o plano antes de ir efectuar novo ciclo”.

Lourenço et al. (2004) define Investigação-Acção como “aprender fazendo, em que é

identificado um problema, se faz algo para o resolver e se verifica se os esforços resultaram. (...) Sendo esta a essência deste método, possui uma série de atributos que o diferenciam de uma simples resolução de problemas:

(i) Assume-se um duplo compromisso em estudar um sistema e introduzir-lhe alterações naquela que é a direcção desejada;

(ii) Implica o envolvimento do investigador participante numa aprendizagem conjunto;

(iii) A ênfase é colocada no estudo científico, sendo o problema tratado de forma sistemática e com um corpo teórico que sustenta as intervenções dos participantes;

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(iv) Combina o diagnóstico com a reflexão, focando-se em problemas reais que foram identificados pelos participantes como problemática mas passíveis de serem alterados;

Adicionalmente, Lourenço (2004) afirma que a Investigação-Acção é “uma

metodologia que permite a ligação efectiva e eficiente entre a investigação e a sua aplicação em termos práticos no processo educativo. O objectivo final é de obter respostas que sejam aplicáveis na prática diária dos intervenientes e que possam ser transmitidas a outras pessoas interessadas”.

Para Lourenço (2004) elenca os seguintes princípios gerais da Investigação-Acção:

(i) Crítica reflexiva, que assegura a reflexão sobre os assuntos e os processos, explicando as interpretações, os conceitos pré-definidos, os pressupostos utilizados para fazer julgamentos;

(ii) Crítica dialética, que promove o conhecimento das relações entre os diferentes elementos do contexto estudado;

(iii) Cooperação, uma vez que todas as opiniões, são tidas em consideração;

(iv) Arriscar perturbações, submetendo a crítica, mesmo os processos que se tem como garantidos. Perdendo o medo da exposição, de forma a permitir a mudança e a aprendizagem;

(v) Criar estruturas múltiplas, que permitam sugestões e críticas, com múltiplas possibilidades de acção e de interpretação dos fenómenos;

(vi) Interiorizar a teórica e a prática.

Numa outra abordagem o mesmo autor considera que o modelo de Investigação- Acção comporta as seguintes etapas (Lourenço, 2004):

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(ii) Apresentação de propostas/sugestões por todos os participantes e análise das mesmas;

(iii) Pesquisa bibliográfica sobre o problema;

(iv) Reformulação do problema, se necessário, apresentação de hipóteses;

(v) Escolha dos procedimentos a aplicar;

(vi) Escolha dos tipos/mecanismos de avaliação a utilizar;

(vii) Implementação/activação do projecto;

(viii) Observação e avaliação dos resultados obtidos e a tomada de consciência das implicações dos mesmos”.

Por seu lado, Máximo-Esteves (2008) citado por Castro diz que pode definir-se Investigação-Acção, como “um processo dinâmico, interactivo e aberto a emergentes

e necessários reajustes, provenientes da análise das circunstâncias e dos fenómenos em estudo”.

Castro defende que a Investigação-Acção se “baseia em diferentes critérios: os

objectivos, o papel do investigador, o tipo de conhecimento que gera, as formas de acção e o nível de participação. Nos estudos que utilizam esta metodologia destaca- se um desenho metodológico que se configura num processo cíclico, de pensar-fazer- pensar para investigar e criar a mudança”.

No caso, concreto da investigação inserida neste trabalho, a Investigação-Acção permitiu corrigir a recolha da informação visto que ainda há poucas pessoas com um conhecimento suficiente, para poder tirar proveito do digital, na óptica dos órgãos da Administração Pública no contexto de Angola. O objectivo é melhorar os desempenhos em termos de prestação de serviços aos cidadãos e às empresas, em especial, na óptica do cidadão que exige que o Estado aproxime os serviços que necessita e melhore a interacção e promova a participação pública nos assuntos da sua comunidade.

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Por outro lado, constatou-se que a partir da metodologia Investigação-Acção, foi possível construir-se a proposta de modelo conceptual do Governo Electrónico Local, com possibilidade de ser adoptado e implementado no contexto Angola, tendo em conta que as bases que sustentaram a construção do modelo conceptual e a sua respectiva explicitação tomaram como fonte principal, os resultados das entrevistas e dos questionários aplicados em quatro Províncias de Angola.

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