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Capitulo IV: "MERCOSUL e a Dimensão Homem Natureza : Alguns

4.4 A Argentina e a Perspectiva de

Situada no extremo sul do Continente Sul-Americano, a Argentina, com uma população de 32,37 milhões de habitantes, ocupa uma área de 2.776.889 km2 entre a Cordilheira dos Andes e o Oceano Atlântico. Limita-se ao norte com a Bolivia, Paraguai e Brasil; a nordeste com o Uruguai; a leste com o Atlântico; e a oeste com o Chile.

Dos quase 2,8 milhões de km2 do território argentino, aproximadamente 90% corresponde a ecossistemas naturais com diversos e distintos niveis de degradação ambiental, podendo-se distingui-los entre a pecuária extensiva nas pastagens naturais, atividade florestal acompanhada de pecuária, atividade agropecuária e atividade exclusivamente agricola.

A atividade agropecuária concentra-se em quase sua totalidade em uma área que conjuga o melhor clima e os melhores solos : o Pampa Húmeda, que se situa a oeste e sul da capital Buenos Aires, sendo a região que agrupa a maior parte da população, do comércio e da indústria do pais.

A origem dos problemas ambientais que atingem os centros urbanos da Argentina, tem procedência distinta.

0 crescimento intensivo, descontínuo e em baixas densidades, e a ocupação de áreas inadequadas condicionam o perfil desses problemas ambientais urbanos, sendo que os mais frequentes são : deficiência no sistema de distribuição de água potável em quantidade e qualidade suficiente;.carência de sistemas de tratamento de água; falta de controle sobre a poluição industrial; escassez de espaços verdes para o lazer.46

Os efeitos desses problemas, segundo o Informe

Nacional para a CNUMAD-92, organizado e elaborado pela

Comision Nacional de Politica Ambiental da Argentina, além de

afetarem diretamente a saúde da população, acarretam a deterioração dos recursos naturais. 47

E evidente que o resultado final desses problemas, tem o seu reflexo social através da falta de atendimento das condições básicas, como saúde, educação, alimentação, moradia, que numa perspectiva maior leva ao incremento da pobreza.

No tocante a esse aspecto, cumpre ressaltar que a Argentina, que era até pouco tempo atrás, o país latino-americano menos afetado pela pobreza, apresenta, hoje, uma situação totalmente inversa. A Argentina é o único país da região no qual o crescimento da pobreza se processou de forma sistemática e persistente a partir de 1986, segundo dados da CEPAL de 1991.4B

No que concerne aos aspectos legislativos e institucionais, cumpre salientar que a Argentina apresenta uma estrutura federativa, n a .qual as provincias : "m..son las

titulares originales de los poderes públicos, delegando

ciertas y determinadas potestades en el Gobierno Nacional. "4e

Tendo em vista essa organização política, a distribuição entre as competências nacionais e das províncias são todas oriundas da Constituição Nacional, que foi sancionada em 1853, e no que se refere à temática ecológica, àquela época, esta ainda não era considerada como uma questão relevante e passivel de regulamentação.

Para que o teor do parágrafo que explicita esse tópico, não perca o seu fiel propósito em função da tradução, vale citar o mencionado trecho do relatório argentino para a Rio-92 :

En síntese, la cuestion ambietal cae dentro dei amplio campo de situaciones, donde se reconoce que existen facultades concurrentes de la NAcion y las Províncias, tornándose necesario cuando se requiere legislar en la mayoria de los aspectos ambientales, recurrir al mecanismo de las leyes de adhésion,

dictada por el Gobierno Nacional, que son de

aplicaciôn obligatoria en la Capital Federal y

abiertas a su adopción por las Legislaturas

De forma conclusiva, percebe-se, num primeiro momento, não existirem preceitos normativos na legislação argentina que amparem de forma expressa, plena e abrangente a questão ambiental. 0 que há são leis específicas, voltadas para um tema em particular, como o aproveitamento e uso dos recursos naturais ou ainda manuales que regulam a operação ambiental das centrais hidroelétricas e térmicas.51

Com respeito à institucionalização da temática ambiental, esta só começa a ganhar espaço em 1985, com a criação do primeiro organismo ambiental argentino vinculado à Presidência da República : la Subsecretaria de Política Ambiental, cujo objetivo era :

entender en el assessoramiento al Primer Magistrado sobre el disefío y permanente actualización de la política dei Poder Ejecutivo Nacional en matéria de medio ambiente. 'S2

Em 1989 entra em vigor a Comisión Nacional de

Política Ambiental - CONAPA, com a missão de assessorar o

Poder Executivo em assuntos pertinentes ao meio ambiente, bem como coordenar a aplicação das políticas ambientais nas distintas áreas da administração pública nacional.

Vale ressaltar que essas foram ações e medidas de cunho nacional. No que se refere às provincias, a criação da SERNAH - Secretaria de Estado de Recursos Naturais e Ambiente Humano em 1973, desencadeou o surgimento de repartições, cujo grande mérito foi o de difundir a consciência ambiental.

Como resultado imediato dessa tarefa, a partir da década de 80, com a reformulação das Constituições das Provincias argentinas, muitos preceitos ambientais foram consagrados. Não obstante, a situação institucional do meio ambiente na Argentina, não está consolidada, como consta do relatório para a Rio-92, base para a presente análise :

"Como síntesis de la situaciõn institucional, puede destacar-se gue nos encontramos ante un proceso positivo y paulatino de consolidaciõn (...) Resta

concretar formas constitucionales eficaces de

vinculación con los restantes organismos

nacionales con incumbência ambiental (...)

eliminar las superposiciones de incumbência y

responsabilidades fortaleciendo al máximo organismo de política ambiental. 'S3

Dessa avaliação, surge uma perspectiva que torna ainda mais difícil verificar em que medida e de que forma se enquadra a atuação da política ambiental argentina.

A política ambiental está inserida num contexto politico-econômico cuja ênfase está voltada para reverter o estado de estagnação da economia argentina.

Entretanto, por não ser o objetivo desse trabalho questionar as diretrizes econômicas da Argentina, essa questão não será prioritária, mas cumpre salientar que, apesar do enfoque desenvolvimentista anunciado, a tese do desenvolvimento sustentável está expressa no relatório para a Rio-92, como parte integrante de qualquer proposta de crescimento econômico.

0 que resta verificar é como se processará a implementação do marco ambiental, uma vez que os mecanismos juridico-institucionais não estão presentes - até o momento - na realidade sócio-político-econômica da Argentina.

Para tanto, a política ambiental está dividida em três segmentos : políticas corretivas, cujo objetivo é reverter os principais problemas ambientais encontrados no pais; políticas de desenvolvimento, destinadas a transformar as atividades produtivas cuja base é a exploração do meio ambiente em atividades de preservação ambiental e por último, as políticas estruturais, cuja função é a de criar a infraestrutura político-jurídico-social para viabilizar a totalidade das politicas ambientais na Argentina.54

Todas essas idej^s defendidas são válidas e louváveis. Porém, tendo em vista o objetivo do presente capitulo, que é o de verificar a existência de políticas ambientais no âmbito dos quatro países que integram o MERCOSUL, como estas se processam, atuam, sua aplicabilidade e viabilidade, bem como a existência de legislação pertinente ao tema, cumpre constatar que a Argentina - com base no

Informe Nacional para,a Rio-92 - não dispõe de uma política

ambiental viável, exatamente por ainda não apresentar uma legislação uniforme que contemple a proteção ambiental. Como atesta o relatório argentino :

. . -hay que destacar algo ya expresado

formalmente, la cuestión ambiental es ignorada como

tal en la Constitución Nacional, a diferencia de

numerosas Constituciones Provinciales, que por ser de dictado o reforma más recente„ la han incorporado de distinto modo y con diversa extensión.

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