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A adolescência – Fase de preparação para jovem adulto

Capítulo 3 – Revisão de literatura

3.2. Os jovens adultos

3.2.1. A adolescência – Fase de preparação para jovem adulto

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a Adolescência é o período dos 10 aos 19 anos (Levy, 1998; Prazeres, 1998), que tem início com a puberdade, período de alterações rápidas no ambiente hormonal, caracterizado por transformações corporais e psicológicas muito importantes, determinantes no desenvolvimento da personalidade do indivíduo, terminando com a formação da personalidade e da identidade, numa fase de maturidade e autonomia (Dovey-Pearce, Hurrel, May, Walker, & Doherty, 2005; Duarte, & Góis, 2002; Levy, 1998; Moura, 1999; Scheidt, Overpeck, Wyatt, & Aszmann, 2000; Thompson, & Green, 1997). Segundo Erikson (Moura, 1999) na nossa sociedade, a formação da identidade tende a ser mais demorada, porque no nosso mundo tecnológico precisamos de muito tempo para adquirir as competências necessárias para desenvolver as tarefas da idade adulta, pelo que isso não acontece automaticamente aos 18 ou aos 21 anos mas poderá apenas acontecer algures na década dos 20 anos.

Na adolescência, a imagem do corpo é muito importante; o adolescente preocupa-se com as transformações do corpo e fica inquieto, tem necessidade de se sentir seguro e de se convencer que não é diferente dos outros (Jos, 1994; Matos, Simões, Tomé, Camacho, Ferreira, Ramiro, & et al., 2012; Queirós, 2000).

Em termos psicológicos desenvolve-se a capacidade de elaborar um pensamento abstrato, de projetar o futuro, de melhorar o autocontrolo, estabelece-se um quadro de valores próprio e um código ético pessoal. No aspeto social, a relação de dependência da família atenua-se e o adolescente começa a ter um relacionamento cada vez mais significativo com o grupo de pares. Gradualmente, os desafios vão sendo diferentes, o que dá origem a novos comportamentos e responsabilidades (Prazeres, 1998).

O jovem adulto transita da adolescência, onde passou por todas as fases referidas e está numa etapa de transição entre a dependência e a independência, em que pode mostrar a sua resiliência – capacidade de sobreviver positivamente num ambiente de adversidade. A resiliência é fundamental na adolescência, atendendo aos elevados níveis de ansiedade, depressão e isolamento vividos nesta fase (Hillege, Beale, & McMaster, 2011; Kralik, & Kambourakis, 2010).

A resiliência permite uma introspeção, um melhor sentido de si próprio, sentir esperança e confiança para a resolução dos problemas. A promoção de um

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desenvolvimento positivo nos jovens inclui fatores internos, como a competência, capacidades de coping e auto-eficácia e externos, como o apoio da família, tutoria de adultos (pessoas que sejam “modelos” no seu percurso de sucesso com uma doença crónica) e de organizações comunitárias (Hillege, Beale, & McMaster, 2011).

Na fase da vida da juventude ocorrem várias situações stressantes, mas a integração do jovem em grupo de pares, para além de favorecer a socialização, contribui também para aumentar a sensação de segurança e a redução da ansiedade (Kralik, & Kambourakis, 2010; Neto, & Marujo, 2007).

A transição dos jovens para a idade adulta é um processo relacional e reflexivo que envolve a redefinição dos relacionamentos de suporte afetivo e social com as pessoas significativas e a reconsideração de si próprio, com base no desenvolvimento da confiança nas suas capacidades, reações emocionais e reflexões. Este é um período de grandes desafios para a identidade do jovem, devido às mudanças de relacionamentos, com menos envolvimento com os pais, com novos amigos e companheiros, o que reforça o processo psicossocial de redefinição de relacionamentos e da identidade. Relativamente ao relacionamento com os pais, nesta fase, os jovens adultos mostram-se mais compreensivos em relação às estratégias de suporte e às preocupações dos pais; os jovens confiam sobretudo na capacidade das mães e no papel das mães como suporte da família (Sparud-Lundin, Ohrn, & Danielson, 2009).

A fase de jovem adulto é caracterizada por imensas e diversificadas mudanças, como o fim da escola secundária, a entrada na faculdade, sair de casa dos pais, começar a trabalhar, casar ou ir viver com o namorado/a, a transição para serviços de saúde de adultos (Gorter, Stewart, & Woodbury-Smith, 2011; Hanna, 2012; Kralik, & Kambourakis, 2010; Nico, 2009). Mais de 56% dos jovens adultos na população em geral vivem independentemente dos pais (Hanna, 2012).

A “Emergência da idade adulta” é uma fase de desenvolvimento entre os 18 e os 30 anos, que se segue à adolescência e antecede a idade adulta, que começa nos finais dos 20 anos ou no início dos trintas. Atualmente verifica-se maior flexibilidade nas fronteiras etárias, pois a fase de assumir responsabilidades e papéis tradicionais de adultos como casar, ter filhos e começar a trabalhar começa mais tarde. Este período pode ser dividido em duas fases, a primeira dos 18 aos 24 anos, a fase de transição para jovem adulto, e a segunda dos 25 aos 30 anos, quando a maturidade do jovem adulto já lhe permite assumir os tradicionais papéis de adulto, como uma relação afetiva e um emprego (Anderson, & Wolpert, 2004; Barros, 2010; Dovey-Pearce, Hurrel, May,

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Walker, & Doherty, 2005; Garvey, Markowitz, & Laffel 2012; Hanna, 2012; Nico, 2009).

Esta fase, quando o jovem começa a fazer planos para o futuro, é geralmente acompanhada por um reconhecimento crescente da importância de obter melhor compensação da diabetes e de melhorar os cuidados com a diabetes. Este período pode ser uma janela de oportunidade para a recetividade às intervenções educacionais dos profissionais de saúde (Anderson, & Wolpert, 2004; Dovey-Pearce, Hurrel, May, Walker, & Doherty, 2005; Garvey, Markowitz, & Laffel, 2012; Hanna, 2012).

Quanto à gestão de uma doença crónica tão exigente como a diabetes este período é especialmente difícil pois o jovem está muitas vezes separado da família geograficamente, emocionalmente e economicamente e também está a transitar dos serviços pediátricos para os de adultos. Nesta fase, o jovem também enfrenta novas experiências sociais, emocionais, educacionais, ocupacionais e financeiras, o que vai dificultar os cuidados com a diabetes, colocando em risco a adesão ao tratamento, o controlo glicémico e a frequência das consultas. Nesta fase o jovem assume a sua “independência”, o que muitas vezes poderá significar a rejeição do controlo dos adultos e das figuras de adultos autoritários. Este período constitui um desafio para não desenvolverem depressão, ansiedade e alterações do comportamento alimentar, o que requer acompanhamento consistente e efetivo (Anderson, & Wolpert, 2004; Dovey- Pearce, Hurrel, May, Walker, & Doherty, 2005; Garvey, Markowitz, & Laffel 2012; Hanna, 2012).

A maior liberdade dos jovens nesta fase implica também a responsabilidade pelos cuidados na diabetes, que envolve a autonomia e independência nos comportamentos e tomadas de decisão. Ainda não se sabe, em média, qual é a idade em que os jovens assumem a responsabilidade completa pelos cuidados (Hanna, 2012).

Segundo Erikson (Moura, 1999), cada Fase do Desenvolvimento Social e Emocional é um período de crise psicológica, pelo que é necessário resolver bem essa crise antes da fase seguinte, com uma aprendizagem satisfatória, para que as fases seguintes estejam bem estruturadas e apoiadas. Se na fase da adolescência tiver sido desenvolvido com sucesso o sentimento de identidade pessoal isso leva o jovem a sentir-se bem consigo próprio e a ser capaz de desenvolver ligações amorosas e de amizade duradouras e a ter vontade de assumir compromissos.

A fase denominada “emergência da idade adulta” caracteriza-se por ser uma fase de exploração da identidade, instabilidade, procura do “auto-foco” (“o que quero fazer,

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onde quero ir, quem quero ser”), o sentimento de estar prestes a ser responsável por si próprio, mas ainda não se sentindo completamente como adultos, pois os jovens estão a “encontrar-se” e a decidir o que pretendem da vida em termos académicos, laborais e amorosos. A atual crise socioeconómica em que vivemos poderá condicionar ainda mais a vida e as tomadas de decisões dos jovens nesta fase, contudo, outra característica da “emergência da idade adulta” é ser também a “idade das possibilidades”, os jovens são otimistas e acreditam que vão ter boas oportunidades nas suas vidas nos aspetos laborais, académicos, emocionais, afetivos. A forma como o jovem realiza a transição entre a adolescência e a idade de jovem adulto e posteriormente para a idade adulta para se tornar uma pessoa totalmente independente depende muito do equilíbrio entre os desejos e os esforços de independência do adolescente e o apoio dos pais e da sociedade (Munsey, 2006; Nico, 2009).

Para Erikson (Moura, 2009), a Intimidade é a Fase do Desenvolvimento Social e Emocional que ocorre nos jovens adultos, entre os 19 e os 40 anos. Os jovens precisam de desenvolver relacionamentos de amor e intimidade com outras pessoas. O sucesso conduzirá a relações fortes e o insucesso origina sentimentos de solidão e isolamento.

Os períodos de transição e mudança na vida da pessoa estão ligados não só à idade mas também às expetativas sociais. Assim, podemos considerar 3 períodos na fase de jovem adulto: Entrada no mundo adulto (22-28 anos), Transição dos 30 anos (28-33 anos), Estabilização (33-40 anos). A vida adulta é marcada por períodos de estabilidade e de transição. Após os períodos de transição sucedem-se momentos de integração, correspondendo a mudanças na forma de a pessoa se ver a si própria, o mundo e os outros. Nesses períodos de transição os papéis relacionados, por exemplo, com a vida em comum com o/a companheiro/a e o nascimento de filhos têm muita importância. A relevância desses papéis relaciona-se com a forma como o próprio os encara e com as expetativas sociais (Levinson citado por Moura, 1999). Estes acontecimentos proporcionam novas aprendizagens na vida quotidiana, permitindo a exploração dos significados e valores pessoais e transformá-los de forma a torná-los mais congruentes com a realidade (Moura, 1999).

As definições do início da idade adulta relacionam-se com o início das “carreiras” amorosas, habitacionais e profissionais e com a autonomia e a independência, quando os jovens começam a trabalhar, quando saem de casa dos pais e vão viver em casa própria, sós ou acompanhados pelos namorados ou amigos. Atualmente, a transição para a vida adulta pressupõe uma série de fatores que devem ser

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colocados em evidência para além da idade cronológica, como a experiência, a responsabilidade e o compromisso social, político e interpessoal (Barros, 2010; Nico, 2009).