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1 BASES OPERACIONAIS: A METODOLOGIA DE PESQUISA

1.2 A técnica de coleta e de análise dos dados

1.2.2 A análise dos dados: a análise de conteúdo

A análise é definida como um conjunto de técnicas de análise das comunicações, que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens.

A Análise de Conteúdo é um método sistematicamente utilizado na pesquisa qualitativa desde meados da década de 1950. Foi através da elaboração de seus conceitos fundamentais e da sistematização técnica de seu emprego pela obra de Laurence Bardin (1977) que esta metodologia expandiu-se e foi ganhando adeptos.

Os domínios possíveis da aplicação da análise de conteúdo podem ser classificados em: linguístico (Escrito ou Oral), icônico (sinais, grafismos, imagens, fotografias, filmes e etc.) e relativo a outros códigos semióticos (música, comportamentos, sinais patológicos, etc.). Nestes domínios podemos implicar a comunicação com quantidades diferentes de pessoas: uma pessoa (monólogo), comunicação dual (diálogo), grupo restrito ou comunicação de massa. Nosso trabalho focará na linguagem oral de comunicação dual.

Essa análise consiste em

um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variantes inferidas) destas mensagens” (BARDIN, 2010, p. 44).

Como proposta de procedimento metodológico, a Análise de Conteúdo predomina na abordagem voltada à atividade do indivíduo, criador de seu conhecimento com base em suas experiências pessoais, sociais e em seus valores. Esta proposta recupera o caráter histórico de cada realidade individual, além de assentar-se, também, nos pressupostos de uma concepção do dinamismo interacional que se estabelece entre linguagem, pensamento e ação.

A análise de conteúdo pode ser estruturada de diferentes maneiras, tais quais:

1. análise temática: quando dividimos o texto em alguns temas principais (que se poderá aperfeiçoar, eventualmente, em subtemas se o desejarmos);

2. características associadas ao tema central: quando nos concentramos mais ao tema geral de investigação;

3. análise sequencial: quando a entrevista é dividida em sequências, ou seja, “critérios semânticos (organização da sequência em torno de um tema dominante), mas também estilísticos (ruptura de ritmos, operadores gramaticais)” (BARDIN, 2010, p.97); 4. análise das oposições: quando dois universos opostos defrontam-se no discurso; 5. análise da enunciação: no qual podemos observar:

a) “a evolução do estilo (comprimento, conclusão ou não das frases, nível de correcção ou de familiaridade da linguagem) em função do conteúdo abordado pelo locutor” (BARDIN, 2010, p.101). A autora esclarece que “esta variação estilística fornece uma luz diferente sobre o modo como o entrevistado sente

aquilo que exprime” (op.cit., p.101, grifo da autora);

b) a alternância do uso do „nós‟, do „isso‟ (colocação a distância, generalização) e do

„eu‟, „mim‟ (reaproximação, investimento pessoal).

No presente estudo, focalizamos na modalidade temática, cuja asserção sobre determinado assunto, pode ser representada por uma simples sentença, um conjunto delas ou um parágrafo. Incorpora, também, com maior ou menor intensidade, o aspecto pessoal atribuído pelo respondente acerca do significado de uma palavra e/ou sobre as conotações atribuídas a um conceito, e envolve não apenas componentes racionais, mas também, ideológicos, afetivos e emocionais. Por meio dessa modalidade, podemos obter um grande número de respostas permeadas por diferentes significados (BARDIN, 2010).

A técnica de análise de conteúdo proposta porBardincompreende três etapas, a saber: 1) Pré-Análise: realiza-se a transcrição integral das entrevistas, ou seja, os dados são

organizados fisicamente e “tem por objectivo tornar operacionais e sistematizar as

operações sucessivas, num plano de análise” (BARDIN, 2010, p.121). É realizada a primeira leitura do material (leitura flutuante) e pode ser o momento em que surgem as primeiras impressões e hipóteses para as discussões seguintes.

Para a autora, esta primeira fase constitui, geralmente, três missões: a escolha dos documentos a serem submetidos à analise, a formulação das hipóteses e dos objetivos e a elaboração de indicadores que fundamentem a interpretação final.

2) Exploração do Material: realiza-se a codificação dos dados. Na análise de conteúdo, essa codificação “corresponde a uma transformação efectuada segundo regras precisas dos dados em bruto do texto, transformação esta que, por recorte, agregação e enumeração, permite atingir uma representação do conteúdo, ou da sua expressão; susceptível de esclarecer o analista acerca das características do texto, que podem

servir como índices” (BARDIN, 2010, p.129).

Essa codificação permite a organização do texto em categorias. Para Bardin (2010), as

categorias pretendem “tomar em consideração a totalidade de um texto, passando-o pelo crivo

da classificação e do recenseamento, segundo a frequência de presença (ou não) de itens de

sentido” (p.38). A autora destaca também que as categorias são “espécies de gavetas ou

rubricas significativas que permitem a classificação dos elementos de significação

constitutivos na mensagem” (p.39).

Sob um título genérico, um grupo de elementos comuns é agrupado e comporta as seguintes etapas: a) “o inventário, ou seja, isolar os elementos; e b) a classificação, ou seja,

repartir os elementos, e portanto procurar ou impor uma certa categorização às mensagens”

(BARDIN, 2010, p.146).

As categorias, por sua vez, são organizadas em unidades de registro e contexto: a. Unidades de Registro (UR): segmento de conteúdo para a categorização e a contagem

frequêncial, se for o caso. No nosso estudo, a unidade de registro a ser adotada será o

„tema‟, definido como “a unidade de significação que se liberta naturalmente de um texto” (BARDIN, 2001, p.14). Ressaltamos que a contagem frequencial não se

caracterizará como condição essencial, pois os extremos serão considerados e poderão incitar discussão significativa com a literatura.

b. Unidades de Contexto (UC): segmentos do texto ou mensagem que confirmam as unidades de registro que, no caso, serão uma palavra, um conjunto de palavras, uma frase, algumas frases ou um parágrafo.

No apêndice I, encontramos o termo de consentimento livre e esclarecido e no anexo III, o roteiro elaborado para a realização das entrevistas posteriormente analisadas.

2 BASES EPISTEMOLÓGICAS: POR UM NOVO PARADIGMA PARA