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A amostra: os participantes na investigação subjacente ao CoAstro

4. Metodologia da investigação

4.2. Participantes

4.2.1. A amostra: os participantes na investigação subjacente ao CoAstro

Os participantes na investigação subjacente ao CoAstro constituem, pois, a amostra do presente trabalho, entendida como “a parte ou subconjunto de uma dada população” (Carmo & Ferreira, 2008, p. 209).

Pelo explicitado no subcapítulo 3.2., após o processo de divulgação do CoAstro obtivemos uma amostra investigativa composta por nove professores, cinco astrónomos e quatro divulgadores. Contudo, como também se explicou (subsecção 3.4.2.1.) um dos astrónomos teve de deixar o CAUP (e a investigação que nele realizava), por questões pessoais, abandonando, por consequência, o CoAstro.

A nossa amostra é, portanto, uma amostra não-probabilística, pois os elementos foram selecionados de acordo com “um ou mais critérios julgados importantes para o investigador tendo em conta os objetivos do trabalho de investigação que está a realizar” (Carmo & Ferreira, 2008, p. 210). Para os professores, estávamos a falar do critério de lecionarem no 1.º ciclo do ensino básico e, pela participação na etapa “O CoAstro apresenta-se”, estarem conscientes das caraterísticas do projeto, compreendendo a necessidade de participarem em todas as suas etapas. Para os astrónomos e divulgadores a este último critério adicionava-se o facto de exercerem a sua atividade profissional na esfera do CAUP, falarem português e estarem disponíveis para se deslocarem às escolas, realizando atividades de divulgação da astronomia. No caso específico dos astrónomos acrescia que teriam de estar disponíveis para integrarem os professores na investigação científica em astronomia que realizavam no IA.

Ainda segundo a classificação de Carmo e Ferreira (2008) adotar-se-á na nossa investigação uma técnica de amostragem de conveniência, uma vez que se utiliza um grupo de voluntários.

A seleção dos astrónomos e divulgadores a sensibilizar para participarem no CoAstro estava facilitada pela nossa ideia inicial de envolver o PP-CCV. Recordar que a razão de tal opção foi a sua disponibilidade (por razões profissionais e académicas temos, a eles, acesso facilitado) mas, não menos relevante, prendeu-se com uma razão científica.

Na verdade, é comum, na rede de Centros Ciência Viva (CV, 2020b), a estreita colaboração com unidades de investigação. Contudo, o PP-CCV é o único centro, dessa rede, integrado, ele próprio, numa unidade de investigação da área científica da sua intervenção – o Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço IA (2020c, on-line):

Atualmente o instituto é a maior unidade de investigação na área em Portugal, sendo responsável pela maioria da produtividade nacional em revistas internacionais ISI na área de Ciências do Espaço. Esta é uma das áreas científicas com maior fator de impacto relativo e com maior número médio de citações por artigo para Portugal. O IA possui uma capacidade já demonstrada para desenvolver projetos de referência em Astronomia, em todas as suas fases: definição científica e técnica, conceção e desenho de instrumentos, construção e instalação, e exploração científica.

O IA resultou da fusão, em 2015, de duas unidades de investigação: o Centro de Astronomia e Astrofísica da Universidade de Lisboa (CAAUL) e o Centro de Astrofísica da Universidade do Porto (CAUP). Este último correspondia à unidade de investigação FCT (Fundação para a Ciência e a Tecnologia – agência pública) que tinha como instituição de acolhimento o Centro de Investigação em Astronomia/Astrofísica da Universidade do Porto (conhecido pela mesma sigla – CAUP): uma associação privada, sem fins lucrativos e declarada de utilidade pública. Assim, esta associação passou a acolher o IA, desde 2015, como unidade de investigação. O PP-CCV é propriedade da Universidade do Porto, cabendo ao CAUP a sua gestão científica e operacional. Dada a missão consagrada estatutariamente, o CAUP e por inerência o PP-CCV, para além de se dedicar à divulgação científica, trabalha ainda em comunicação e ensino da astronomia, apresentando uma média anual de cerca de 28000 visitantes (desde a sua abertura em 1998).

Na amostra inicial de astrónomos, três eram do sexo masculino e dois do sexo feminino. Uma das astrónomas era de nacionalidade francesa e outra de nacionalidade brasileira. Os astrónomos tinham, em média, 35,4 anos de idade e 11,4 anos como investigadores. Relativamente aos divulgadores, três eram do sexo masculino um do sexo feminino. As suas médias de idade e de experiência profissional eram, respetivamente, de 36,75 anos e 14,0 anos.

Também no sentido de caraterizarmos os astrónomos e divulgadores da nossa amostra aplicamos o “Questionário a astrónomos e divulgadores” – QAD. Este que será apresentado na secção 4.3.1., permitiu-nos saber que estes elementos da nossa amostra faziam parte de um grupo, dentro da sua classe de profissionais (I. A. Costa, Morais, & Monteiro, 2019) que entendiam o seu trabalho como relevante para a sociedade, devendo, portanto, ser alvo de divulgação científica. Ainda assim, consideravam a existência de investigações que, pela sua natureza, não deveriam ser alvo de divulgação e/ou ensino na escolaridade obrigatória. Contudo, mesmo as que

fossem passíveis de divulgação não deveriam ocupar os astrónomos por mais de 10% do seu tempo. Na verdade, os astrónomos não estavam certos de que o trabalho de divulgação devesse ser entregue a um profissional dessa área, apesar de concordarem que ser bom investigador não era sinónimo de ser bom divulgador. Os astrónomos tinham dúvidas sobre se o trabalho de um investigador devia ser avaliado pela qualidade da divulgação que dele fizesse. Por outro lado, estes profissionais tendem a não organizar atividades de divulgação, apesar de nelas participarem de uma forma que avaliam como bastante positiva. Para eles, a interação face a face é o melhor meio para a divulgação científica, sendo o principal motivo para os astrónomos se envolverem em tal atividade o revelar a ciência como uma herança cultural marcante da nossa sociedade. O tempo que a participação em atividades de divulgação científica retira à investigação é considerada como a principal desvantagem da participação dos astrónomos em tais iniciativas.

Os divulgadores, por seu lado, apontam especificamente como desvantagem, a desvalorização da tarefa pelos pares dos astrónomos. Os divulgadores viam, ainda, as investigações no âmbito da divulgação científica como oportunidades para melhorar o seu trabalho quotidiano.

Os astrónomos, ao contrário da maioria dos divulgadores, revelaram não ter formação específica na área da divulgação das ciências e entendiam que o público alvo preferencial das ações devia ser o público em idade escolar – os divulgadores consideram como público preferencial o interessado ou informado. Estes últimos profissionais viam como principal vantagem da participação em ações de divulgação científica, para os astrónomos, a sua valorização pessoal. Contudo, os astrónomos auto percecionavam como principal vantagem a melhoria das capacidades de comunicação. Com maior frequência os astrónomos apontavam o desenvolvimento do interesse pela ciência, como o principal objetivo da divulgação científica, ao passo que os divulgadores apontavam a promoção da literacia científica dos cidadãos.

Até ao momento do presente trabalho, já justificamos a nossa opção por envolver especificamente professores do 1.º ciclo, tendo em conta: i) a relevância, dada pelo PAS e pelo PUS, da sua aproximação ao ensino (secções 2.2.1. e 2.3.1.); ii) as vantagens da divulgação científica realizada através de projetos de ciência cidadã com as escolas (subsecção 2.4.2.2.); iii) o facto de estes profissionais serem dos que apresentam maiores lacunas em astronomia, em termos conceptuais e procedimentais e, simultaneamente, terem de lecionar conteúdos desta ciência (secção 2.3.2.).

Contudo, este é o momento para reforçarmos esta nossa opção, introduzindo novos fatores que foram decisivos na nossa opção por envolver no CoAstro professores do 1.º ciclo.

Na verdade, o envolvimento de professores justificava-se, também, pelo efeito desmultiplicador de influências que se consegue através destes profissionais, ser difícil de igualar por qualquer outro tipo de participantes.

O que se acaba de dizer torna-se ainda mais relevante, no CoAstro, na medida em que se pretendia, através dos professores, chegar ao seu público juvenil (e suas comunidades). Na verdade, este “efeito-escola” e “efeito-professor” tem sido alvo de inúmeros estudos desde a década de 60 do século passado e que são compilados, por exemplo, nos trabalhos de Bressoux (2003); da Fonseca (2011); Gilbert et al. (2011) e que podem ser sumarizados, de forma ágil e prática: “teachers are a significant factor associated with student achievement. Research recognizes that the greatest determinate of student achievement is the teacher” (Heafner, 2019, p. 433). Contudo, “academic research has a relatively small impact on teachers’ decision-making” (Walker et al., 2018, p. 4).

Uma vertente, agora especifica dos professores do 1.º ciclo, prende-se com o facto de trabalharem com uma faixa etária “em que o cérebro está excecionalmente sensível a certo tipo de informações. […] nós gostamos do termo «janelas de oportunidade»” (Rato & Caldas, 2017). Na verdade, o Center on the Developing Child at Harvard University (CDCHU) demonstrou claramente que “the brain's plasticity is strongest in the first few years after birth” (CDCHU, 2016, p. 13). Assim, concluem que a capacidade de o cérebro ser influenciado pelas experiências é maior nessas idades. Por outro lado, a quantidade de esforço necessária para essa mudança é, também nestas idades, bastante menor, quando comparadas com outras faixas etárias. Foi, ainda, demonstrado por Dang e Russo (2015, p. 18) que “astronomers develop an interest in astronomy between the ages of four and six”. Concluem, assim que o interesse pela astronomia é moldado em idades precoces, o que é válido, também, para outras ciências.

Os professores do CoAstro tinham uma média de idades de 44,8 anos. Oito eram do sexo feminino e um do sexo masculino. Todos os professores afirmavam nunca terem realizado qualquer curso específico no domínio da astronomia, nem, tão pouco, participado em qualquer iniciativa do âmbito desta ciência. Este dado, aliado aos meios de divulgação do CoAstro (redes sociais e e-mail para professores já inscritos na mailling list do PP-CCV) explicam que a maioria dos professores (cinco em nove) apenas tivessem conhecimento do CoAstro por outros colegas de profissão. Quatro

destes professores concluíram os seus estudos secundários em meio urbano, dois em meio suburbano e três em meio rural. Contudo, no momento de entrada no CoAstro cinco trabalhavam em escolas suburbanas (dos concelhos de Gondomar e Vila do Conde), três em escolas urbanas (dos concelhos de Matosinhos e Vila Nova de Gaia) e apenas um numa escola de meio rural (do concelho de Amarante).

Importa sublinhar que os professores que integraram a amostra foram selecionados de entre todos aqueles que, cumprindo os critérios de seleção, se mostraram disponíveis (não tendo, por isso, sido escolhidos “a dedo”). Estes professores pertencem ao padrão caraterístico da classe, não sendo, portanto, professores superiormente motivados e conhecedores da astronomia.

Na verdade, os principais motivos que elencaram para participarem no CoAstro foram os de: i) melhorar os seus conhecimentos e competências a nível da astronomia; ii) mais rapidamente acederem ao conhecimento científico de ponta; iii) acederem a conteúdos que beneficiem os seus alunos.

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