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A arquitetura para ambientes pediátricos

No documento julianasimilideoliveira (páginas 50-53)

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.3. A CRIANÇA E O ADOLESCENTE

2.3.2. A arquitetura para ambientes pediátricos

Constatadas algumas das dificuldades enfrentadas pelos pacientes pediátricos e seus familiares frente à hospitalização, verifica-se então a necessidade de se proporem meios que os levem a elaborarem suas experiências, ordenando seus sofrimentos e frustrações e possibilitando que eles expressem seus sentimentos em relação ao momento tão particular que estão vivendo. Um desses meios consiste em mecanismos arquitetônico-espaciais, que são capazes de facilitar o processo de humanização nos ambientes pediátricos, sem esquivar-se da funcionalidade e praticidade indispensáveis aos ambientes de saúde. Neste sentido, o ambiente pediátrico deve atender às demandas dos pacientes (sejam eles crianças ou adolescentes), às de seus familiares e também às dos funcionários do setor.

Ao arquiteto, então, cabe propor situações físico-espaciais que minimizem o desconforto, projetando ambientes de descanso, tranquilidade e relaxamento, o que permitirá que o paciente se sinta mais confiante e que tenha melhores condições de recuperação. Segundo Sampaio et. al. (2010), vários estudos têm mostrado a relação direta do ambiente hospitalar com os resultados dos pacientes, uma vez que ambientes agradáveis diminuem a ansiedade e a dor, interferindo na cura. É necessário, ainda, que tais ambientes de saúde sejam capazes de estimular a equipe de profissionais a prestar um atendimento de melhor qualidade, resultando em um maior rendimento, mais produtividade, segurança e maior satisfação ao profissional que desempenha melhor a sua função (SAMPAIO et. al., 2010).

Visto que a percepção da hospitalização em crianças e adolescentes é diferente da dos adultos, uma vez que estes apresentam outras necessidades, os espaços que abrigam essas relações também devem ter propostas arquitetônicas diferenciadas. Segundo Bergan et. al. (2009), quando o espaço é projetado para a criança, a hospitalização pode ser percebida mais positivamente, sendo um auxiliar no processo de cura. Neste sentido, em arquitetura para ambientes de saúde pediátricos, deve-se ter o objetivo particular de torná-la menos normativa e aproximando-a do universo da criança, sobretudo quando se nota que a criança doente é naturalmente frágil e vulnerável (OLIVEIRA, op. cit.).

De acordo com Carvalho et. al.(2006), os exemplos da inclusão do lúdico em hospitais demonstram que a forma de atendimento em Estabelecimentos Assistenciais de Saúde atravessa um momento de transformação, em que se deixa de focalizar apenas a doença para enxergar o indivíduo como um todo, englobando na prestação de assistência, cuidados psicológicos, sociais e culturais, ao invés de se deter aos aspectos físicos do paciente. Ainda

ressalta Oliveira (1993), que o conjunto de propostas que englobam a humanização responde a uma questão crucial levantada por uma abordagem mais integral da enfermidade na infância: a criança hospitalizada apresenta outras necessidades, não médicas, que precisam ser atendidas com igual relevância.

Como vimos anteriormente, ao ser hospitalizada, a criança deixa tudo o que lhe é próximo e particular: sua casa, seus familiares, seus amigos, as brincadeiras, a escola e os seus animais de estimação. Ela se depara, então, com um ambiente hospitalar asséptico, que se apresenta como sendo estranho e ameaçador (CARMO, 2008). Assim, o ambiente pediátrico humanizado busca contrapor a essa imagem pré-concebida, incorporando elementos ricos em estímulos, que apresentem cores, formas, espaços, além de proporcionarem facilidades para o ato de brincar.

De acordo com Almeida et. al. (2007) e Carmo (2008), o brincar em uma unidade hospitalar pode fortalecer vínculos entre a criança, os familiares e a equipe hospitalar, proporcionando um processo rápido de conhecimento do paciente e suas necessidades, além de ativar e estruturar relações humanas. Possibilita transpor limitações impostas pela doença e pela hospitalização como um sinal de saúde, já que sendo o lúdico uma atividade prazerosa acaba por contrapor-se à rotina dolorosa da internação. Assim, a criança é levada a um lugar democrático onde ocorre a valorização das experiências individuais e as possibilidades de escolhas, uma vez que é a criança quem dirige a atividade, quem cria, inventa, transforma, constrói e se expressa, tendo suas escolhas respeitadas.

Além do lúdico, a família apresenta-se como um importante elemento para processo de humanização da assistência à saúde. No caso particular do paciente pediátrico, é ela quem participa do apoio social, assumindo um papel de parceria no desenvolvimento do paciente e tornando-se um importante recurso para o enfretamento da hospitalização, que passa a considerar a criança e não mais a doença como foco (CARMO, 2008). Tendo em vista tal constatação, a permanência dos pais foi assegurada como direito no Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, 1990):

(...) os estabelecimentos de atendimento à saúde deverão proporcionar condições para a permanência em tempo integral de um dos pais ou responsável, nos casos de internação de criança ou adolescente.

Outro aspecto que se deve considerar no planejamento de enfermarias pediátricas é a situação do adolescente. Apesar de estes serem vistos como um importante grupo que, como as crianças também requerem cuidados especializados, ainda não há unidades de internação

específicas. A maioria das instituições hospitalares não possui infra-estrutura física para receber o adolescente, sendo estes então deslocados de seus contextos, já que ou são hospitalizados em enfermarias pediátricas ou então em enfermarias de adultos, acarretando dificuldades maiores de aceitação, pois não se sentem adaptados ao cenário em que se encontram (ALMEIDA et. al., 2005).

O desafio é pensar ambientes pediátricos como lugares que espelhem significados que deem continuidade ao vivido no cotidiano, isto é, fora do hospital, em tese, com espaços físicos adequados às crianças e também aos adolescentes e que, associados à atuação dos profissionais de saúde, possam contribuir para a redução do período de internação das mesmas no hospital. Durante sua permanência nos EAS é importante que haja uma abordagem particularizada, fazendo-se necessária uma atuação que busque diminuir os efeitos da doença e do seu tratamento no cotidiano natural da vida dos pacientes. Neste aspecto, o ambiente deve ser apropriado para as especificidades da faixa etária para que, então, o espaço possa funcionar como uma ferramenta terapêutica, reduzindo a distância entre o paciente e o hospital, já que a criança e o adolescente tendem a associá-lo com o próprio lar.

No documento julianasimilideoliveira (páginas 50-53)

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