• Nenhum resultado encontrado

A animação vai aos quartos

No documento “Com-Tato” (páginas 63-66)

4. Projeto de intervenção

4.5. A animação vai aos quartos

A atividade “A animação vai aos quartos”, enquanto atividade de ocupação do tempo de idosos dependentes e acamados, tinha como objetivos aumentar a satisfação e a qualidade de vida, promover momentos de lazer e a promoção da comunicação. Tendo em conta que o projeto de intervenção se desenvolveu no sentido de melhorar a qualidade de vida dos seus participantes esta atividade pretendia, para além da sua vertente ocupacional, contribuir para estimular cognitivamente os seus participantes.

Tal como se pode verificar, em estudos realizados, para que se proporcione um envelhecimento saudável em contexto de ERPI, é necessário considerar um conjunto de atividades grupais, bem como individuais (Rebelo & Ganga, 2015), e a manutenção das capacidades cognitivas visa o aumento da atividade cerebral, retarda os efeitos da perda de memória e previne o surgimento de doenças degenerativas (Jacob, 2007 cit em Rebelo & Ganga, 2015). Neste sentido, de forma a implementar atividades com idosos mais dependentes, delineou-se uma atividade que consistiu nas primeiras sessões, na visita aos quartos dos participantes para que, em conversa com os mesmos, se percebesse as suas necessidades e preferências.

Esta atividade decorreu de fevereiro até maio, duas vezes por semana para um dos participantes, e todos os dias da semana para o outro. O trabalho desenvolvido inicialmente

58

com o primeiro participante consistia em jogar dominó com o mesmo no seu apartamento. Depois de duas sessões considerou-se que o idoso poderia sair do apartamento e ir para o “Ateliê de saberes” (sala onde ocorriam quase todas as atividades da ERPI) para interagir com outros residentes. Tendo em conta que a experiência correu bem, as seguintes atividades desenvolvidas deixaram de ser no seu apartamento e foram sempre em conjunto com outros idosos em locais como o solário e o “Ateliê de saberes”. As atividades de estimulação realizadas pelo participante também variaram e este construiu puzzles, leu o jornal, executou exercícios escritos (embora com muita dificuldade) e manteve o seu jogo de dominó presente jogando sempre pelo menos uma vez em cada sessão. Apesar da sua extrema debilidade física, foi possível constatar que, ao longo das sessões em que participou, se esforçava para concretizar o que lhe era proposto e desfrutava daquele momento mostrando-se bastante satisfeito e participativo.

Relativamente ao trabalho desenvolvido com o segundo participante, este consistiu inicialmente na leitura de revistas e jornais. Após algumas visitas ao seu apartamento, em contexto de conversa informal, percebeu-se que este residente gostaria de sair do apartamento. Uma vez que foi facultada a informação de que esta residente já não saía do seu apartamento há quase um ano, saía apenas para ir a consultas ou tratamentos, considerou-se importante ter criado oportunidade de a retirar de uma situação de isolamento. Fazer com que a mesma saísse para passear e participar noutras atividades do “Ateliê de conhecimento”, do “Ateliê de saberes” (atividade desenvolvida pelo centro), e participar numa das missas que são realizadas 1 vez por mês na instituição foi satisfatório. Infelizmente, nas últimas sessões desta atividade este participante começou a recusar sair do seu apartamento e terminou-se a atividade a ler-lhe jornais e revistas como se fazia inicialmente.

Avaliação da atividade:

Através das notas do diário de bordo e da observação desta atividade entende-se que os participantes aderiram às atividades propostas com gosto e entusiasmo. Verificou-se um aumento na satisfação e qualidade de vida de ambos e uma promoção de momentos de lazer e ocupação do tempo. O facto de terem saído dos seus aposentos e terem realizado outras tarefas para além das que eram propostas promoveu a interação e o contacto com outros residentes e potenciou a sua autonomia.

59

Esta atividade ajudou os seus participantes a manterem-se ativos e ocupados e os seus resultados foram surpreendentes pelo facto de ambos terem saído dos seus apartamentos e terem experimentado conviver com outros residentes e participar em atividades que inicialmente não faziam parte do que estava planeado. Bem como estimularam capacidades e desenvolveram novas aprendizagens em espaços pouco utilizados na ERPI (solário).

Reflexão sobre a atividade “A animação vai aos quartos”:

Enquanto elementos facilitadores na implementação desta atividade destacam-se os participantes. Isto porque, desde a primeira vez que se propôs esta atividade, que demonstraram interesse e entusiasmo em participar. Mais uma vez contou-se com a ajuda da Psicóloga da instituição e da Responsável das Atividades no sentido de esclarecer que tipo de jogos e leituras poderiam ser realizados tendo em conta o gosto dos participantes e a estimulação cognitiva que seria trabalhada através dos mesmos.

Enquanto dificuldades aponta-se o tempo limitado para fazer atividades com estes residentes. isto porque, sendo idosos dependentes e acamados, estavam sujeitos a horários para a higiene, para os cuidados de alimentação, para os serviços de fisioterapia, para as visitas dos familiares, etc. Isto fez com que muitas vezes existissem interrupções nas atividades que se estavam a desenvolver. Mesmo assim concretizaram-se as atividades previstas bem como os objetivos das mesmas. Pode-se até salientar que os resultados foram melhores do que o esperado. Isto porque, ao desenvolver o projeto de intervenção, pensou- se que esta atividade seria realizada apenas no apartamento dos participantes. Ao longo das sessões percebeu-se que existia a possibilidade de fazer as atividades noutros locais do centro e, depois de compreender junto dos participantes se gostariam de o fazer, pediu-se autorização à direção técnica da instituição. Depois de autorizada esta situação foi possível criar momentos altamente prazerosos com estes participantes durante os seus pequenos “passeios” em que usufruíam de atividades e interações com outros residentes.

Uma avaliação global dos resultados obtidos nesta atividade sugere que devem ser desenvolvidas mais atividades para idosos dependentes e acamados uma vez que, através destes exemplos, verifica-se que existe a possibilidade de tirar idosos dos seus quartos e das

60

suas camas (onde normalmente estão sempre os idosos considerados dependentes e acamados), e melhorar a sua qualidade de vida a partir de tarefas simples como realizar um jogo do seu gosto, fazer-lhe leituras da sua preferência, dar um pequeno passeio (nem que seja apenas pelos corredores da ERPI caso as suas condições de saúde o permitam) ou apenas falar um pouco com eles. Desta forma pode-se garantir que, apesar dos problemas de saúde que o idoso sinta, não está condenado ao isolamento e à falta de interação tão fundamental à preservação da sua identidade.

No documento “Com-Tato” (páginas 63-66)

Documentos relacionados