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Com foi mostrado, em razão da manutenção de preços elevados para a borracha natural silvestre, o setor industrial dependente dessa matéria-prima supriu essa lacuna com a borracha sintética importada e nacional. Entretanto, os rumos tomados pelo setor petrolífero a partir de 1973 criaram um ponto de estrangulamento na continuidade do consumo da matéria- prima sintética, obrigando os produtores de pneumáticos a rever sua estratégia, de forma que estas transformações redundaram em uma maior demanda pelo produto natural.

As companhias pneumáticas estrangeiras optaram, no caso dos produtos em que era exeqüível, substituir a matéria-prima natural pela sintética21. Para suprir a demanda, a

PETROBRÁS e a iniciativa privada realizaram vultuosos investimentos na produção de sintéticos. A produção de Borrachas de Butadieno-Estireno (SBR) pela PETROFLEX passou 78,5 mil ton. para 148,0 mil ton. entre 1972 e 1978. Por sua vez, a produção de Polibutadieno pela COPERBO aumentou, neste mesmo período, de 16,0 mil ton. para 42,0 mil ton. A produção total desses dois tipos de borracha sintética passou de 94,58 mil ton. em 1972 para 190,18 mil ton. em 1978. Destarte, diversificou-se a oferta nacional de sintéticos, com a construção das unidades fabris da Dow Química S. A., pertencente à Bayer do Brasil S.A. em 1974, da BASF Brasileira S.A. em 1975 e da NITRIFLEX S.A. em 1975. Como fruto dessa investida, o Brasil se transformou no segundo maior consumidor mundial de borracha de origem sintética.

Todavia, a Guerra de Yom Kipur desencadeada no ano de 1973, entre, de um lado, Israel e de outro, Egito e Síria, redundou numa enorme crise no setor petrolífero (Leite, 1990). Com a subseqüente quadruplicação de seu preço (que passou de US$ 3 para US$ 12), a economia mundial da borracha sofreu um grande impacto, o que incidiu mais pesadamente sobre as indústrias que dependiam da borracha sintética em larga escala para a fabricação de seus artefatos. A referida elevação na cotação do óleo cru representou uma mudança estrutural no custo e, por conseguinte, na produção da borracha sintética (ARRUDA, 1986). Com isso, conforme ressalta Arruda (1986, p.67), os “[...] investimentos no setor de borracha sintética tiveram, virtualmente, uma parada.”.

Nas palavras de Paula (1982, p.84-85) a borracha natural apresentava um grande paradoxo na medida em que era:

[...] material indispensável à indústria automobilística e a uma série de indústrias; por outro lado, atrasado e pobre, áspero e insensível ao novo, encontra-se [...] o extrativismo, que readquiriu sua antiga importância com a elevação dos preços do petróleo e conseqüentemente da borracha sintética.

Desse modo, a formação de um cartel internacional no setor do petróleo (no caso a Organização do Países Exportadores de Petróleo - OPEP) no ano de 1973, coincidia com o Brasil excessivamente dependente da borracha sintética, e esta do petróleo importado. Neste particular, a opção feita pelo Brasil anos atrás pela borracha sintética, apresentava-se mais inadequada que nunca. Tais circunstâncias redundaram num intenso esforço governamental na tentativa de estimular a heveicultura. Para tal fim, um vasto programa de pesquisa e crédito rural foi destinado para o setor. O Brasil parecia estar decididamente disposto a eliminar o

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Alguns produtos permite a substituição da matéria-prima natural pela sintética, com perda pequena de qualidade, enquanto que em outros, a substituição é inexeqüível.

mal-das-folhas – fungos que atacavam as seringueiras - após décadas de idas e vindas, permeadas por relações de interesses conflitantes.

Na década de 1970, a borracha natural era responsável por cerca de 33% da demanda mundial e era indispensável para determinadas aplicações, nas quais o sintético não se prestava como substituto. Os pneus radiais e de aeronaves são exemplos de artefatos de borracha que não podem conter elevado percentual de borracha sintética.

Segundo Oliveira (1975), em 1975, o Brasil empregava uma das mais elevadas taxas de utilização de borracha sintética do mundo, isto é, cerca de 73% do consumo total de borracha.

No Brasil, segundo Pinto (1984, p.),

conseguiu-se a indiscutível façanha de preservar o extrativismo gomífero, uma atividade moral e economicamente condenada desde os primeiros anos deste século.” Por outro lado, não “faltavam [por parte do seringalista] as habituais promessas quanto à ‘melhoria das condições de trabalho e o caráter ‘transitório’ da manutenção do extrativismo gomífero.

Apesar dos incentivos governamentais destinados à expansão da extração da borracha natural na região amazônica, não se auferiu bons resultados devido a diversos motivos, dentre os quais se destacam: os problemas de solo; de ordem fitossanitária; qualidade de clones; e, de falta de infra-estrutura, conforme enfatizam Arruda; Martin (1992) e Virgem Filho (1999). Acrescenta-se a isso a aplicação inadequada dos recursos dos PROBORs. Todavia, até 1985, a citada região respondia por 83,4% da produção do país, embora mantivesse um sistema de sangria bastante arcaico, não mostrando nenhuma perspectiva de elevação da produtividade ou mesmo da produção.

Entretanto, a partir do ano de 1990, a Região Amazônica perdeu sua supremacia na produção de borracha natural, passando a haver o predomínio crescente da produção dos seringais cultivados22. A Amazônia que em 1989 era responsável por 55,3% da produção

nacional, em 1990 reduz sua participação para 46,7%. A conseqüência inevitável desse processo foi o enfraquecimento político da elite do norte em razão da queda relativa e absoluta de sua produção.

A produção brasileira de borracha natural oriunda dos seringais nativos passou de 18,9 mil ton. para 5,5 mil ton. entre 1973 e 1996, ao passo que a borracha natural, oriunda de plantações, passou de 4,5 mil ton. para 48,1 mil ton., sendo a totalidade dessa produção consumida internamente.

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Em 1990 o Estado de São Paulo respondia por 13,3% da produção, o Estado da Bahia por 26,1, o Estado do Mato Grosso por 13,1 e o Estado do Espírito Santos por 0,8.

Já no ano de 1985 a produção brasileira de borracha natural havia crescido, atingindo 40,3 mil toneladas, enquanto que o consumo interno elevou-se para 102 mil toneladas, havendo ainda um déficit de 60,7 mil toneladas, o que representava um índice negativo de 59,5%, o qual vinha sendo suprido através da importação. Essa situação era considerada bastante crítica ao país, devido principalmente às restrições impostas pelo governo às importações, com o objetivo de melhorar o perfil da balança externa de pagamentos.

O capítulo que se segue procura mostrar as transformações ocorridas na economia brasileira com a adoção da política neoliberal, que redundou em novas articulações políticas no setor da borracha, culminando na criação da Lei do Subsídio.

CAPÍTULO III

O PROCESSO DE ABERTURA DO MERCADO NACIONAL PARA A IMPORTAÇÃO DA BORRACHA NATURAL

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