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(continua ) Cora Coralina

4.5 A agricultura agroecológica no Ceará

O histórico de projetos agroecológicos no Ceará, há mais de vinte anos, é fruto de organizações não governamentais que se espelharam nas experiências dos agricultores familiares do sul e de outros países. Instituições como o Centro de Pesquisa e Assessoria

(ESPLAR), CETRA, Comunidades Eclesiais de Base (CEBS), Florestan Fernandes, Centro de Educação Popular em Defesa do Meio Ambiente (CEPEMA), Projeto Dom Helder Câmara, Associação Comunitária de Base (ACB), Associação de Desenvolvimento Educacional e Cultural (ADEC), Cáritas, Centro de Aprendizado Agroecológico (CAA), Associação de Desenvolvimento de Agropecuária Orgânica (ADAO), Konrad Adenauer, NIC, Elo Amigo, Comissão Pastoral da Terra (CPT), Associação Aroeira e Associação de Cooperação Agrícola do Estado do Ceará (ACACE) são pioneiras no apoio e implantação de projetos de transição agroecológica, uma vez que se organizam em fóruns e redes, fortalecendo o processo, tais como: o Fórum Cearense pela Vida no Semi-Árido, a Rede de Socioeconomia Solidária, o Fórum Regional de Agroecologia e a Rede Agroecológica, ambos do Maciço de Baturité.

Nas universidades públicas também encontramos apoio para esse processo de transformação de paradigmas. A UFC, por exemplo, além de pesquisas e trabalhos de extensão, tem contribuído através do Projeto Residência Agrária, que trabalha com a formação de alunos através de estágios supervisionados e pesquisas nas áreas de assentamentos rurais e apoio à agroecologia. No Grupo Agroecológico, formado por alunos do Centro de Ciências Agrárias, e com a construção do Setor de Horticultura Orgânica – cuja estrutura podemos observar na (figura 09) – os alunos aprendem os princípios da agricultura orgânica e executam projetos de hortas. A Universidade Regional do Cariri e a Universidade Estadual do Ceará contribuem através de pesquisas e trabalhos de extensão e da participação dos Sindicatos dos Trabalhadores Rurais, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e da Federação dos Trabalhadores Rurais do Estado do Ceará (FETRAECE).

Figura 09 - Área do Setor de Horticultura Orgânica da UFC.

O Governo do Estado do Ceará, a partir de 2007, optou por fortalecer políticas e estratégias que beneficiassem a agricultura familiar cearense através do modelo do MDA. A Secretaria da Agricultura (SEAGRI) passa a se chamar Secretaria do Desenvolvimento Agrário. Através dessa mudança de foco, iniciou-se em abril de 2007 o Plano de Desenvolvimento Rural Sustentável (PDRS), envolvendo 166 municípios e mais de dois mil representantes. Após vários encontros através de metodologias participativas priorizaram quarenta ações mais importantes para garantir o crescimento econômico com eqüidade e sustentabilidade, sendo o período de implantação de 2008 a 2011.

Vejamos o eixo de Apoio, Produção, Beneficiamento e Comercialização de acordo com o PDRS (2008, p.30): Fortalecer e incentivar técnicas de convivência com o Semi-Árido; Capacitar continuamente com foco em agroecologia e socioeconomia solidária; Criar o Fundo Estadual de Desenvolvimento da agricultura Familiar; Implementar um Programa Estadual de Combate à Desertificação; Apoiar a organização dos agricultores familiares com foco nas cooperativas visando o acesso ao crédito e à comercialização; Criar um selo de Certificação Participativa; Desenvolver políticas de apoio a feiras da agricultura familiar; Fortalecer a Assistência Técnica e a Extensão Rural; Criar, reativar, fortalecer e apoiar as Escolas Agrícolas do Estado do Ceará.

Estas políticas públicas são importantes para os projetos de fortalecimento da agricultura familiar, mas, de fato, acontece como relataram os agricultores familiares: na maioria dos casos, são apenas promessas que não chegam a ser operacionalizadas e muitas, quando iniciam, não têm continuidade e não chegam à população mais desassistida. Por isso a importância de espaços de participação das comunidades na gestão dos projetos e a constante avaliação e diálogo com a sociedade.

O PDRS e outros Projetos Federais, como o Território da Cidadania, os Consórcios de Segurança Alimentar e Desenvolvimento Local (CONSAD), o Conselho Nacional de Segurança Alimentar (CONSEA), a Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (PNATER), são exemplos de apoio a projetos de Transição Agroecológica no Ceará e no Brasil. Espera-se, de fato, que eles sejam implantados, controlados e avaliados também pela sociedade civil de forma participativa.

Na SDA há uma célula com o objetivo de implantar projetos para a agricultura orgânica no Estado. Tem-se, neste ano de 2009, a promessa de elaboração da lei que estabelece o Selo da Agricultura Familiar no Estado do Ceará.

Outro marco recente foi o Congresso Cearense de Agroecologia. Seu tema, “Agricultura Familiar e Sustentabilidade”, em novembro de 2008, na UFC, contou com a

parceria e a participação de várias instituições, entre elas o CCA/UFC, a Fundação Konrad Adenauer, a EMBRAPA e o Grupo Agroecológico/UFC. Seus parceiros foram: Ministério do Desenvolvimento Agrário, Secretaria do Desenvolvimento Agrário do Estado do Ceará, Banco do Nordeste, Pró-Reitoria de Extensão da UFC, INCRA, FETRAECE, Instituto Agropólos, Prefeitura Municipal de Fortaleza, CETRA, ESPLAR, NIC e Fórum Cearense pela Vida no Semi-Árido.

Como expõe o Relatório Institucional da Konrad (2009), a programação contou com palestras, conferências, painéis paralelos, seminário de sistematização de experiências e apresentação de trabalhos técnicos científicos de forma oral. Houve a participação de 750 pessoas, dentre elas pesquisadores, agricultores, estudantes e técnicos, todos com o intuito de discutir a agroecologia no Estado através de conhecimentos científicos e práticas agroecológicas, abordando aspectos sociais, ambientais e econômicos e propondo mudanças por meio de um documento encaminhando para o SDA e para o Congresso Brasileiro de Agroecologia. A realização do II Congresso em 2010 será na Universidade Federal, no Cariri.

Através da participação das instituições, foi possível construir um mapa com as experiências agroecológicas no Estado do Ceará (mapa 01).

Algumas instituições não repassaram os dados solicitados, por isso faltam dados a considerar. Assim, identificamos que a maioria dos municípios que têm projetos atende pelo menos um projeto ativo. Comparando com o número de municípios no Ceará, somente 40% deles contemplam a partir de uma experiência agroecológica, havendo, pois, urgência em avançar na implantação de projetos agroecológicos. Através do mapa, constatamos a região com mais projetos de transição: a do Maciço de Baturité, onde se encontra o município de Barreira. Segundo o Projeto AFAN, os municípios menos atendidos são os do Litoral Oeste e Litoral Leste/Jaguaribe, indicando a necessidade de projetos para estas regiões.

De acordo com as entidades, os principais produtos ofertados pela agricultura familiar em transição agroecológica são: frutas, café, castanha, algodão, flores, mel e pimenta. É relevante destacar que muitos dos agricultores estão em processo de certificação.

Mapa 01: Incidência de Projetos de Transição Agroecológica no Ceará Fonte: Duarte, 2008.   Legenda       Municípios sem  projetos agroecológicos       Municípios com um  projeto agroecológico       Municípios com dois  ou mais projetos  agroecológicos 

Capítulo 5

BARREIRA E O CONTEXTO DOS PROJETOS