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3 ENSINO DE CIÊNCIAS NATURAIS: DISCUTINDO SEUS PRESSUPOSTOS E

3.1 O ENSINO DE CIÊNCIAS E E AS DIMENSÕES CURRICULARES NOS ANOS

3.1.1 A alfabetização científica nos primeiros anos do ensino

Para discutirmos o processo de alfabetização mencionamos dois documentos que tratam do assunto, o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC) e a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). De acordo com o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC) as crianças devem estar alfabetizadas (entende-se saber ler e escrever e ter as noções básicas de matemática) até os 8 anos de idade, ou seja, 3° ano do ensino fundamental. A BNCC lançada em 2017 propõe que a alfabetização aconteça até o segundo ano de escolarização da criança, ou seja, aos 7 anos de idade. As visões de alfabetização propostas nos dois documentos passam uma imagem de que a alfabetização se constitui em um produto acabado, com início e fim.

Quando nos referimos à alfabetização e, a partir desse momento vamos introduzir o conceito de alfabetização científica tendemos a pensar a alfabetização como um 9 processo de construção social do conhecimento, sendo cada vez mais exigida à

Na literatura podemos encontrar os termos letramento científico ou alfabetização científica. Neste

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estudo vamos utilizar o termo alfabetização científica utilizado por Sasseron e Carvalho (2008, p.334) “[…] a alfabetização deve ser possibilitar ao analfabeto a capacidade de organizar seu pensamento de maneira lógica, além de auxiliar na construção de uma consciência mais crítica em relação ao mundo que o cerca. “

medida que a criança vai adquirindo maturidade intelectual e social, para compreender os eventos científicos evidenciados pela ciência e articulados com a sociedade. Para ancorar este pensamento concordamos com Lorenzetti e Delizoicov (2001) para os quais a alfabetização é uma “atividade vitalícia”.

Com o intuito de aprimorar a ideia de alfabetização científica nos anos iniciais do ensino fundamental, recorremos a uma definição de alfabetização científica, amplamente utilizada, de Miller (1983).

[…] quando se fala em alfabetização, normalmente não se percebe que a expressão ser alfabetizado apresenta dois significados diferentes: um, mais denso, estabelece uma relação com a cultura, a erudição. Por conseguinte, o indivíduo alfabetizado é aquele que é culto, erudito, ilustrado. O outro fica reduzido à capacidade de ler e escrever. […] capacidade de ler, compreender e expressar opinião sobre assuntos de caráter científico. (MILLER, 1983, p. 29 e 30)

Sendo assim, para Miller a definição que se aproxima da alfabetização científica seria a “capacidade de ler, compreender e expressar opinião sobre assuntos de carácter científico” (MILLER, 1983, p. 30).

Esta definição de alfabetização nos remete as falas das professoras regentes do estágio, em que a ideia central de alfabetizar, da criança possuir o conhecimento, se reduz a aquisição de leitura e escrita. Concordamos com Miller (1983), a alfabetização deve produzir um indivíduo culto, plural, conhecedor do mundo a que pertence. Partindo do pressuposto de que os anos iniciais se constituem em um campo fértil para desenvolver a alfabetização, utilizamos a concepção de Lorezetti e Delizoicov (2001) a respeito de se trabalhar a alfabetização científica nos anos iniciais do ensino fundamental, como segue:

[…] partimos da premissa de que é possível desenvolver uma alfabetização científica nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental, mesmo antes do aluno dominar o código escrito. Por outro lado, esta alfabetização científica poderá auxiliar significativamente o processo de aquisição do código escrito, propiciando condições para que os alunos possam ampliar a sua cultura. (LORENZETTI e DELIZOICOV, 2001, p. 3 e 4, GRIFO NOSSO)

Quando pensamos em alfabetização científica tendemos a associar a um processo que perdura por toda a vida, ou seja, ela é aprimorada conforme a maturidade do indivíduo, conforme as suas experiências.

É importante destacar que a educação científica vem de encontro com a relação estreita que temos com a tecnologia e a ciência. O acesso aos meios de comunicação que veiculam informações relacionadas tanto às questões cotidianas quanto a eventos científicos e tecnológicos que estão acontecendo no mundo fazem com que os(as) professores(as) possam usar dessas informações para desencadear o processo investigativo nas crianças. Por outro lado, ressaltamos que a alfabetização científica acontece em outros lugares, além da sala de aula, como museus, locais com propósitos educativos como feiras de ciências, por meio de acesso a jornais e revistas com temas científicos e tecnológicos, documentários, entre outras possibilidades de provocar discussões. (SASSERON; CARVALHO, 2008)

A exposição dos(as) alunos(as) à situações que os levem a fazer ciência, tendo que resolver situações problemas por meio da investigação tende a levar esses(as) alunos(as) a terem contato com a ciência, a se interessarem por questões científicas que envolvam ciência, tecnologia e sociedade, os(as) levando a refletirem sobre as ações do homem sobre o ambiente e a se posicionarem criticamente frente aos temas propostos. Nesse sentido, Sasseron e Carvalho (2008) defendem que o(a) professor(a) desenvolva sequencias didáticas que levem os(as) alunos(as) a resolverem problemas por meio do processo investigativo.

Quando mencionamos a alfabetização científica, estamos nos referindo ao ensino de ciências para a cidadania, ou seja, para formar um cidadão que possa se posicionar frente às questões referentes as pessoas, a sociedade e ao meio ambiente. A alfabetização está intrinsecamente articulada ao ensino por investigação. De acordo com Munford e Caixeta (2007) o ensino por investigação tem sido muito utilizado para orientar o ensino de ciências. Proporcionar às crianças a oportunidade de construir conhecimentos baseados num processo investigativo vai muito além de ensinar conceitos, permite que a criança faça ciência (NASCIMENTO, 2011)

Nesse sentido, consideramos que o ensino por investigação possa ser articulado à alfabetização científica quando a criança é exposta à situações problema que possibilitem a ela, recorrer aos processos investigativos para questões sociocientíficas, proporcionando à criança a elaboração de respostas e/ou hipóteses que a levem a pensar de maneira ampla sobre as possibilidades de ação diante de determinados eventos.

Nos anos iniciais do ensino fundamental, o(a) professor(a) tem o objetivo de alfabetizar a criança, mas é importante ressaltar, que a proposta de alfabetização científica tem muito a contribuir com o processo de aquisição da linguagem escrita e matemática. As problematizações, provenientes de suas indagações de mundo, devem ser consideradas, pois elas são os alicerces que levam a questionamentos que ampliam a visão de mundo da criança.

Com intuito de desenvolver a alfabetização científica nos primeiros anos do ensino fundamental acreditamos ser importante o(a) professor(a) desenvolver planos de aula ou sequências didáticas que priorizem atividades que envolvam outras disciplinas além de ciências, por exemplo, língua portuguesa, matemática, geografia, arte e história. Dessa forma, a criança terá contato com várias disciplinas de forma interdisciplinar e irá reforçar o processo de aquisição de leitura e escrita de maneira mais pluralizada. O que entendemos é que as propostas metodológicas utilizadas para desenvolver as sequências didáticas precisam ser organizadas com intuito de envolver as crianças no processo de ensino e proporcionar contato delas com a investigação, proporcionando momentos de pesquisa, discussão e proposição de resolução de problemas. Consideramos que as atividades de exposição das crianças a elementos da ciência tendem a despertar a curiosidade e o interesse em realizar as atividades propostas em sala de aula.

O excesso de explicações sobre as coisas do mundo, contrapõe a narrativa à informação. A narrativa é uma forma artesanal de comunicar, sem a intenção de transmitir informações, mas conteúdos a partir dos quais as experiências possam ser transmitidas.

Walter Benjamin (1975)

4 CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS

Para entender os desafios e as principais abordagens metodológicas das alunas do curso de Pedagogia em relação à disciplina de ciências nos anos iniciais do ensino fundamental, delineamos, neste capítulo, as dimensões metodológicas da pesquisa. Optamos pela organização em blocos temáticos, a saber: os objetivos (geral e específicos), o contexto da pesquisa, a caracterização do tipo de pesquisa, e os procedimentos metodológicos que orientaram o estudo.