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2.2 Caracterização dos sistemas de produção agrícolas

2.2.1 A Agricultura e a História

A agricultura é a mais importante forma de ocupação do ambiente em todas as sociedades humanas. Se historicamente ela foi capaz de produzir alimentos para comunidades sempre crescentes, concomitante, foi e continua sendo uma das mais importantes atividades em termos de geração de impactos (TAVARES, 2009).

As primeiras formas de agricultura surgiram em torno de 10 mil anos atrás, no período da pré-história denominado NEOLÍTICO. O uso de técnicas, mesmo que inicialmente rudimentares, passou a fazer parte do cotidiano dos primeiros aglomerados humanos. Foi somente no século XVIII, com o advento da agricultura moderna, que a produção em maior escala começou, caracterizando a Primeira Revolução Agrícola.

A revolução agrícola antiga gerou sistemas de cultivo de cereais pluviais com alqueive, ocorrendo a associação de pastagem e criação, nos quais se utilizavam ferramentas manuais, como a pá e a enxada, e um instrumento de cultivo de tração leve, o arado escarificador. Séculos mais tarde, na metade norte da Europa, a revolução agrícola da Idade Média Central produziu os sistemas com alqueive e tração pesada, com o uso do arado charrua e da carreta. A primeira revolução agrícola dos tempos modernos, assim denominada por ter-se desenvolvido em estreita ligação com a primeira revolução industrial, no qual gerou os sistemas ditos “sem pousio” ou cultivos baseados na cultura de cereais com forrageiras e sem alqueive (MAZOYER; ROUDART, 2010).

Em geral, a Primeira Revolução Agrícola levou à integração da produção agrícola e pecuária, com o domínio sobre as técnicas de produção em maior escala, com um aumento expressivo dos produtos alimentares e do excedente agrícola comercializável, além da intensificação do uso de rotação de culturas com plantas forrageiras.

Em meados do século XIX, até o início do século XX, a Segunda Revolução Agrícola marcou uma série de descobertas científicas e avanços tecnológicos. É caracterizada ainda pela especialização da produção através da prática da monocultura e do uso intensivo de insumos industriais, sobretudo os fertilizantes químicos.

Esta revolução agrícola apoiou-se no desenvolvimento de novos meios de produção agrícola originários da Segunda Revolução Industrial: a motorização (motores a explosão ou elétricos, tratores e engenhos automotivos cada vez mais potentes), a grande mecanização (máquinas mais complexas e eficientes); e a quimificação (adubos minerais e produtos de tratamento). Os ganhos de produtividade provenientes foram tão grandes que levaram a uma redução muito importante dos preços reais da maior parte dos gêneros agrícolas (MAZOYER; ROUDART, 2010)

Aliadas a outras práticas agrícolas, como o uso de variedades melhoradas, irrigação, uso intensivo de insumos industriais, sobretudo os fertilizantes químicos e os agrotóxicos, e uso intensivo de máquinas agrícolas no preparo do solo caracterizaram a chamada “Revolução Verde”. Este modelo produtivo que vem sendo praticado nas últimas décadas é também chamado de agricultura convencional.

A agricultura moderna, sobretudo a partir dos anos 50, priorizou um modelo tecnológico baseado no preparo intensivo do solo, no uso de adubos minerais de alta solubilidade e a elevada aplicação de agrotóxicos. Esse modelo elevou a produtividade das culturas, mas gerou incontestáveis problemas ambientais, com destaque para a degradação dos solos por erosão, perda de matéria orgânica e compactação, devido à adoção de práticas agrícolas inadequadas, e os consequentes impactos sobre os recursos hídricos.

Em resposta a esses impactos, surgiram diversos movimentos em prol de uma agricultura mais sustentável, ambiental e socialmente. Surgiu, então, o termo “agricultura sustentável”.

De acordo com o “Alternative Treaty on Sustainable Agriculture”, GLOBAL ACTION (1993), citado por EHLERS (1996) o desenvolvimento sustentável é um modelo social e econômico de organização baseado na visão equitativa e participativa do desenvolvimento e dos recursos naturais, como fundamentos para a atividade econômica.

No Brasil iniciou-se o processo de adoção da agricultura convencional ou a “modernização do campo”, na década de 50, que se acentuou a partir da década de 1960, principalmente nas regiões Sul e Sudeste e expandiu para outras regiões, sobretudo a partir da década de 1970. Assim, o espaço agrário brasileiro passou por significativas mudanças nas últimas décadas.

O processo de adoção do pacote tecnológico da revolução verde se deu pela implantação de um amplo parque industrial de insumos agrícolas, apoiados pelo governo, via crédito rural. O crédito rural foi à base da sustentação para o aumento da demanda de insumos e máquinas capazes de alterar a dinâmica da produção, principalmente para os grandes produtores de produtos exportáveis localizados no centro-sul brasileiro. O crédito rural subsidiado, com a criação do Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR) em 1965, passou de 5,5 bilhões de dólares em 1970 para 23 bilhões de dólares em 1979 (CAPORAL, 1998), evidenciando o processo de implantação da Revolução Verde via apoio governamental.

Musumeci (1987) assinala que a instituição do crédito rural em 1966, a criação e o funcionamento da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) em 1972-1973 e da Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMBRATER) em 1974, o lançamento do Plano Nacional de Defensivos Agrícolas (PNDA) em 1975, são alguns dos marcos significativo do processo político-institucional de modernização do campo.

E nesse processo, o sucesso da Revolução Verde no Brasil foi sem dúvida, o marco de maior impacto na expansão das lavouras de soja na região sul. A soja, ao cumprir o mesmo papel desempenhado pelo café no século XIX, é a cultura que mais tem incorporado as “técnicas modernas” da agricultura convencional. Houve a necessidade na produção de alimento em larga escala, deixando em segundo plano a preocupação com a conservação do meio ambiente e a qualidade nutricional dos alimentos.

Alguns resultados da Revolução Verde começam a serem sentidos no Brasil e no mundo, como o aumento na produção de alimentos e por consequência, a diminuição da fome, como era sua intenção, entretanto indica que a questão é mais complexa do que simples cálculos de produção, envolvendo, entre outros, a distribuição de renda. Assim, a perda da biodiversidade; contaminações do solo, água e trabalhadores rurais; entre outros, mostra que a revolução verde é altamente controversa, não apenas entre o meio científico ou especialistas, mas para a sociedade.

No Brasil, essas discussões atingem os consumidores que, preocupados com a qualidade dos produtos que estão ingerindo e os danos ambientais do modelo agrícola passam a interferir no sistema de produção, através da demanda de produtos sustentáveis.