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A ANÁLISE DE CONTEÚDO ENQUANTO METODOLOGIA: A APRESENTAÇÃO

No documento lucasgamonalbarradealmeida (páginas 75-79)

4. O CENÁRIO DA PESQUISA: A PRODUÇÃO DE MEIA-NOITE EM PARIS E

4.2. A ANÁLISE DE CONTEÚDO ENQUANTO METODOLOGIA: A APRESENTAÇÃO

Nossas principais buscas estão ligadas ao entendimento da representação do espaço urbano, diverso e polifônico, em meio aos produtos culturais. Nessa construção, mais especificamente, nos interessa a relação da comunicação com o turismo, uma vez que a mídia possui capacidade de mediar os interesses e subjetividades dos diversos sujeitos.

Sendo assim, o filme Meia-Noite em Paris surge como interessante objeto de análise, considerando os múltiplos sentidos que revela, além da grande visibilidade que possui, se enquadrando no chamado cinema blockbuster, gerador de múltiplas divisas, tanto para seus produtores, quanto para outros envolvidos, como a iniciativa pública e a privada.

Portanto, considerando as finalidades apresentadas e a caracterização de nosso objeto de estudos, a principal técnica metodológica adotada, em razão de suas principais particularidades, será a Análise de Conteúdo, da psicóloga francesa Laurence Bardin (1977). Nesse sentido, também merecem destaque a revisão bibliográfica e a pesquisa documental, importantes na constituição desse trabalho.

A metodologia utilizada em todo o trabalho segue um roteiro de três grandes fases: com a pesquisa teórica já realizada, direcionamos nossos olhares para o objeto proposto, aproximando-nos via pesquisa documental e, finalmente, infiltrando-nos na pesquisa prática. No exercício dessas etapas, o rigor científico é fundamental e a técnica da Análise de Conteúdo será empregada como forma de melhor apreender o objeto de estudo.

Conforme coloca Bardin (1997, p. 29), o principal intuito em seu uso é o de ir “[...] além de seus significados imediatos”, proporcionando o enriquecimento da leitura por possibilitar um olhar mais atento e a ultrapassagem da incerteza, ao colocar à prova a generalização do que fora levantado. Sendo assim, pelos termos de Bardin, a Análise de Conteúdo pode ser assim entendida:

Um conjunto de técnicas de análise das comunicações, visando obter, por procedimentos, sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens. Pertencem, pois, ao domínio da análise de conteúdo, todas as iniciativas que, a partir de um conjunto de técnicas parciais mais complementares, consistam na explicitação e sistematização do conteúdo das mensagens e da expressão deste conteúdo, com o contributo de índices passíveis ou não de quantificação, a partir de um conjunto de técnicas, que embora parciais, são complementares. Esta abordagem tem por finalidade efetuar deduções lógicas e justificadas, referentes à origem das mensagens tomadas em consideração (o emissor e o seu contexto, ou, eventualmente, os efeitos dessas mensagens). O analista possui à sua disposição (ou cria) todo um jogo de operações analíticas, mais ou menos adaptadas à natureza do material e à questão que procura resolver. Pode utilizar uma ou várias operações, em complementaridade, de modo a enriquecer os resultados, ou aumentar a sua validade, aspirando assim a

uma interpretação final fundamentada25 (BARDIN, 1977, p. 42-43).

Essas técnicas permitirão a formatação do corpus da pesquisa – definido com a coleção finita de materiais selecionados pelo analista e com os quais ele irá trabalhar (BARTHES, 1967, p. 96 apud BAUER et al, 2002, p. 44) – com a criação de categorias para as análises inspiradas na revisão teórica utilizada.

Ainda segundo Bardin (1977), a análise de conteúdo tem o jornalismo como seu primeiro grande objeto, partindo para os demais de forma gradativa. Para ela, desde que se iniciam os trabalhos com as comunicações, pretende-se uma compreensão para além dos seus significados imediatos, com dois grandes objetivos: de “ultrapassagem da incerteza” e “enriquecimento da leitura” (BARDIN, 1977, p. 29).

Tratando mais especificamente dos campos em que a análise de conteúdo pode ser utilizada, a autora traz a diversidade, colocando psicólogos, publicitários, políticos e outros profissionais como possíveis beneficiários de suas técnicas. Nessa argumentação, os diagnósticos de Bourdieu (1983) sobre as propriedades dos campos também nos parecem importantes, pois o autor argumenta que eles são, basicamente, definidos pelo que se estuda e pelo reconhecimento que recebem.

Com relação à importância da AC em meio às pesquisas da comunicação, Herscovitz (2008) defende:

Se uma parte da humanidade desaparecesse amanhã, mas restassem livros, jornais, revistas, vídeos, filmes, CDs e DVDs, [...] teríamos o material necessário para interpretar a vida social de uma época. A análise de conteúdo da mídia seria um dos métodos mais eficientes para rastrear esta civilização por sua excelente capacidade de fazer inferências sobre aquilo que ficou impresso ou gravado (HERSCOVITZ, 2008, p. 123).

25 O texto original se encontra em português de Portugal e, por isso, realizamos algumas adaptações ao idioma

Com o uso da AC, será possível analisar os textos e imagens apresentados nas obras, bem como os discursos dos personagens da trama. Além disso, o uso da Análise de Conteúdo indica a criação de categorias para uma melhor estruturação da pesquisa e, assim, essa ferramenta permitirá que determinadas constantes ou variáveis sejam identificadas e examinadas, com base nos objetivos específicos propostos.

Como a AC pode ser uma análise dos significados ou dos significantes, o tratamento descritivo torna-se importante. Além disso, o analista, na realização de seu trabalho, é considerado como aquele que delimita as unidades de codificação ou de registro. Essa análise

categorial, por sua vez, leva em consideração a totalidade do texto, passando pelo crivo da

classificação e do recenseamento, segundo a frequência de presenças (ou ausências) de itens de sentido.

Ainda outra consideração acerca da preparação da pesquisa é importante. Como sinaliza Bardin (1977, p. 39), “o analista é como um arqueólogo” e trabalha com os diversos vestígios e detalhes de seus objetos. Ela ainda completa, dizendo que “[...] tira partido do tratamento das mensagens que manipula, para inferir [grifo da autora] (deduzir de maneira lógica) conhecimentos sobre o emissor da mensagem ou sobre o seu meio, por exemplo”. Portanto, a fala se encaixa ao que viemos construindo até aqui, também pensando o contexto de produção de Meia-Noite em Paris.

Por fim, outra caracterização da análise de conteúdo de Bardin deve ser explicitada. Trata-se da organização da análise em três polos cronológicos: (1) a pré-análise; (2) a exploração do material e (3) o tratamento dos resultados, a inferência e a interpretação. Nesse sentido, podemos dizer que o trabalho realizado até aqui corresponde à primeira etapa, em que se organiza o material a ser analisado, a fim de torná-lo operacional e sistematizado aos nossos objetivos, que, nesse percurso, também são estruturados de forma aperfeiçoada.

Ainda nessa etapa buscamos construir as hipóteses da pesquisa, que ainda poderão ser incrementadas no decorrer dos processos de busca. Também durante essa etapa, realizamos a referenciação dos índices e a elaboração dos indicadores, de que falaremos adiante. Na conclusão dessa fase, o material deve estar selecionado e preparado, a fim de que possamos dar prosseguimento aos próximos passos (2) e (3).

Aqui, então, nos cabem algumas perguntas, para as quais vislumbramos respostas: qual Paris é representada por Woody Allen, uma cidade moderna ou pós-moderna? Que elementos são negligenciados na apresentação das imagens? Quais espaços/monumentos são privilegiados? Qual éthos da cidade é construído e ressaltado? Essas questões norteiam a construção de nossas análises.

Portanto, na pesquisa que apresentamos, não serão analisadas exclusiva e isoladamente as falas dos personagens, mas sim todo o cenário arquitetado por seu autor e contexto de produção, mesclando, ainda, os itens de codificação relacionados ao corpus do trabalho. Sendo assim, as três principais categorias pré-definidas serão “Cidade e Monumentos”, “Cidade e Personagens” e “Cidade e Tempos”, a fim de identificarmos quais atributos de Paris são destaque. A última categoria citada buscará verificar as três principais marcas temporais apresentadas no filme: (1) o presente; (2) os anos 1920 – período de ouro para o protagonista Gil Pender e (3) a Belle Epoque – época em que a personagem Adriana sonhava em viver e para a qual viajam, ela e o protagonista.

O próximo capítulo, então, trará a exploração do material (etapa cronológica 2) e o tratamento dos resultados obtidos e interpretação (etapa cronológica 3), seguindo os pressupostos lançados por Laurence Bardin. Para isso, o filme Meia-Noite em Paris será analisado por meio da “regra da exaustividade” (BARDIN, 1977, p. 97), em que todas as cenas da película são detalhadamente observadas.

Nesse sentido, é importante mencionar que algumas delas receberão maior destaque, por entendermos uma maior expressividade e representatividade sobre as discussões que desejamos trazer, principalmente relacionada às apropriações midiáticas realizadas pela indústria do turismo sobre a representação da “Cidade Luz”.

5. A CIDADE QUE EMERGE EM MEIA-NOITE EM PARIS E AS APROPRIAÇÕES

No documento lucasgamonalbarradealmeida (páginas 75-79)