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CAPITULO 2 WENCESLAU ENCORAJA A OPOSIÇÃO

2.7 A ANISTIA

Derrotado em plenário o projeto de uma intervenção no Espírito Santo, começou-se a tratar das conseqüências políticas que daí resultariam. A disputa política no Espírito Santo causara profunda divisão entre os mais importantes coronéis e líderes políticos municipais. Parte da população fora desterrada. Em Colatina, centenas de famílias haviam fugido para Minas Gerais na companhia dos líderes da revolta. O mesmo acontecera em outros municípios situados na linha de divisa com o Estado vizinho, principalmente na região do Caparaó e no Alegre. Temiam-se represálias no retorno. O presidente da República e o próprio Congresso Nacional sabiam que a deliberação tomada não escapava das controvérsias que ganharam profusão na imprensa do Rio de Janeiro, onde já estavam os coronéis Alexandre Calmon, Martinho Barbosa e Seraphim Tibúrcio e respectivas famílias.106

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Os 15 votos favoráveis à intervenção foram dados pelos deputados: João Elysio, Julio de Mello, Costa Rego, Leão Velloso, Paulo de Mello, Dioclécio Borges, Barbosa Lima, Vicente Piragibe, Faria Souto, Maurício de Lacerda, Mario de Paula, Alaor Prata, Bueno de Andrada, Antunes Maciel Júnior e Rafael Cabeda.

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Em Colatina, dia 29 de julho, o capitão, Primo Feliciano dos Santos, telegrafou a Bernardino Monteiro informando que a oposição abandonara completamente a vila.

Os que ficaram no Estado estavam mantidos sob dura perseguição policial. Os que se esconderam eram processados à revelia. A oposição logo começou a responsabilizar o Congresso Nacional pela insegurança a que ficaram sujeitos aqueles que se opuseram à oligarquia monteirista. Foi então que o senador João Luís Alves recorreu à idéia de uma anistia que protegesse os perseguidos. Mas, para ser aceita, a alternativa deveria ser subscrita por, pelo menos, a metade dos senadores. O número mínimo foi obtido no dia 29 de agosto de 1916.107 O decreto de Anistia teve um só artigo e a votação aconteceu logo no dia primeiro de setembro:

O Congresso Nacional decreta:

Artigo Único - São anistiados todas as pessoas envolvidas em fatos políticos e conexos, passíveis de sanção penal, ocorrido no Estado do Espírito Santo, em virtude da sucessão presidencial do mesmo Estado, desde 1 de janeiro deste ano até a presente data; revogadas as disposições em contrário.

A anistia foi aprovada por unanimidade, com dispensa da votação da redação final. A matéria foi imediatamente enviada à Câmara dos Deputados, onde o deputado pernambucano Júlio de Mello pediu regime de urgência. Seria também aprovada e sancionada no dia 22 de setembro. A única crítica ao decreto de Anistia aprovado no Senado Federal foi feita no dia 30 de agosto, na Câmara dos Deputados, exatamente por Jerônimo Monteiro. (ANAIS DA CÂMARA DOS DEPUTADOS, v. VII, 31.8.1916, p. 993)108 Era a primeira vez que ele se manifestava em plenário sobre o Caso do Espírito Santo. Justificou sua ausência nos debates anteriores dizendo que não quis interferir na decisão da Casa, pois estava seguro de um resultado que lhe seria favorável. Além disso, havia o seu estado de saúde precário, que o impedia. No entanto, no dia 31 de agosto, Jerônimo Monteiro falaria por horas no plenário, aparteado por alguns membros da oposição e por parlamentares de outros estados,

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Subscreveram o projeto de anistia os seguintes senadores: João Luís Alves, João Lyra, Costa Rodrigues, Araújo Góes, Cunha Pedrosa, Lauro Sodré, José Euzébio, Soares dos Santos, Vitorino Monteiro, Ribeiro Gonçalves, Abdon Baptista, Hercílio Luz, Gonzaga Jayme, Bueno de Paiva, Manoel Gomes Ribeiro, Francisco Sá, José Murtinho, Abdias Neves, Vidal Ramos, Eloy de Souza, Xavier da Silva, Pereira Lobo, Lopes Gonçalves, Rivadávia Corrêa, Alcindo Guanabara, Pires Ferreira, Índio do Brasil, Irineu Machado e L. de Bulhões.

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“Ontem, surge esse projeto desacompanhado de maiores comentários e só visando modificar a má situação daqueles que se excederam na longa e custosa luta política.” Jerônimo Monteiro, em discurso feito dia 31 de agosto de 1916. (ANAIS DA CÂMARA DOS DEPUTADOS, 31.8.1916, v. VII, 1916, p. 993).

sempre cobrando dele resposta às acusações que pesavam contra a sua oligarquia. Novamente alegando problemas de saúde, ele interrompeu o pronunciamento deste dia, para retomá-lo no dia 4 de setembro.

Jerônimo Monteiro fez, então, um relato dos fatos, segundo sua versão. Atacou o presidente da República pela proteção conferida aos oposicionistas109 e salientou o sentido da sua ação: “Defender a autonomia da nossa terra, que, para se dirigir e se conduzir, não precisa da intervenção estranha.” Entretanto, não se referiu, sequer uma vez, ao trabalho político feito pelo senador mineiro Francisco Antonio Sales em favor da sua oligarquia no Caso do Espírito Santo. O líder oligarca criticou a demissão e remoção de funcionários públicos federais ligados ao monteirismo e a “larga distribuição de suas patentes da Guarda Nacional,” permitindo que a oposição passasse a contar com muitos alferes e coronéis durante a disputa política de 1916. Mencionou também a rescisão “violenta e arbitrária” do contrato do Lloyd Brasileiro com a empresa de Antenor Guimarães & Comp. Segundo ele, o governo federal contratou o concorrente, Manoel Pinto de Mesquita, para o trabalho de estiva no Porto de Vitória porque este cidadão era um “excelente fornecedor de recursos para a causa adversária” do governo estadual. Antenor Guimarães, de acordo com Jerônimo Monteiro, foi punido apenas por ser “fiel ao seu partido político no Estado.”

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Jerônimo Monteiro criticou especialmente o ministro da Viação e Obras Públicas, Augusto Tavares Lyra (que no período foi ministro interino da Justiça) por ele ter franqueado a transmissão de telegramas para os oposicionistas. O ministro havia solicitado à direção da Vitória a Minas, em 7 de abril, a franquia para o trabalho da Justiça Federal, mas na prática isso deu vantagem à oposição.

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